segunda-feira, 20 de setembro de 2010

22-O abade de Jazente

22-Hoje apetece-me fazer uma visita ao século XVIII e publicar no meu blog um ou dois sonetos  de PAULINO ANTÓNIO CABRAL, poeta de Amarante, freguesia de S. Prdro da Lomba. Era também conhecido como o abade de Jazente. (1719 - 1789)

Genealogia

Um dos meus visavós foi mercador;
Outro foi alfaiate oficial;
Outro tendeiro foi sem cabedal;
E outro, que juíz foi, foi lavrador;

O meu paterno avô foi professor
De latim, que ensisou ou bem ou mal;
E o materno viveu no seu casal,
De que ainda agora eu mesmo sou senhor.

Meu pai médico foi, e homem de bem;
Minha mãe Dom teria, porque enfim
Muitas menos do que ela agora o têm.

Abade fui eu; e se saber mim
Alguma coisa mais quiser alguém,
Saiba, que versos faço, e os faço assim.

Pruridos de nobreza

Eu não creio que a nossa Fidalguia
Procedesse d`Adão, que era um coitado,
Um paisano, que nunca andou calçado,
Um pobre, que de peles se vestia.

Não teve armas, brasões; nem possuia
Por prova de ser nobre algum Morgado;
O foro nunca viu; nem foi tratado,
Como agora se faz, com Senhoria.

Eva inda foi pior, pois na Escritura
Se não trata de Dom, nem de Excelência,
Nem se diz se das danças faz figura.

E assim venho a tirar por consequência,
Que estando hoje a nobreza em tanta altura
Não traz dele, nem dela a descendência.

O Mundo faz rir

Eu como, eu bebo, eu durmo, e sem receio
Do que há-de vir a ser, a vida passo,
Ora de Nize no gentil regaço,
Ora das Musas no sonoro enleio.

Às vezes pesco, às vezes jogo, ou leio,
E torres vãs também no vento faço;
Depois me vou meter naquele espaço,
Onde Descartes tinha o seu passeio.

De lá mil orbes vejo, e de improviso
Soltando ao pemsamento as vagas velas,
Turbilhões de cristal  sem medo piso.

E pondo-me por cima das estrelas,
Descubro a terra em baixo, e me dá riso,
Contemplando do mundo as bagatelas.

Megalomania Portuguesa

Quem te viu, quem te vê, ó Portugal!
Tão bárbaro, grosseiro, tosco, e vil!
Hoje estás mai polido, e mais civil,
À custa do teu próprio cabedal.

Algum dia poupavas teu real,
E fizeste já caso de um seitil;
Hoje gastas cruzados mil a mil,
Inda que a renda seja tal ou qual.

Lançou a astuta França o seu anzol;
E armando-se com isca ouropel,
Te vai pondo na espinha, e tudo ao sol.

Mas enquanto não chega o São Miguel,
Se houver dinheiro, irá ao rol;
Vai tu sempre fazendo o teu papel.

NICOLAU TOLENTINO
                          (1740-1811)
Nasceu em Lisboa a 10 de Setembro de 1740
e era estudado no meu 5ºano do liceu

    O colchão dentro do toucado

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada:

A filha, moça esbelta, e aperaltada,
Lhe diz co`a  doce voz, que o ar serena:
"Sumiu-se-lhe um colchão, é forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada:"

"Tu respondes assim ? tu zombas disto ?
Tu cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos ?" E dizendo isto,

Arremete-lhe à cara  e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.      

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