quinta-feira, 18 de outubro de 2012

761-O PRÍNCEPE DOS LACAIOS "DN"



761-A honra no sítio errado

por VIRIATO SOROMENHO MARQUESHoje36 comentários

O primeiro-ministro (PM) no mais recente debate parlamentar afirmou: "Eu pertenço a uma raça de homens que honra os compromissos do país." E continuou num registo onde se identificava a conduta do indivíduo singular com a acção do governante. O que o PM não parece compreender é que as dívidas de um Estado não são as dívidas de uma família ao merceeiro da rua. O lema de conduta do estadista é o "salus populi" (o bem público). A responsabilidade do PM é para com o povo português. Para com a sua segurança e liberdade. A honra do homem e a prudência do estadista não se contradizem necessariamente, mas também não se confundem. Quando o rei de Leão, Afonso VII, cercou Guimarães para quebrar a vontade independentista do jovem Afonso Henriques, foi a palavra de honra do seu aio, Egas Moniz, que fez levantar o cerco. Contudo, o fundador do reino de Portugal seguiu o seu rumo. Mudou a capital para Coimbra e invadiu a Galiza. A honra de Egas Moniz foi salva com a coragem moral e física que o levou a Toledo, colocando a sua vida e a da sua família nas mãos do rei a quem tinha prometido o impossível. Afonso VII perdoou ao homem, comovido pela sua dignidade, e foi obrigado a reconhecer a grandeza do seu primo, o nosso primeiro rei. Invocar a honra para justificar uma austeridade suicidária, em vez de arriscar uma estratégia que permita, em diálogo firme com os nossos aliados e adversários na Zona Euro e na troika, um novo caminho nacional e europeu que salve a esperança, é o erro imperdoável do PM. Se tivesse a grandeza do estadista, teria o país a apoiá-lo, nos sacrifícios internos e na coragem externa. Assim, sem a grandeza do rei, nem a honra do aio, o PM corre o risco de se confundir com a teimosia servil que, na Idade Média, era o atributo dos lacaios.

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