quarta-feira, 16 de março de 2011

26--UMA CANÇÃO DESESPERADA (Pablo Neruda)*


26-UMA CANÇÃO DESESPERADA

Emerge tu recuerdo de la noche en que estoy.
El rio anuda al mar su lamento obstinado.
Emerge a tua lembrança desta noite em que estou.
O rio junta ao mar o seu lamento obstinado.

Abandonado como los muelles en el alba.
Es la hora de partir, oh abandonado!
Abandonado com os cais na madrugada.
É a hora de partir, ó abandonado!

Sobre mi corazón llueven frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cueva de náufragos!
Sobre o meu coração chovem frias corolas.
Ó porão de escombros, feroz caverna de náufragos!

En ti se acmularon las guerras y los vuelos.
De ti alzaron las alas los pájaros del canto.
Em ti se acumularam as guerras e os voos.
de ti bateram as asas os pássaros do canto.

Todo te lo tragaste, como la lejanía.
Como el mar, como el tiempo. Todo en ti fué naufragio!
Tudo devoraste, como faz a distância.
Como o mar, como o tempo.Tudo em ti foi naufrágio!

Era la alegre hora del asalto y el beso.
La hora del estupor que ardia como um faro.
Era a hora alegre do assalto e do beijo.
A hora do estupor que ardia como um farol.

Aansiedad de piloto, furia de buzo ciego,
turbia embriaguez de amor, todo em ti fué naufragio!
Ansiedade de piloto, fúria de mergulhador cego,
turva embriguez de amor, tudo em ti foi naufrágio!

En la infancia de niebla mi alma alada y herida.
Descubridor perdidi, todo em ti fué naufragio!
Na infância de névoa a minha alma alada e ferida.
Descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

Hice retroceder la muralha de sombra,
anduve más allá del deseo y del acto.
Eu fiz retroceder a muralha de sombra,
caminhei mais além do desejo e do acto.

Oh carne, carne mia, mujer que amé y perdí,
a ti en esta hora húmeda, evoco y hago canto.
Ó carne, carne minha, mulher que amei e perdi,
a ti nesta hora húmida evoco e faço um canto.

Como un vaso albergaste la infinita ternura,
y el infinito olvido te trizó como a um vaso.

Como um copo albergaste a infinita ternura,
e o esquecimento infindo estilhaçou-te como um copo.

Era la negra, negra soledade de las islas,
y allí, mujer de amor, me acogieron tus brazos.
Era a negra, negra solidão das ilhas,
e ali, mulher de amor, teus brços me acolheram.

Era la sed y el hambre, y tú fuiste la fruta.
Era el duelo y las ruinas, y tú fuiste el milagro.
Era a sede e a fome, e tu foste uma fruta.
Era a dor e as ruinas, e tu foste o milagre.

Ah mujer, no sé cómo pudiste contenerme
en la tierra de tu alma y en la cruz de tus brazos!
Ah mulher, não sei como pudeste tu conter-me
na terra da tua alma e na cruz de teus braços!

Mi deseo de ti fué el más terrible y corto,
el más revuelto y ebrio, el más tirante y ávido.
O desejo de ti foi mais terrível e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais tenso e ávido.

Cementerio de besos, aún hay fuego en tus tumbas,
aún los racimos arden picoteados de pájaros.
Cemitério de beijos, ainda tens fogo nas tumbas,
ainda os cachos ardem debicados por pássaros.

Oh la boca mordida, oh los besados miembros,
oh los hambrientos dientes, oh los cuerpos trenzados.
Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos trançados.

Oh la cópula loca de esperanza y esfuerzo
en que nos anudamos y nos desesperamos.
Oh a cópula louca de esperança e de esforço
em que nós nos juntámos e nos desesperámos

Y la ternura, leve como el agua y la harina
Y la palavra apenas comenzada en lo labios.
E a ternura, leve como a água e a farinha.
E a palavra que quase nem nascia nos lábios.

Ése fué mi destino y en él viajó mi anhelo.
y en él cayeó mi anhelo, todo en ti fué naufragio!
Foi esse o meu destino e nele viajou a vontade,
e nele caiu a vontade, tudo em ti foi naufrágio!

De tumbo en tumbo aún llameaste y cantaste.
de pie como un marino en la proa de un barco.
De tombo em tombo ainda chamejaste e cantaste.
Marinheiro de pé na proa dum navio.

Aún floreciste en cantos, aún rompiste en corrientes.
Oh sentina de escombros, pozo abierto y amargo.
Ainda floresceste em cantos, ainda romposte em correntes.
Ó porão de escombros, poço aberto e amargo.

Pálido buzo ciego, desventurado hondero,
descubridor perdido, todo en ti fué naufragio!
Pálido mergulhador cego, desventurado fundeiro,
descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

Es la hora de partir, la dura e fria hora
que la noche sujeta a todo horário.
É a hora de partir, a dura e fria hora
que a noite prende a todos os horários.

El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frias estrellas, emigran negros pájaros.
O cinturão ruidoso do mar abraça a costa
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.

Abandonado como los muelles en el alba.
Sólo la sombra trémula se retuerce en mis manos
Abandonado como os cais na madrugada.
Apenas a sombra trémula se me torce nas mãos.

Ah más allá de todo. Ah más allá de todo.
Es la hora de partir. Oh, abandonado!
Ah mais além de tudo. Ah mais além de tudo.
É a hora de partir. Ó abandonado.

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