sexta-feira, 1 de abril de 2011

33-Agora é mau, e no tempo dos nossos avós, era bom? Não, não era...

 33-Sim: há trinta ou cinquenta anos atrás, as «oportunidades» (seja lá o que isso for), não se encontravam no estado de rarefacção  actual. Havia, como diria o meu pai, «muito caminho para desbravar». Sim, é verdade: hoje a competição  é maior e para o mesmo osso saltam, esfomeados, demasiados cães (que me desculpem a imagem). Mas é preciso ser-se muito míope para não aceitar  e reconhecer várias coisas.

A primeira: o mundo mudou e, com ele, os «paradigmas», a sociedade, os mercados (incluindo o do trabalho). Em perspectiva, essa mudança não foi sinónimo de pobreza, miséria ou desespero. Pelo contrário: os níveis e padrões de vida são hoje incomensuravelmente superiores aos de trinta, cinquenta, cem anos atrás. Mais: a liberdade de escolha e a mobilidade são hoje maiores, com os benefícios daí recorrentes  a suplantar os prejuízos. Duvido muito que um jovem adulto tenha, hoje, a cabeça formatada para aceitar um «emprego para a vida». Sim, existe mais «precaridade» se aferirmos a duração média de um determinado emprego, mas a liberdade de escolha e de movimento é maior, por via, também, da formação e da educação. Há cinquenta anos atrás, um jovem filho de assalariados rurais, não tinha grande escolha quanto ao futuro. Hoje em dia, tem. Pouco? Talvez. Mas muito mais do que o avô.

A segunda: vejo por aí demasiados «jovens» agarrados, e sem parecem estar propriamente muito incomodados, ao ócio e à doce e indulgente protecção paternal. Se queremos assacar responsabilidades a alguém, neste putativo impasse existencial em que vivem, desgraçados, os «jovens», não é ao Estado, à legislação laboral, ao neoliberalismo ou à Sra. Merkel, mas antes à educação e a um ambiente faliliar pouco exigente (reparem que rejeito a palavra «competitivo»), facilitador e excessivamente protector. Hoje, o menino quer um carro, o menino tem um carro. Hoje, o menino quer viajar, o menino vai viajar. Hoje, o menino  está deprimido, passa-se a mão pela juba do menino, coitado, que os tempos são cruéis. Hoje, ao menino oferece-se um trabalho «desprestigiante» há que estar ao lado do menino quando ele disser «que horror, não nasci para isso». Nas últimas décadas, produziu-se a uma velocidade estonteante uma casta de «jovens» que, no que toca à garra, à vontade de lutar e trabalhar, mataria de vergonha os seus antepassados (que, é bom dizer-se, em 99,99% dos casos viviam muito pior).


Não me comovo, por isso, com a ladainha dos Deolinda. As estradas e as fronteiras - as físicas e as outras - estão desimpedidas. Como nunca, aliás, estiveram. Port isso, mexam-se, meus queridos. Não sejam parvos.

Música dos "DEOLINDA"

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