domingo, 1 de setembro de 2013

1141 - UM POEMA DE SOPHIA


1141

VAMOS COMEÇAR O PRIMEIRO POST DE SETEMBRO
DE 2013 COM UM POEMA DESSA MULHER ADMIRÁVEL
QUE  FOI SOPHIA





Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

O quadrado da janela
O brilho verde de Vésper
O arco de oiro de Agosto
O arco de ceifeira sobre o campo
A indecisa mão do pedinte
São minha biografia e tornam-se o meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas

Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner Andresen

in, "Geografia"

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