domingo, 15 de março de 2015

1632 - «SONETO PARA A MORTE PRÓPRIA» JOÃO RUI DE SOUSA

1632

SONETO PARA A MORTE PRÓPRIA

Vejo grades brancas, deito-me ao comprido.
Sei que a morte vem por vultos de artifício,
Sei que ela desliza com seus dedos brancos
por flores de tédio ou de vício.

Sei que ela percorre entre céus parados
caminhos de amargura e desenganos.
Sei que ela procura e sei que ela descobre
o medo dos meus gestos, com seu ramos

de ódios e de dúvidas, signos e cansaços,
da breve hesitação com que destingo ou não
nos gestos os abraços,

da tanta dor do mundo, do mal que nos vigia
e do grande caos profundo com que inundo
de grades muito brancas cada dia.

JOÃO RUI DE SOUSA

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