domingo, 3 de outubro de 2010

28-Poetas de ontem e de hoje

28-AIRAS NUNES DE SANTIAGO

Clérigo de Santigo de Compostela, Carolina Michaelis pensa que terá sido jogral na corte de Sancho IV. Homem extremamente culto, é autor da universalmente famosa «bailada das avelaneiras».

Bailemos nós já todas três, ai amigas,
so (1) aquestas avelaneiras froridas
e quem fôr velida, como nós, velidas,
      se amig´amar,
so aquestas avelaneiras froridas
      verrá (2) bailar.

Bailemos nós já todas tres, ai irmanas,
so aquesto ramo d´estas avelanas
e quem for louçana, como nós, louçanas,
      se amig´amar,
so aquesto ramo d´estas avelanas
      verrá bailar.
 
Por Deus, ai amigas, mentr´al (3) non fazemos,
so aquesto ramo frorido bailemos
e quen ben parecer, como nós parecemos,
       se amig´amar,
so aquesto ramo so´l (o) (4) que nós bailemos
       verrá bailar.
____________________

(1)  So: sob
(2) Verrá: virá
(3)  Mentr´al: enquanto outra coisa
(4)  So´l: sob o qual.

      Esta é a famosa «bailia ou bailada das avelaneiras de Airas Nunes de Santiago. Uma jovem enamorada desafia as duas companheiras que com ela se encontram a bailar debaixo das avelaneiras floridas, e acrescenta: «Quem for bela, como nós somos belas, e estiver apaixonada (se amig´amar), deve juntar-se a nós para bailar debaixo destas avelaneiras». Logo, quem estiver de amores, que venha festejar a alegria de amar, bailando (e cantando).

Nota : esta poesia faz parte de uma canção do Zeca Afonso

JOÃO ZORRO

Jogral, supõe-se ter andado pelas cortes de D. Afonso III e D. Dinis. Célebre pelas suas marinhas ou barcarolas.  Vitorino Nemésio considera-o, justamente, «um dos maiores líricos medievais»

CANTIGAS DE AMIGO

En Lixboa, sobre lo mar
barcas novas mandei lavrar, (1)
     ai mia senhor velida! (2)

En Lixboa, sobre lo ler, (3)
barcas novas mandei fazer,
     ai mia senhor velida!

(B)arcas novas mandei lavrar
e no mar as mandei deitar,
   ai minha senhor velida!

(B)arcas novas mandei fazer
e no mar as mandei meter,
      ai mia senhor velida
________________
(1) Lavrar: fazer.
(2) Velida: formosa
(3) Ler: praia

      Nesta cantiga, o poeta abandona o convencionalismo de pôr o que quer dizer na boca de uma donzela. Seria então, de acordo com a «Arte de Trovar», com que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, uma cantiga de amor, mas é de conservar a designação de «cantiga de amigo», considerado o modo paralelístico que a estrutura.

MANUEL ALEGRE

Salgueiro Maia

Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende
havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.

Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem a sua regra
conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra

Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade
Diz-se o teu nome e sais de Santarém
trazendo a espada e a flor da liberdade.


GUERRA JUNQUEIRO

FALAM AS ESCOLAS EM RUINAS

A alma da infância é um passarinho;
Gorjeia o ninho e a escola chora :
Na infância cai a noite; e o ninho
Tem sobre as plúmulas d´arminho
             A aurora

A alma da infância é flor de mimosa;
A escola é triste e a flor vermelha:
Na escola paira a c´ruja odiosa,
E sobre o cálice da rosa
             A abelha

Tu fazes, Pátria, as almas cegas,
Prendendo a infância num covil.
Aves não cantam nas adegas;
Se a infância é flor, porque lhe negas
             Abril ?!

Até parece que o Guerra Junqueiro estava a ver o 25 de Abril e toda a escória de ladrões que se aproveitam do 25 de Abril para roubarem com o à vontade que se sabe, pois sabem que ninguém lhes vai aos costados. Até um dia! ...

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