quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

302-Friedrich Nietzsche

302-A Comédia do Ambicioso

A Comédia do Ambicioso

Um homem que aspira a coisas grandes considera todo aquele que encontra no seu caminho, ou como meio, ou como ratardamento e impedimento - ou como um leito de repouso passageiro. A sua bondade para com os outros, que o caracteriza que é superior, só é possivel quando atinge o seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciencia de, até aqui, estar sempre condenado à comédia pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre, como qualquer meio encobre o fim -, estraga-lhe todo o convívio, esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem demais venenoso.

Friedrich Nietzsche, in "Para Além de Bem e Mal"

Os Fortes Aspiram a Separar-se e os Fracos a Unir-se

Os Fortes Aspiram a Separar-se e os Fracos a Unir-se

O crescimento da comunidade frutifica no indivído um interesse novo que o aparta da sua pena  pessoal, da sua aversão à sua própria pessoa. Todos os doentes aspiram institivamente a organizar-se em rebanhos, o sacerdote ascético adivinha este instinto e alenta-os onde quer que haja rebanhos, o instinto de fraqueza  forma-os, a habilidade do sacerdote organiza-os. Não nos enganemos: os fortes aspiram a separar-se e os fracos a unir-se; se os primeiros se reunem, é para uma acção agressiva comum, que repugna muito à consciência de cada qual; pelo contrário, os últimos unem-se pelo prazer que acham em unir-se, porque isto satisfaz o seu instinto, assim como irrita o instinto dos fortes. Toda a oligarquia  envolve o desejo  da tirania: treme continuamente por causa do esforço que cada um dos indivíduos tem que fazer para dominar este desejo.

Friedrich Nietzsche, in "Genealogia da Moral"

Aprender a Ver
Aprender a Ver

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao-deixar-que-as coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo , a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preleminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que pôem obstáculos , que isolam.Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder de deferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo - tem que se ragir - seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ser que é a doença, decadêndia , sintoma de esgotamento - quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade filosófica de não reagir. Uma aplicação prática do-ver-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-há a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-há aproximar-se com uma tranquilidade hostil-. - afasta-se dele a mão o ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo facto pequeno, o estar disposto a manter-se, o saltar-se de um salto para dentro de outros homens  e outras coisas, em suma, a famosa  »objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.

Friedrich  Nietzsche, in "O Crepúsculo dos Ídolos"

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