quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

1283 - ARTE POÉTICA - VITORINO NEMÉSIO

1283

VITORINO NEMÉSIO

 ARTE POÉTICA


A poesia do abstracto?
Talvez. 
Mas um pouco de calor, 
A exaltação de cada momento, 
É melhor. 
Quando sopra o vento 
Há um corpo na lufada; 
Quando o fogo alteou 
A primeira fogueira, 
Apagando-se fica alguma coisa queimada. 
É melhor!
Uma ideia, 
Só como sangue de problema; 
No mais, não, 
Não me interessa. 
Uma ideia 
Vale como promessa, 
E prometer é arquear 
A grande flecha. 
O flanco das coisas só sangrando me comove, 
E uma pergunta é dolorida 
Quando abre brecha. 
Abstracto! 
O abstracto é sempre redução, 
Secura. 
Perde; 
E diante de mim o mar que se levanta é verde: 
Molha e amplia.
Por isso, não: 
Nem o abstracto nem o concreto 
São propriamente poesia. 
A poesia é outra coisa. 
Poesia e abstracto, não

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