sábado, 25 de abril de 2015

1651 - «PROVINCIANAS» - CESÁRIO VERDE

1651

PROVINCIANAS

Olá! Bons dias! Em Março,
Que mocetona e que jovem
A terra! Que amor esparso
Corre os trigos, que se movem
As vagas dum verde garço!

Como amanhece! Que meigas
As horas antes de almoço!
Fartam-se as vacas nas veigas
E um pasto orvalhado e moço 
Produz as novas manteigas.

Toda a paisagem se doura;
Tímida ainda, que fresca!
Bela mulher, sim, senhora
Nesta manhã pitoresca,
Primavera, criadora!

Bom Sol! As sebes de encosto
Dão madressilvas cheirosas,
Que entontecem como um mosto.
Floridas, às espinhosas
Subiu-lhes o sangue ao rosto.

Cresce o relevo dos montes,
Como seios ofegantes;
Murmuram como umas fontes
Os rios que dias antes
Bramiam galgando pontes

E os campos, milhas e milhas,
Com povos de espaço a espaço,
Fazem-se às mil maravilhas;
Dir-se-ia o mar de sargaço
Glauco, ondelante, com ilhas!

Pois bem. O Inverno deixou-nos.
É certo. E os grãos e as sementes
Que ficam doutros Outonos
Acordam hoje frementes
Depois duns poucos de sonos.

Mas nem tudo são descantes
Por esses longos caminhos,
Entre favais palpitantes
Há solos bravos. maninhos,
Que expulsam seus habitantes!

CESÁRIO VERDE







quinta-feira, 23 de abril de 2015

segunda-feira, 20 de abril de 2015

1649 - «ROSSIO» - LISBOA

1649

LISBOA- ROSSIO  - TEATRO NACINAL D. MARIA II  E LARGO DE SÃO DOMINGOS NO LADO DIREITO DO TEATRO.

domingo, 19 de abril de 2015

1648 - «OS RIOS» - FERNANDO ECHEVARRIA

1648

           OS RIOS

Torrencial arquitectura
de silêncio.Desce o frio
terrivel da formosura
as tuas pernas. E o rio,
impossivel e dual,
não desbarata o caudal.
Sobe da terra com troncos
robustos de  castidade
e vai fecundar-te os broncos
abismos da virgindade.

                                 Tréguas para o Amor)


FERNANDO ECHEVARRIA



quarta-feira, 15 de abril de 2015

1647 - «PANTEÃO NACIONAL» VISTO DA ESTAÇÃO SANTA APOLÓNIA

1647

LISBOA. ESTAÇÃO DE SANTA APOLÓNIA  VENDO-SE
O  PANTEÃO NACIONAL OU
PANTEÃO DE SANTA ENGRÁCIA

1646 - «CORRESPONDÊNCIA» FERNANDO ECHEVARRIA

1646

CORRESPONDÊNCIA

Eira que tu vergaste, meu Senhor,
com pancadas de cruz no gelo vivo,
Dorso que espalmas, malhas, sem motivo
além da violência do amor.

A pedra, rompe os dentes, com furor,
do meu agudo beijo  o Teu esquivo.
Malhas, Senhor, meu beijo, sem motivo
além da violência do amor.

Espancas e vergastas o desejo 
de a Ti me dar como Te dou  um beijo.
Malhas, Senhor, e sabes que estou vivo

porque ofereço as minhas costas
-- beijo que espalmas e eira  que Tu espancas --
sòmente por amor,  sem mais motivo.


FERNANDO ECHEVARRIA

quinta-feira, 9 de abril de 2015

1645 - «CONVENTO DA ARRÁBIDA SETÚBAL» - PORTUGAL

1645

CONVENTO DA ARRÁBIDA SETÚBAL - PORTUGAL

1644 - «AS VOZES» - MARIA AMÉLIA NETO

1644

AS VOZES


Vimos a nossa herança consumida
Pelas chamas,
Ouvimos passos condenados
Sobre o gelo,
Temos das fronteiras 
Uma ideia definida pelo sangue.

Em criança
Navegámos em paquetes sem luz,
Silenciosamente perseguidos.
Da casa de outrora,
Sabemos que ficava na colina,
No meio de buganvílias e acácias.
Por entre a neve suja das cidades
Recordamo-nos às vezes
Das casuarinas, do baloiço,
Do rosto junto às nuvens
E da súbita descida para o solo.

MARIA AMÉLIA NETO

quinta-feira, 2 de abril de 2015

1643 - «A MORTE DO CINEASTA MANOEL DE OLIVEIRA»

1643

MORREU HOJE MANOEL DE OLIVEIRA  COM 106 ANOS DE IDADE.
      VI UMA BOA PARTE DOS SEUS FILMES
COMEÇANDO PELO PRIMEIRO "ANIKI BÓBÓ"DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX, UM FILME PASSADO COM AS CRIANÇAS DA ZONA  RIBEIRINHA DO PORTO. PARA ELE AS NOSSAS HOMENAGENS PARA O HOMEM  DE CULTURA QUE FOI.

1642 PAISAGEM

1642

PAISAGEM

quarta-feira, 1 de abril de 2015

1641 - «NÓS» - CESÁRIO VERDE

1641

                                                       NÓS                                       

                                 
                               
Foi quando em dois Verões, seguidamente, a Febre
E a Cólera também andaram na cidade
Que esta população, com terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou  por isso um grande amor ao campo!

Se o acaso conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvávo-nos na fuga.

Na parte mercantil, foco da epidemia.
Um pânico! Nem um navio entrava a barra.
A Alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.

Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Quetinham tons de I triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na city, que desterros!

Sem canalização, em muitos burgos ermos,
Secavam dejecções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!

Uma iluminação a azeite de purgueira.
De noite, amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons de inferno outros arruamentos.

Porém, lá fora, à solta, exageradamente,
Enquanto acontecia essa calamidade,
Toda a vegetação, pletórica, potente,
Ganhava imenso com a enorme mortandade!

Num ímpeto de seiva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se! E depois houve soberbos partos.

Por isso, o chefe antigo e bom da nossa casa.
Triste de ouvir falar em órfâos e em viúvas,
E  em permanência olhando o horizonte em brasa,
Não quis voltar senão depois das grandes chuvas.

Ele, dum lado, vía os filhos achacados,
Um lívido flagelo e uma moléstia horrenda!
E via, do outro lado, eiras, lezírias, prados,,
E um salutar refúgio e um lucro na vivenda!

E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nóa vamos para lá; somos provinvianos,
Desde o calor de Maio aos frios do Novembro!

CESÁRIO VERDE