1368
«O UNIVERSO NÃO PASSA...»
Ah! et que je ne suis pas métaphisique... R.G. Cadou.
O UNIVERSO NÃO PASSA DE DOIS DEDOS
que pertencem às tuas mãos
que o máximo que abrangem
é uma cintura.
Escapa-se-nos o corpo.
Não se houve qualquer música.
Toda a recordação é dolorosa.
Ouve: Não tenhas medo
dos ataques da ausência.
Há em ti suficiente espaço
para conter e acariciar os ossos
dos que ficaram.
Não te admires
dos orifícios do pão.
E vai -- que remédio tens tu... --
trabalhando, ouvindo, abandonando.
É esse o teu dever.
Não te distraias nunca.
Tem sempre nova e viva a atenção
para o ruido que faz
a campainha do teu sangue.
Sê o primeiro a abrir
a tua porta ao que chega.
Não quero a alegria por tão pouco.
Prefiro a fome ao pão envenenado.
Só amo quanto em mim requer amor.
Não beijo excluindo a boca.
Não troco nem renego a amizade.
Não me importo com favores que não pedi.
Não tenho provas nenhumas
de que Deus exista.
Andei e ando
entre os homens.
Não disse a ninguém o que sabia.
Para o teu novo movimento
quer Deus um novo tecto.
Se não fores capaz de dia a dia
a bem ou a mal
com tua grande ou ínfima certeza
com teus hábitos de exílio
com teu cálix de aventura
com teu cipreste à tua porta
com teu lilás reverdecido
com tua boca de mudo
os teus pés de coxo
os teus ouvidos só de anunciação
tua boda traída teu segredo violado tua sigla na fronte
Se não fores capaz de dar lugar
em ti ao Deus que te procura
Nunca saberás que misteriosos
e depois tão claros!
designíos te conhecem.
-- Sois dávida ou afronta?
-- Agitação do mar?
-- Promessa que desponta?
-- Ou luz para apagar?
De sangue ou de artifício,
De saga ou novidade:
-- Entre tantos amores
Qual amor é verdade?
Raul de Carvalho
«O UNIVERSO NÃO PASSA...»
Ah! et que je ne suis pas métaphisique... R.G. Cadou.
O UNIVERSO NÃO PASSA DE DOIS DEDOS
que pertencem às tuas mãos
que o máximo que abrangem
é uma cintura.
Escapa-se-nos o corpo.
Não se houve qualquer música.
Toda a recordação é dolorosa.
Ouve: Não tenhas medo
dos ataques da ausência.
Há em ti suficiente espaço
para conter e acariciar os ossos
dos que ficaram.
Não te admires
dos orifícios do pão.
E vai -- que remédio tens tu... --
trabalhando, ouvindo, abandonando.
É esse o teu dever.
Não te distraias nunca.
Tem sempre nova e viva a atenção
para o ruido que faz
a campainha do teu sangue.
Sê o primeiro a abrir
a tua porta ao que chega.
Não quero a alegria por tão pouco.
Prefiro a fome ao pão envenenado.
Só amo quanto em mim requer amor.
Não beijo excluindo a boca.
Não troco nem renego a amizade.
Não me importo com favores que não pedi.
Não tenho provas nenhumas
de que Deus exista.
Andei e ando
entre os homens.
Não disse a ninguém o que sabia.
Para o teu novo movimento
quer Deus um novo tecto.
Se não fores capaz de dia a dia
a bem ou a mal
com tua grande ou ínfima certeza
com teus hábitos de exílio
com teu cálix de aventura
com teu cipreste à tua porta
com teu lilás reverdecido
com tua boca de mudo
os teus pés de coxo
os teus ouvidos só de anunciação
tua boda traída teu segredo violado tua sigla na fronte
Se não fores capaz de dar lugar
em ti ao Deus que te procura
Nunca saberás que misteriosos
e depois tão claros!
designíos te conhecem.
-- Sois dávida ou afronta?
-- Agitação do mar?
-- Promessa que desponta?
-- Ou luz para apagar?
De sangue ou de artifício,
De saga ou novidade:
-- Entre tantos amores
Qual amor é verdade?
Raul de Carvalho
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