domingo, 22 de dezembro de 2013

1263 - HIROSHIMA O DIA SEGUINTE (COMPLETO E DUBLADO)


1263
"EM 6 DE AGOSTO DE 1945 ÀS 8 HORAS E
15 MINUTOS DA MANHÃ. Já premiste o botão que fez
descer 6 milhões de graus centígrafos de morte e erguer da
terra um belo clarão, enorme, deslumbrante...  E mais tarde,
os pés no vazio, quando souberes que em poucos segundos,
sob as tuas asas, desde as ruas e jardins do centro, até aos
campos em redor; homens, mulheres, crianças e animais
foram varridos por um vento que pulverizou tudo o que
encontro no seu caminho. Que alguns sobreviveram gritando,
queimados de morte, entre cinzas e cascalho. Que os arrozais
perderam a verdura e a relva ardeu como palha seca... Número
total de mortos!... cerca de 70 mil, belo clarão, um belo clarão...
enorme, sábio, deslumbrante... A teu lado alguém pergunta:
Meu Deus, o que fizemos?!..."
         HIROXIMA,  MEU AMOR...               

1262 - "UR" DOS CALDEUS

1262
EVIDÊNCIAS "UR" DOS CALDEUS

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

1257 - MONSANTO, BEIRA BAIXA, PORTUGAL

1257
Foto do perfil de Portugal+

Portugal+

20:16
Monsanto, Idanha-a-Nova – Castelo Branco (Portugal).

Aldeia histórica de Portugal, Monsanto é construída em pedra granítica.
Monsanto, avista-se na encosta de uma grande elevação escarpada, designada de o Cabeço de Monsanto (Mons Sanctus). Situa-se a nordeste de Idanha-a-Nova e irrompe repentinamente do vale. No ponto mais alto o seu pico atinge os 758 metros. A presença humana neste local data desde o paleolítico. A arqueologia diz-nos que o local foi habitado pelos romanos, no sopé do monte. Também existem vestígios da passagem visigótica e árabe. Os mouros seriam derrotados por D. Afonso Henriques e, em 1165, o lugar de Monsanto foi doado à Ordem dos Templários que sob orientações de Gualdim Pais, que mandou construir o Castelo de Monsanto. O Foral foi concedido pela primeira vez em 1174 pelo Rei de Portugal e rectificado, sucessivamente, por D. Sancho I (em 1190) e D. Afonso II (em 1217).
Foi D. Sancho I quem repovoou e reedificou a fortaleza que, entretanto, fora destruída nas lutas contra o Reino de Leão. Seriam novamente reparadas um século mais tarde, pelos Templários.
Em 1308, o Rei D. Dinis deu Carta de Feira e, em 1510, seria El Rei D. Manuel I a outorgar de novo Foral e concedendo à aldeia a categoria de vila.
Em meados do século XVII, Luís de Haro (ministro de Filipe IV de Espanha), tenta cercar Monsanto, mas sem sucesso. No século XVIII, o Duque Berwik também cerca Monsanto, mas o exército português comandado pelo Marquês de Mina derrota o invasor nas difíceis escarpas que se erguem até ao Castelo. Monsanto foi sede de concelho no período 1758-1853. Um grave acidente no século XIX destruiu o seu Castelo medieval, pela explosão do paiol de munições.
Nas últimas décadas, Monsanto tornou-se popularmente conhecida como "a aldeia mais portuguesa de Portugal", exibindo o Galo de Prata, troféu da autoria de Abel Pereira da Silva, cuja réplica permanece até hoje no cimo da Torre do Relógio ou de Lucano.
[Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre]

Bajo rocas, by Eduardo Estéllez

MONSANTO - IDANHA-A-NOVA - CASTELO BRANCO  - PORTUGAL

1256 - SÃO DOIS AMIGOS

1256
SÃO DOIS AMIGOS

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

1242 - PEDRO TAMEN - POEMA

1242
Só dos Mortos Devemos Ter CiúmesSó dos mortos devemos ter ciúmes; acordar 
de entre as pedras doentes dolorosos 
que da beira das arribas nos atirem ao porto 
onde enfim se encontre a nossa angústia. 
Só eles lutam palmo a palmo pelo espaço 
em que já vertical erguemos nosso braço 
em busca de que sumo ou de que céu. É que só eles 
nos retiram da cama de que por nós foi feita 
a escolha: a macieza intensa que julgámos 
eterna, que nos parecia tão cordatamente 
entregue à nossa própria suma sumaúma. 
Só os mortos, horror, inda que vivos, vivem 
paredes meias com os nossos dedos, logo afastam 
os momentos ferozes que tocássemos, e as nuvens 
por sobre o mar dos olhos: é bem feito, 
dizem os meninos. Pois que dos vivos vivos 
a vida nos desvia e nisso nos conduz, assaz 
encaminhados pelo que vamos querendo. 
Só os mortos nos mordem, nos apontam 
a dedo frio e tenso, entorpecem desejos 
e, pois pior, só eles nos expulsam 
do vero som dos sinos numa entrega 
às palavras baldadas do comércio. 
A luta clara que sonhada fosse 
pela mão dada e limpa que nos dessem 
tropeça, polvo, com misérias nossas 
e enterra-te na pérfida, agoniada leira 
onde dominam eles nossas bocas e o sangue 
que nelas perpassasse. Só os mortos, 
invisíveis, letais, pesados entes, 
nos disputam a vida, e só por fim nos matam. 

Pedro Tamen, in "Agora, Estar"

1241 - MORTE DE NELSON MANDELA

1241

Madiba | Nelson Mandela

NELSON MANDELA MORREU   ONTEM  DIA 5 DE DEZEMBRO DE 2013  COM 95
ANOS DE IDADE
Lusografias em Lusografias - Há 17 minutos
*“Dediquei toda a minha vida a esta luta do povo africano. Lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Partilhei com o povo africano o ideal de uma sociedade livre e democrática em que todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que para o qual espero viver e alcançar. Mas se isso for necessário, é um ideal para o qual estou preparado para morrer.”* *Declaração na abertura do julgamento de Rivonia, em que era acusado de traição, 20 de Abril de 1964* *Nelson Mandela e Fernando Pessoa* O advogado Agostinho Miranda ... mais »

1240 - POEMA DO DIA

1240
POEMA DO DIA  

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

1233 - EFEMÉRIDES

1233
                                             EFEMÉRIDES
Nasceram neste dia…

sábado, 30 de novembro de 2013

1232 - VERGÍLIO FERREIRA - A VERDADE É AMOR


1232


A Verdade é Amor
A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em. razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se enten
Vergílio Ferreira, in "Pensar"de connosco, ou seja, como no amor, quando se está «feito um para o outro». Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a política, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no ódio, que é a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade. a-verdade-e-amor-vergilio-antonio-ferreira

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

1231 - A RAINHA ESTER

1231

Ester e assuero falam se pela primeira vez.3gp


1230 - CLARICE LISPECTOR - LEIA ESTE POEMA DE CIMA PARA BAIXO E DEPOIS DE BAIXO PARA CIMA

1230
"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
Clarice Lispector


1229 - ALBERT CAMUS - O MITO DE SÍSIFO

1229
O MITO DE SÍSIFO DE
"ALBERT CAMUS"




O mito de Sísifo é um ensaio filosófico escrito por Albert Camus, em 1941.
No ensaio, Camus introduz sua filosofia do absurdo: o do homem em busca de sentido, unidade e clareza no rosto de um mundo ininteligível desprovido de Deus e eternidade. Será que a realização do absurdo exige o suicídio? Camus responde: "Não. Exige revolta". Ele então descreve várias abordagens do absurdo na vida. O último capítulo compara o absurdo da vida do homem com a situação de Sísifo, uma personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra de uma montanha até o topo, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível.












domingo, 24 de novembro de 2013

1228 - FERNANDO PESSOA

1228
FERNANDO PESSOA O MAIOR POETA
PORTUGÊS DO SÉCULO  XX. QUANDO
EM VIDA, FERNANDO PESSOA TERIA
DITO: "EU SÓ SEREI CÉLEBRE 50 ANOS
DEPOIS DE EU MORRER". ELE SABIA
 QUEM ERA. FERNANDO MORREU EM
NOVEMBRO DE 1935 E EU NASCI EM
DEZEMBRO DE 1936 PARA LER TODA
A OBRA DE FERNANDO PESSOA.
Fernando Pessoa

Os 10 melhores poemas de Fernando Pessoa

Pedimos a 20 convidados — escritores, críticos, jornalistas — que escolhessem os poemas mais significativos de Fernando Pessoa. Cada participante poderia indicar entre um e 10 poemas. Escritor e poeta, Fernando Pessoa é considerado, ao lado de Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. O crítico literário Harold Bloom afirmou que a obra de Fernando Pessoa é o legado da língua portuguesa ao mundo.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em junho de 1888, e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade, aos 47 anos, em consequência de uma cirrose hepática. Sua última frase foi escrita na cama do hospital, em inglês, com a data de 29 de Novembro de 1935: “I know not what tomorrow will bring” (Não sei o que o amanhã trará).
Seus poemas mais conhecidos foram assinados pelos heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o próprio Pessoa, um ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa e autor do “Livro do Desassossego”, uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século 20. Além de exímio poeta, Fernando Pessoa foi um grande criador de personagens. Mais do que meros pseudônimos, seus heterônimos foram personagens completos, com biografias próprias e estilos literários díspares. Álvaro de Campos, por exemplo, era um engenheiro português com educação inglesa e com forte influência do simbolismo e futurismo. Ricardo Reis era um médico defensor da monarquia e com grande interesse pela cultura latina. Alberto Caeiro, embora com pouca educação formal e uma posição anti-intelectualista (cursou apenas o primário), é considerado um mestre. Com uma linguagem direta e com a naturalidade do discurso oral, é o mais profícuo entre os heterônimos. São seus “O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e os “Poemas Inconjuntos”. Em virtude do tamanho, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados. Eis a lista baseada no número de citações obtidas.

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.


Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


O guardador de rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Ode marítima
Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É – sinto-o em mim como o meu sangue -
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!


sábado, 23 de novembro de 2013

1227 - MÁRIO CESARINY - HOMENAGEM A CESÁRIO VERDE

1227
Homenagem a Cesário Verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!

                     Mário Cesariny

1226 - FOTOS WEB

1226
FOTOS WEB "REFLEXOS"

1225 - FUNDÃO A CAMINHO DE PEROVISEU/PENAMACOR

1225
FUNDÃO

1224 - FOTOS WEB - PASSARINHO

1224

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

1220 - SOMOS VÍTIMAS DE UMA PROLONGADA SERVIDÃO COLECTIVA

1220

Fernando PessoaFernando PessoaPortugal1888 // 1935Poeta
Somos Vítimas de uma Prolongada Servidão ColectivaProduto de dois séculos de falsa educação fradesca e jesuítica, seguidos de um século de pseudo-educação confusa, somos as vítimas individuais de uma prolongada servidão colectiva. Fomos esmagados (...) por liberais para quem a liberdade era a simples palavra de passe de uma seita reaccionária, por livres-pensadores para quem o cúmulo do livre-pensamento era impedir uma procissão de sair, de maçãos para quem a Maçonaria (longe de a considerarem a depositária da herança sagrada da Gnose) nunca foi mais do que uma Carbonária ritual. Produto assim de educações dadas por criaturas cuja vida era uma perpétua traição àquilo que diziam que eram, e às crenças ou ideias que diziam servir, tínhamos que ser sempre dos arredores... 
Fernando Pessoa, in 'Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional' 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

1218 - O FIO DA HISTÓRIA

1218
o fio da história
Para compreender os dislates económicos que alguns dos altos responsáveis da governação do país, em particular o Presidente da República, têm proferido ao longo dos últimos meses, é necessário recuperar o fio da história que nos conduziu até aqui.

Portugal aderiu à UE em 1986, era então primeiro-ministro o actual Presidente da República, e assim continuaria nos dez anos seguintes, quando todas as principais instituições que caracterizam hoje a UE foram definidas, como o Mercado Único Europeu e a Moeda Única (euro).

O diagnóstico que então foi feito de Portugal pelos responsáveis europeus e pelo dirigentes políticos nacionais foi o seguinte. Portugal tinha então uma elevada percentagem do PIB e da população activa na agricultura e nas pescas. E isso era considerado próprio de um país "atrasado". A indústria portuguesa era, então, constituída predominantemente por indústrias nacionais, como os têxteis, o vestuário, o calçado, a metalomecânica, etc. E isso era também considerado "atrasado". Portugal tinha também  uma produtividade do trabalho inferior à média da União Europeia, e esse era mais um sinal de um país "atrasado". E o escudo, era uma moeda forte em 1974, tinha desvalorizado fortemente em 1986, devido aos desmandos da governação democrática (que entretanto recorrera por duas vezes à ajuda  do FMI)*. E este era também um sintoma de que o país estava "atrasado".

A UE deu-nos então dinheiro para reduzir o peso da agricultura e das pescas na economia, pagando aos agriculturos e aos pescadores para ficarem em casa, ao mesmo tempo que os excedentes agrícolas dos países dos Norte da Europa invadiam o mercado nacional. Quanto às indústrias tradicionais, como os têxteis, o vestuário e o calçado, dava-se cabo delas abrindo-as à concorrência no espaço do Mercado Único Europeu, e mais ainda, à globalização, permitindo que os chineses a subtituíssem.
Ao mesmo, a UE dava-nos dinheiro para aumentar a produtividade, financiando a construção de estradas, portos. pontes, aeroportos e também a educação e a formação profissional. Esperava-se que a população activa agora liberta da agricultura, das pescas, dos têxteis, do vestuário e do calçado, se reconvertesse para sectorees mais modernos, talvez a biotecnonogia ou a engenharia espacial. Assim modernizados, nós poderíamos aguentar            uma moeda forte - o Euro.

Tudo isto foi feito com a assinatura e o entusiasmo do Professor Cavaco Silva à frente do governo. Tudo estava a correr bem. Agora é que iríamos deixar de ser um país "atrasado", liderados pela sua visão iluminada. Ele próprio dizia na altura que éramos "o bom aluno da Europa", esta sim, uma manifestação de atraso e subserviência que não lembraria ao diabo. E quem é que não gostava de uma moeda forte, como o Euro que vinha aí. Quem era? Só podia ser um atrasado ou louco.

No início da década de 90, o Governo do Professor Cavaco Silva, tendo como Ministro da Indústria o Engenheiro Mira Amaral, pagou ao famoso Michael Porter uns bons milhares de dólars para ele dizer quais seriam os sectores - a biotecnologia? a engenheria do espaço? as células estaminais ? - em que Portugal estava destinado a especializar-se, substituindo a agricultura, as pescas, os têxteis eo vestuário e o calçado.

Quando o resultado do estudo foi conhecido, a decepção não podia ser maior. Segundo Porter, Portugal tinha vantagens comparativas era nos têxteis, no vestuário, no calçado, no turismo, nos vinhos, e noutros produtos agrícolas, nas pescas, no mobiliário, e nos moldes da Marinha Grande - numa palavra, nos seus sectores tradicionais.

Apesar da desilusão, era ncessário seguir em frente. E assim fizeram todos os governos portugueses que se seguiram aos do Professor Cavaco Silva, sempre oleados pelos subsídios da EU que permitiam ganhar votos. Até nos conduzirem à situação em que nos encontramos.

E é agora o próprio Professor Cavaco Silva que nos diz que temos de voltar à agricultura e que precisamos de uma moeda fraca. É preciso ter lata.
Publicada por Pedro Arroja