terça-feira, 9 de agosto de 2011

177-Francisco de Sá de Miranda*

177-O sol é grande, caem co´a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d´alto cai acordar-m´-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu´em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d´amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m´eu fiz doutras cores:
e tudo o maia renova, isto é sem cura!

Sá de Miranda
1481-1558

Obras Completas - volume 1
Francisco de Sá de Miranda; texto fixado, notas e prefácio de Rodrigues Lapa
Livraria Sá da Costa Editora

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