segunda-feira, 7 de março de 2016

1722 - «HOMENAGEM A TITUS LUCRETIUS CARUS» NATÁLIA CORREIA

1722

HOMENAGEM A TITUS LUCRETIUS CARUS

Acha-se a terra cheia de fome.
Bate num ventre. Pede comida.
Parte-se um ovo. Sai-nos um nome
E sete rosas como medida.

Dão-nos um dentro como opala
(Só o pretexto dum cofre forte)
Não vá a gente  encher a mala
Com mais tesouros que ela suporte.

E carregamos a travessia
Com o deus-travão que a demora;
Pois é da nossa pedra fria
Que o paraíso se evapora.

E se a torneira dum cotovelo 
Dá mais estrelas do que uma couve,
É porque a morte no nosso pêlo
Toca uma arpa que não se ouve.


NATÁLIA CORREIA

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