quarta-feira, 30 de março de 2011

32-S O S -PORTUGAL*

32-... Muitos respondem com o facto de o Estado ter habituado mal as pessoas, e é uma hipótese provável (a mais provável até). Podemos também lamentar o facto de a liberalização do ensino (levada a cabo pelo mesmo Presidente que hoje sugere "sobressaltos cívicos" ter servido apenas para concretizar virtualmente a sua "universidade", tendo criado nas universidades (e também nas "universidades" um monstro de licenciados que não consegue arranjar emprego. Pois bém: estes licenciados (predominantemente ligados ao Estado/serviços) não conseguem arranjar emprego porque o mercado de trabalho não lhes consegue arranjar utilidade nem valor. A utilidade que o Estado lhes foi criando e mantendo mas que se vê obrigado hoje a retirar; o valor que existe numa economia evoluida  e competitiva mas que não existe numa que se limita a sobreviver (não estamos a falar obviamente das grandes empresas) a uma máquina tributária sôfrega que serve essencialmente para resolver problemas criados pelo próprio Estdo  e principalmente pela banca.
Tudo isto parece caricato num país conhecido pelo seu bom clima, pelos seus vinhos, pelos seus móveis, pela sua simpatia, pela sua cultura, pela sua gastronomia, até mesmo pela sua moda. Num país que não é assim tão diferente de Itália, por exemplo. Já vi perguntar  por que razão se vende o mobiliário italiano em todo mundo, da mesma forma que se vendem os seus vinhos, da mesma forma que se vendem os seus carros.
E por que diabo não acontece isto connosco ?
Arrisco a segunda tese: Portugal não consegue sobreviver apesar dos seus políticos. As empresas estão demasiado dependentes do Estado, o Estado está demasiado dependente das empresas. Pois parece-me, então, que a sobrevivência da "geração à rasca" (e de todas as que ficaram "à rasca") só vai acontecer se e quando as pessoas deixarem de criar espectativas relativamente aos seus políticos  e derem como adquirido o facto de o Estado já não conseguir assegurar as prestações que assegurou outrora. Claro que é imoral  que o dinheiro dessas prestações seja esbanjado a salvar bancos da gente amiga, em compras inúteis, ordenados de gestores públicos que não produzem resultados, empresas públicas que nada têm de empresas nem de públicas, fundações e um sem fim de peças dadas como engrenagens \que nos fazem crer  que o Estado já não pode funcionar de outra forma. Pergunto: não terá chegado a altura de haver uma geração que crie fora do Estado ? Que tome conta das empresas, que lhes mostre o porquê de serem elas a perder por não a empregarem, que invente\ novas e que e revolucione as existentes ? Valerá a pena continuarmos a lamentar um Estado moribundo, uma política desprovida de pessoas competentes, um país de comentadores que subsumem o debate público às últimas declarações de um qualquer líder partidário, e nem sequer tentarmos chegar perto da "vida pública" (só lá estão os que deixámos que se mantivessem  e que legitivámos sentados em casa)? Não terá chegado a altura de voltarmos às universidades e de procurarmos melhor aquilo que o país precisa (mais do que licenciados" em cursos com nomes de hobby"), de lermos sobre o que de melhor se faz lá fora e em último caso de mudarmos de ramo (sendo que ainda vamos a tempo)?

Chegou a altura de vivermos apesar da política e não por causa da política. De interrompermos a espera pelo próximo boy, que nos vai prometer, obviamente, tudo aquilo que sabe que nunca vai conseguir cumprir mas que sabe ser essencial prometer para lá chegar (assustador é ver que líderes como Passos Coelho já nem se dão ao trabalho  de prometer o que quer que seja). Não é preciso confiar no governo para se criar valor; é preciso acreditar no país.
Eu não garanto que esta perspectiva optimista resolva o problema (nem sequer parte dele). Mas sem emprego e sem futuro chegou a altura de tentar novas armas : a rua foi um importante começo; o debate e o empreendedorismo são naturalmente o próximo passo. Se mesmo isto não resultar ... há sempre um ou outro  voo barato para o Canadá ou para a Noruega.
Pescar bacalhau soa, ainda assim, melhor que trabalhar a recibos verdes.
António Pedro Neto

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