terça-feira, 3 de julho de 2012

565-JORNAL DO FUNDÃO


565-Um país tão fetichista !

Decididamente, o salazarismo e uma escolarização deficiente deixaram profundos estigmas…
Como este país evoluiu numa quarentena de anos ! Mas nem sempre da melhor maneira. Quando seria de esperar que se modernizasse no bom sentido da palavra. Porque o nível de escolaridade aumentou consideravelmente. Porque democracia é uma realidade (pelo menos formal). E porque as grades pidescas caíram, deixando que os contactos com o resto da Europa e do mundo se tornassem mais frequentes.
Ora, que se constata chegando estes dias a Portugal ? Que os portugueses são uns grandes patrioteiros ! Com bandeiras nacionais nas janelas, nas varandas, nos automóveis. Com camisolas e até equipamentos desportivos completos com a “cores nacionais”. Só porque há por aí uns futebolistas que participam num campeonato europeu. E que os patrioteiros esperam que eles ganhem (coisa rara nestes últimos anos). Enquanto vão fazendo comentários mais ou menos xenófobos sobre árbitros e equipas adversas. E fazendo um barrulho infernal quando o jovem que trata o presidente da República por “você” (ou outro qualquer) marca um golo…
Lembram-se de ter visto idênticas manifestações de regozijo quando Álvaro Siza Vieira ou Eduardo Souto de Moura ganharam o Pritzker de Arquitetura em 1992 e 2011 ? Ou quando José Saramago obteve o Nobel de Literatura em 1998 ? E quantos outros atingiram projeção internacional em domínios artístico ou científico, glorificando o país de origem…
É verdade que estas manifestações de patrioteirismo também atingiram quem tinha o dever de dar provas de uma conduta mais racional. Mas não é que os membros do governo Passos Coelho passeiam por aí de bandeirinha nacional na lapela ? À maneira de países mais ou menos ditatoriais do terceiro mundo. Ou da pátria-mãe estado-unidense de quem são culturalmente leais súbditos e servidores…
Mas o fetichismo nacional não é só futebolístico. Se muitos veículos automóveis arvoram estes dias bandeiras nacionais, muitos também ostentam em permanência terços no retrovisor ! Iniciativa exportada além-fronteiras. E se, por exemplo, em Bruxelas, em Paris ou no Luxemburgo se cruzar um automóvel com matrícula de um destes países mas com um terço no retrovisor, é de certeza de um português ! O que faz rir os outros cidadãos, bem mais racionalistas e menos fetichistas. Mas este país e este povo estão assim : animam-se com futilidades e acreditam em seguros de vidas eternos ! Porque o salazarismo deixou claramente estigmas profundos no plano cultural. E a democracia pouco ou nada tem feito para que Portugal seja enfim um país de modernidade…
J-M.Nobre-Correia@ulb.ac.be

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