26-Vasco Pulido Valente, Uma biografia de Salazar, Público, 05-09-10, excertos:
Saiu finalmente uma biografia de Salazar (a de Franco Nogueira era almanaque hagiográfico sem sentido ou valor). A biografia é de Filipe Ribeiro de Meneses, doutorado em Dublin e professor de uma universidade irlandeza. (...) vale a pena ler esta longa e minuciosa história do homem que governou, sem sombra nem rival, gerações sobre gerações de portugueses e conseguiu criar uma cultrura política que hoje ainda pesa - e pesa muito - na democracia que temos.
Para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente - , o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiram milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência. A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro exerciam uma autoridade arbitrária e defenitiva que ninguém se atrevia a questionar. A deferência - se não o respeito - por quem mandava era universal; e essa educação na humildade (e muitas vezes no vexame) fazia um povo obediente, curvado, obsequioso, que se continua a ver por aí na sua vidinha, aplaudindo e louvando os poderes do dia e sempre partidário da "mão forte" "que mete a canalha na ordem"
Só num ponto, essencial, Salazar perdeu. Queria um país resignado à pobreza cristã e Portugal, se continua pobre, não se resigna agora à pobreza com facilidade e abandonou a igreja. (...) E o mundo moderno desorganizou Portugal manso e miserável que ele com tanta devoção construira. O preço que pagámos pela ditadura desse provinciano mesquinho é incalculável.
Tomás Vasques
Só num ponto, essencial, Salazar perdeu. Queria um país resignado à pobreza cristã e Portugal, se continua pobre, não se resigna agora à pobreza com facilidade e abandonou a igreja. (...) E o mundo moderno desorganizou Portugal manso e miserável que ele com tanta devoção construira. O preço que pagámos pela ditadura desse provinciano mesquinho é incalculável.
Tomás Vasques