quarta-feira, 22 de junho de 2011

138-Somos menos, felizmente*

138-O maior perigo que se põe actualmente à humanidade não é o da explosão nuclear, é o da explosão demográfica. Portugal tornou-se, porém, (com a Europa), excepção.
   O nosso País tem a taxa de fertelidade mais baixa do velho continente, continente onde ela entrou, nos últimos anos, em declínio acentuado. Felizmente.
    Produto desvalorizado pelo excesso, o homem só deixará, como consequência, de ser um desperdício quando escassear;  só quando os nascimentos forem actos desejados (por opção, por disponibidade) ele atingirá o estatuto qualitativo a que tem direito.
    Políticos, economistas, comunicadores, ideólogos repetem, porém, que estamos a envelhecer, a escassear, e fazem disso catástrofe para ínvias manipulações.
    As suas mentalidades formigueiras/coelheiras esquivam-se, no entanto, a dizer que o problema não é o de falta de gente nova  no mundo (nasce um milhão de pessoas  em cada 100 horas), mas o do seu desequilíbrio. Insistem mesmo em propagar  que Portugal (a Europa) está em perigo, que no ano 2020 doze por cento de nós terão mais de 65 anos; em divulgar a ideia de que um indivíduo (um país, um continente) que envelhece que estiola; não cuidam de assumir que os velhos são cada vez menos velhos, que tão fiável  é premir botões de máquinas aos 80  como aos 20 anos, que a sabedoria, a perspicácia trazidas pela idade compensam a força, a destreza levadas por ela.
    Não costuma ser, aliás, pelo facto de disporem  de populações rejuvenecidas que os estados se desemvolvem mais; o número de habitantes de um país não se revela indicador de progresso.
    "As florestas precedem as pessoas, os desertos acompanham-nas",  avisava Chateaubriand. O homem é um poluidor por condição: as hecatombes ocorridas são consequência da sua natalidade incontrolável, fomentada para haver cada vez cada vez mais mão de obra barata e farta, carne para canhão e camas, almas para pastorear e salvar.
    Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos, E daí ?
    Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair às cada vez mais subtraidas pensões o seu sustento?); mais jovens para alargar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam  as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Não lhes bastam os milhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?
     Líderes de opinião inculcam, entretanto,ideias segregacionistas entre as gerações. Insinuam que a culpa dos desequilíbrios pertence aos mais idosos por ocuparem lugares, monopolizarem privilégios, esgotarem recursos, bloqueando  os mais novos. Lutas surdam lavram, na verdade, a vários níveis, instigadas por semelhantes correntes de opinião, não se revelando que a instabilidade afecta todos os estratos etários, que não os séniores a barrar a ascenção dos jovens, mas os interesses instituidos que desarticulam uns e outros, hostilizam uns contra os outros por haverem tornado todos prescindíveis.
    Ninguem espicifica que a produtividade deixou de ser determinada pela partecipação dos humanos , para ser pela afinação das tecnonogias. Está em campo uma mentalidade gerontofólica (racismo para com os idosos) de consequências imprevisíveis.
   Semelhantes posturas levam a apontar como causa dos problemas o que são - despenalização do aborto, uso do preservativo, legalização do divórcio e do casamento homossexual -, consequências deles. As conquistas que representam não constituem ataques à família tradicional, mas mudanças ao seu paradignma, isto é, possibilidades para cada um escolher modelos de afectuosidade mais ajustados a si - o que significa um acentuado enriquecimento civilizacional.
Fernando Dacosta

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