quinta-feira, 8 de setembro de 2011

197-SOMOS UM PAÍS POBRE

197-Somos um país pobre
Durante anos,  durante demasiados anos, andaram a vender-nos uma falácia, Governos de várias cores políticas, insuflados de optimismo, garantiram-nos que éramos um país rico: inundados de fundos "estruturais", aconchegados  pelo carinhoso abraço que nos dava a "Europa", faziamos enfim  parte do selecto clube das nações prósperas.

Transformámo-nos, ipso facto, num paraíso de consumo: roupas cara a crédito, férias a crédito, recordistas do número de telemóveis, de computadores, de sgunda habitação. Tornámo-nos "proprietários de imóveis - e porque heveriamos de adquirir um T2 se o fácil crédito bancário nos sugeria a compa de um T4?

Corremos aos stands para garantir o título de propriedade de um todo-o-terreno, de um topo-de-gama: ninguém nos veria com uma viatura  inferior à do nosso vizinho ou do nosso colega de escritório, era o que mais faltava.

Agimos como ricos. Convencidos, de facto, que éramos ricos - a conversão do escudo em euro elevava-nos, sem aparente esforço, ao estatuto económico dos alemães. Em mil discursos falaram-nos nad maravilhas do "investimento público", no prodígio das grandes infra-estruturas dignas de encher o olho: havia 20 mil novas rotundas  para construir em vilas e cidades, havia novas habitações prontas a erguer  no país  dos 500 mil fogos vazios, indeferente à reabilitação hurbana. E a "alta velocidade" ferroviária  levar-nos-ia  sem demora à Europa das luzes.

Tudo isto enquanto fechavam fábricas, se abandonavam os campos, se desmantelava a frota pesqueira, se encerravam minas e explorações pecuárias, se descuidava o nosso vasto património florestal. Qual o problema? O milagre da multiplicação dos fundos  oriundos de Bruxelas  tolvava-nos a razão, as baixas taxas de juro estimilavam  novas vagas de consumo, a retórica política transbordava de optimismo. E as raras Cassandras nacionais ertam corridas a pontapé pela agremiação dos comentadores, sempre conformada ao discurso ofial.

Esse discurso garantia-nos  que éramos ricos. Mesmo sem produzr. Mesmo a importar  80% do que comíamos - com recurso a dinheiro emprestado. Um dia - há pouco tempo - despertámos do longo sono, abrindo os olhos para a realidade. Que pode ser descrita em  quatro sucintas palavras: somos um país pobre.

O optimismo oficial  emigrou para parte incerta. E a elite dos comentadores, sempre pronta a virar  na direcção do vento, tornou-se um reduto de Cassandras, qual delas mais agoirenta que as outras.
Somos um país pobre : a era das ilusões chegou ao fim.
Pedro Correia

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