358-Os Domingos de Lisboa
Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhámos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
As palavras cruzadas, o cinema ou a apa
E o dia fecha-se com um último arroto,
Mais uma hora ou duas a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa
Tu levas-me p´ra cama, onde chego já morto.
E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer´s por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores!
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
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Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruinas!...
Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda
Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhámos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
As palavras cruzadas, o cinema ou a apa
E o dia fecha-se com um último arroto,
Mais uma hora ou duas a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa
Tu levas-me p´ra cama, onde chego já morto.
E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer´s por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores!
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
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Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruinas!...
Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda
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