sábado, 4 de fevereiro de 2012

359-LUISA NETO JORGE

359-Anos 40, os Meus

De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavão alto me aflorava muito
em sonhos à noite. E sofria de asma

alma e ar reféns dentro do pulmão
(como um chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mão).
Salazar três vezes, no eco da aula.

As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola aos mais duros ganchos.
e o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos

que hoje inda esbraceja numa numa árvore passiva.
níqueis e organdis, espelhos e tropedos
acabou a guerra meu pai grita "viva".
deflagram no rio golfinhos brinquedos.

já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra cacilhas e, no céu que ressuma
névoas águas mil, um fictício arco-

- iris como é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.

Luisa Neto Jorge
poémes
Par le Feu

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