por Daniel Oliveira
Os enfermeiros que começaram a trabalhar ontem nos centros de saúde de Lisboa e que foram contratados por empresas de prestação de serviços - o Estado arranja forma de, ele próprio, ludibriar a lei laboral - receberão 4 euros por hora.
Poderia continuar. Os estágios não pagos em várias profissões qualificadas. A forma como as empresas de trabalho temporário transformam a desgraça de milhares de jovens numa excelente oportunidade de negócio. Mas tudo se resume a isto: andámos a gastar dinheiro em formação para mandar embora os jovens mais qualificados que alguma vez este País conheceu. A isto chama-se desperdício. E não, não temos, como muita gente julga, "doutores" a mais. Olhem para a Europa. Temos "doutores" a menos. O problema é que a maioria das nossas empresas não foi capaz - por culpa própria ou pela estratégia económica dos sucessivos governos - de aproveitar esta oportunidade.
Recentemente, um jovem deputado do CDS, com 29 anos, estudante veterano e sem nenhum currículo que não seja o de deputado, disse, sobre o jovem português: "fatalmente, vai cada vez mais criar o próprio emprego e não andar à procura na indústria ou noutros sectores". Foi isso que fez no CDS e justamente ficou com a pasta do "empreendedorismo". Não desenvolvo mais sobre esta maravilhosa frase do felizmente obscuro "jotinha" Michael Seufert, que tem como principal solução para o desemprego dos jovens que estes deixem de descontar e receber da segurança social. Apenas isto: nenhum país vive exclusivamente de empresas unipessoais. Nenhum país dispensa técnicos especializados que podem não ter especial talento para os negócios, mas sem os quais os negócios não vão longe. Compreendo que estes empreendedores teóricos - como o nosso primeiro-ministro - não consigam passar das frases feitas, dignas dos artigos de auto-ajuda profissional. Mas ou começamos a ser governados por quem queira aproveitar a melhor de todas as gerações ou espera-nos um futuro sombrio.
Publicado no Expresso Online
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