segunda-feira, 30 de maio de 2011

128-Carlos Drummond de Andrade*

128-Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo erm que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já  não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
        E A VOZ INCONFUNDÍVEL
        DA  IRLANDESA  "ENYA"

sábado, 28 de maio de 2011

127-BERTOLT BRECHT

127-Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz  além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
Isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que chegou, que há aí que o retenha
E nunca será;  ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.

Bertolt Brecht

terça-feira, 24 de maio de 2011

126-POVO COBARDE E EMBRUTECIDO, o português

126-"Assim, muito melhor do que os portuguses, eles conhecem as razões da miséria nacional. Na UE, todos sabem que a causa número um  está nos próprios portugueses. Que em todos os países, se se deixassem os políticos à rédea solta aconteceria o mesmo que cá se passa. Que a única forma de assegurar a honestidade dos políticos não é votando ora num partido de corruptos, ora noutro. Os animais políticos, em qualquer país, têm que ser obrigatoriamente controlados. Eles sabem que a constituição portuguesa é uma farsa de democracia, pois não permite que o povo exerça o seu direito, acabando por resultar o que se vê, mas sabem também que ao povo e a mais ninguém  - excluindo representações, deputados e governos - corrigir o que está mal, exigindo uma nova constituição democrática  ou a sua completa remodelação, restituindo ao povo os seus direitos soberanos."

"Ainda que haja outras causas, como as publicadas neste post. Este post contém a lista do que todos queremos que os partidos incluam no seu programa e que eles se recusam. Estas medidas são de uma importância muito superior a todas e quaisquer medidas que os partidos possam apresentar por os seus dois alvos são a eliminação da corrupção e o nivelamento da população. É disto que o mundo sabe que depende o progresso de qualquer país, pelo que todas as outras medidas são secundárias. É a única mudança estrutural que os partidos escondem e que o PSD conspurca com o seu slogan de mudança. Sem isto não há a mudança estrutural necessária e um partido que não as coloque no seu programa não merece um único voto."

"O grosso da dívida foi utilizado para permitir que a população vivesse como nos países ricos, mas sem produzir. Os outros europeus também o sabem. É do conhecimento de todos que começou com o governo de Cavaco. Ou já se esqueceram de como um povo miserável de repente desatou a comprar electrodomésticos desenfreadamente, casas, tudo? De onde vinha o dinheiro? E ainda destruiu a agricultura, as pescas e a indústria. Sem elas ainda há hoje pategos que crêem parvamente que a miséria vai terminar em 2013. Nem dez anos; talvez jamais se chegue a viver como um país médio. Que povo mais parvo que cai em todas as armadilhas, sem se dar conta dos logros porque já passou. Um povo que não aprende com os seus erros é um povo condenado."

"Os governos (todos sem excepção) endividaram o país para o povo viver como os trabalham e produzem e serem votados. Os outros europeus sabem-no. Fizeram isto com êxito porque os jornaleiros embruteceram a populaça e convenceram-na de que isso era justo, correcto, bom para todos e democrático (!). Foi isso principalmente, que inchou a dívida nacional. Basta comparar um gráfico que apresente os montantes anuais dos fundos europeus de coesão recebidos com um outro sobre o endividamento anual do país. Não é por acaso que são inversamente  proporcionais. O dinheiro foi usado para manter a população  contente como com morfina em lugar de desenvolver o país. Todos os governos fizeram exactamente o mesmo, donde a culpa foi igual. Nem mais, acordem. Culpar o partido que se encontre  no governo na altura de pagar a factura é exactamente o que nos outros países se reconhece hoje como uma confissão de estupidez, atraso mental dos portugueses para compreenderem os seus problemas e incapacidade para os resolverem."
4º.andamento da 4ª Sinfonia de joly
Braga Santos

domingo, 22 de maio de 2011

125-Uma lição de ironia

125-Numa boa entrevista conduzida por Tiago Pereira  para o jornal i, o escritor Onésimo Teotónio Pereira - açoriano  radicado nos Estados Unidos, o que leva a encarar o Atlântico como "um  rio" - ensina-nos através de uma pequena história o que é a ironia, arte muito pouco cultivada em Portugal.
A história é esta:
"Um tipo vai a uma casa de chá, onde estão duas senhoras educadas, e pergunta: "Há aqui algum sítio onde se se possa mijar?" As senhoras respondem: "Olhe, o senhor naquele corredor vira à direita, na segunda porta está escrito cavalheiros". Não faça caso, entre."
Admirável ironia, tão rara aos nossos ouvidos, muito mais treinados para escutar sarcasmos.
Pedro Correia

sábado, 21 de maio de 2011

124-VÍDEO - A garota de IPANEMA*

124-"A GARORA DE IPANEMA"     Tom Jobim  - Vinicius de Moraes
                         

sexta-feira, 20 de maio de 2011

123-PARVOÍCES

123-Parvoíces

Daquilo que se vai sabendo, sabendo também que muito daquilo que se sabe são "bocas" para ver se pega, o empréstimo em tranches que aí vem é composto por, aproximadamente, um terço do dinheiro do FMI e o restante dos nossos amigos europeus. O FMI empresta os carcanhóes a juro razoável, os nosos amigos fazem negócio chorudo com o graveto que regateiam. O FMI gostaria de nos ver a produzir cereais, os nossos amigos gostariam que nós lhos continuassem a comprar. O FMI gostaria de nos ver a apanhar peixe, os nossos amigos gostariam que apanhássemos o plástico do mar. O FMI gostaria de se ver livre de nós, os nossos amigos querem-nos sugar o tutano.

Dos 78 mil milhões, 12 mil milhões vão para os sistémicos e mais trinta e cinco mil milhões são para garantias (números redondos, porque para o comum dos mortais, mil milhões têm significado nulo por impossibilidade de imaginar o que representam), mais uns quantos mil milhões são para pagar os juros do empréstimo. Os cidadãos pagam tributo feudal (ponto final). Entretannto continuam a chegar cartas com aumento dos plafonds de crédito ao consumo e ofertas de aquisição, em prestações, dos mais diversos néctares e prazeres.

No dia 5 vamos votar. Votar nos políticos, claro, porque os verdadeiros decisores não vão nessa cantiga.

Não é uma geração parva, mas o país inteiro.
LNT

Ontem, vi na TV, o Sr. Silva de Boliqueime, rodeado de um grupo de jovens,  a incentivá-los a trabalhar como futuros agricultores. O homem que, quando da entrada de Portugal na CE, abandonou a agricultura e incentivou os pescadores a vender os seus apetrechos de pesca, vem agora a dizer o contrário.
         Se vivessemos numa verdadeira democracia, com os poderes controlados pelo povo, gente desta já estaria na prisão hà muito tempo.
         Mas como temos o povo que temos, e não o podemos dissolver  para eleger outro, o melhor é irmos ouvir a suite Alentejana (Fandango), de Luis de Freitas Branco.
Suite Alentejana (Fandango)
de Luis de Freitas Branco

domingo, 15 de maio de 2011

122-Gheorghe Zamfir*

                                 122- Gheorghe Zamfir em    "Einsamer Hirte"

Agora vamos ouvir um pouco o conceituado romeno Gheorghe Zamfir, o grande interprete e virtuoso da Flauta de Pã. É um instrumento que não é para todos, é preciso uma grande caixa de ar para ser tocado.          "My heart will go on" faz parte do tema musical do filme TITANIC, e é interpretada pela Celine Dion, aqui musicado por Gheorge Zamir com Flauta de Pã.
                         Gheorghe Zamerfir em "My heat Will Go On"
                    
Gheorghe Zamfir em   "Love Story"
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmM

sábado, 14 de maio de 2011

121-Walt Whitman

121-De um dos maiores poetas
americanos de sempre:


Quando analiso a Conquistada Fama


Quando analiso a conquistada fama dos heróis
e as vitórias dos grandes generais,
não sinto inveja desses generais
nem do presidente na presidência
nem do rico na sua vistosa mansão;
mas quando eu ouço falar
do entendimento fraterno entre dois amantes,
de como tudo se passou com eles,
de como juntos passaram a vida
atrvés do perigo, do ódio, sem mudança
por longo e longo tempo atrevessando
a juventude e a meia-idade e a velhice
sem titubeios, de como leais
e afeiçoados se mantiveram
 - aí então é que eu me ponho a pensativo
e saio de perto à pressa
com a mais amarga inveja.


Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

sexta-feira, 13 de maio de 2011

120-UM POEMA de W.B.Yeats

120-THE LAKE ISLE OF INNISFREE

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made:
Nine beanrows will  I have there, a hive for the honeybee
And live alone in the bee-lound glade.
And I shall some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of morning to where the cricket sings;
There midnight´s all a glimmer, and noon a purple glow.
And evening full of the linnet´s wings.
I will arise an go now, for always night and day
I hear lake water lapping with low sounds by the shore;
Wile I stand on the roadway, or on the pavements grey,
I hear it in the deep heart´s core.

A ILHA DO LAGO DE INNISFREE

Partirei para Innisfree,
E aí uma cabana edificarei, uma cabana de argila e canas:
Plantarei nove renques de feijão e haverá uma colmeia,
E solitário entre o rumor das abelhas viverei.
Alguma vez desfrutarei, porque como lenta gota é a paz,
Desprendendo-se dos véus da manhã até ao lugar onde o grilo canta;
Eis aí a meia-noite de esplendor, o meio dia de fulgurante púrpura,
E uma plenitude de asas cantantes o entardecer.
Ergo-me e vou, parto com a noite, parto com o dia,
Oiço as águas do lago, o seu mumúrio junto à costa;
Seja pelos caminhos, seja pelas sombrias ruas,
Oiço esse murmúrio no mais fundo do coração.

W.B. Yeats

terça-feira, 10 de maio de 2011

119-LÁGRIMA DE PRETA*

         119- LÁGRIMA DE PRETA

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analizar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterizado.

Olheia-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota                 
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e o sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

sábado, 7 de maio de 2011

118-CICLO VICIOSO

118-Quer o queiramos reconhecer ou não, sabemos o que provocou a crise nacional agravada pela mundial, esta por causa dos especuladores. Após tanto se falar, ainda que encoberto pelos corruptos e pela desinformação jornaleira, as razões têm vindo à tona e fala-se agora abertamente, ainda que evitando de as ligar: a falta de produção (e daí de exportação) e um consumo exagerado num país que não produz. A queda de produção num país que ainda que pobre conseguia subsistir chegou-nos por dois caminhos.

Um, foi a destruição da agricultura enquanto os outros países europeus a reestruturaram. Foi o abate quase completo da frota de pesca, passando a importar-se o peixe dos países que remodelaram a sua. Foi ainda o desmantelamento da indústria em mãos nacionais de que os industriais portugueses se queixaram por ter sido entregue a empresas estrangeiras (o tal tão gabado investimento do exterior) sem que ninguém lhes desse ouvidos.

Um dos outros caminhos para a miséria actual veio do roubo, esbanjamento e mau uso dos tais fundos de coesão europeus recebidos precisamente para armar o país para a concorrência e desenvolvimento futuros, mantendo-o produtivo.

Estas destruições, orquestradas pelos governos de Cavaco foram completadas já no tempo de Guterres, que fugiu por ter vislumbrado o que aí vinha e saber que já nada mais podia fazer do que acabar de cumprir os acordos de Cavaco.

Se nos lembrar-nos do que é um pouco mais recente, Portugal continuou ainda a receber avultadas quantias da UE, mas nenhum governo mais tentou sequer remediar os estragos, donde a culpa é a dividir por todos, sem excepção. Ou seja, à sua maneira todos colaboraram para a miséria do país. Por isso que se os partidos se acusam reciprocamente pela miséria actual, uma chachada, e nenhum se atreve a mencionar as verdadeiras causas, anteriores, de que são culpados e que são a autêntica fonte da desgraça nacional. Incomparavelmente muito mais grave e que provocou a queda. Com a ajuda duma verdadeira desinformação jornaneira que encobre a corrupção, nem se atrevem a tocar no assunto porque, como diz o ditado, "quanto mais se mexe na merda mais mal ela cheira".

A fim de manter a população contente, os governos da UE para sacar votos aos incautos improdutivos, incuntindo-os a gastar quanto podiam. Para tanto, facilitaram o crédito para todos os gastos improdutivos,  empurrou as pessoas para comprar casa e habituou-os as viverem acima dos seus meios, ou seja, a gastar 100.000$00 por mês quando ganhavam 80 ou 90.000$00. Isto em lugar de aproveitarem o algum dinheiro que ainda vinha para investir nalguns meios para o progresso do país.

Em nenhum país a população jamais comprou tantas casas como os pelintras nacionais. A falta de controlo das rendas tem feito parte do plano para estimular as compras. Há rendas extremamente baixas e outras incrivelmente altas. Não existe um controlo como em países democráticos, em que tribunais especiais anulam os contratos de arrendamento de montantes exagerados após avaliação oficial e obrigam o senhorio a baixar a renda. É uma autêntica paródia onde em tudo rouba mais aquele que tiver melhor ocasião.

Quando a fonte secou e a torneira se fechou, os corruptos,  que há muito já tinham todos enriquecido, com um tipo de roubo ou outro, incluindo as reformas astronómicas. (criticadas pela UE), prosseguiram com os mesmos métodos de roubo. Começaram a aumentar os impostos, mas ainda assim o dinheiro não chegava para compensar a vida a que os corruptos tinham habituado a viver um povo que não deixou de produzir e exportar, como se tornou viciosamente mandrião, julgando que trabalhar era marcar presença. Fizeram-se muitas greves por meio tostão, porém nenhuma no sentido de remediar o verdadeiro mal. Era tudo apenas para uso imediato: o trabalho, os gastos, as greves.

Entretanto, a construção movimentava rios de dinheiro, dando a ilusão de progresso económico quando na realidade só os construtores - nas mãos da corja política - lucravam. Todo este burburinho da construção era só cá dentro, nada era exportado, ou seja, era mais um gasto nacional.

Quando os fundos europeus terminaram, as seitas mafiosas, mas cobardes, não quizeram confessar o que tinham feito do país. Que fazer, então, para continuarem a passar por santos e sacarem os tão necessários votos que lhes davam a tão desejada imunidade ao roubo ? Só havia um caminho: afundar cada vez mais o país com empréstimos junto das financeiras internacionais para permitir que a população lerda, convencida por eles de que que entrou na UE não precisava mais de trabalhar, continuasse a gastar mais do ganhava numa euforia suicidária.

E assim cresceu a dívida nacional, cada ano mais, inversamente à diminuição gradual de entrada de fundos europeus. Uma olhadela ao crescimento da dívida revela bem esta autenticidade: quanto menos se recebia anualmente da UE maior era o aumento do endividamento externo. A dívida é pois quase totalmente da população por ter vivido muito acima dos seus meios - do que só um tolo poderia esperar consequências diferentes. Ao que constata os tolos abundam.

Sabemos como foi, mas certamente existem incrédulos incapazes de acreditar que tudo isto pudesse ter acontecido sem que ninguém lhe tivesse feito a mínima alusão (sem que ninguém os «alertasse», dirão os papagaios que tão bem imitam os iletrados que mais colaboraram para a sua desgraça). Então não se tem sempre afirmado neste blog que os segundos culpados do estado da nação são os jornaleiros desinformadores e anti-sociais que nos escondem aquilo que nos devem contar e quando o fazem é encenado (mentem, encobrem, escolhem música e actores), fazem scoops, manipulam as informações, tentam modificar as opiniões gerais. Oh, não acaba aqui, mas se fôssemos continuar nunca mais acabaríamos os louvores a essa canalha imunda e nojenta de rascas pedantes.

Os portugueses são um povo estúpido, tal como os outros paízes europeus o sabem. Não eram assim conhecidos, não, porque foram estes canalhas que os embruteceram. Escondendo-lhes como vivem, trabalham e procedem os povos mais ricos, condenaram-nos à miséria mental e à pobreza por os impossibilitarem de trabalhar e ganhar como os outros.

Em lugar de nos informarem tudo esconderam em perfeita colaboração com as máfias, permitindo que elas tenham operado do modo que nos arrastou até ao fundo da cloaca onde chafurdamos. Incharam os miseráveis, fazendo-os crer que eram um povo avançado, inteligente e informado, quando ocupam a ponta da cauda da Europa, comem travias que os engordam e adoecem e chamam-lhes manjares. Os turistas evitam comer nos restaurantes a que nós chamamos normais, e como os capazes são tão poucos e mais caros, comem sandes; não lhes cai bem, fazem-lhe mal as delícias nacionais. Os jornaleiros fizeram os estúpidos acreditar que era tradição nacional comer bacalhau no Natal e os pobres diabos desataram a cumprir o que lhes impingiram. Os portugueses são hoje o povo mais rasca e atrasado da Europa e é assim que há já uns bons anos é conhecido.

Os portugueses de hoje são indivíduos pouco inteligentes, estúpidos, teimosos, ignorantes, com pouco entendimento, sem conhecimentos gerais. Estes atributos são os que se encontram num dicionário comum como definição do substantivo burro. Enquanto não o entenderem continuarão a piorar, de acordo com o que escreveu Victor Hugo na década de 1880. «a ignorância é a mãe da estupidez». Foi o que aconteceu em consequência do embrutecimento administrado aos portugueses pela mentira contínua da desinformação anti-social arquitectada por jornaleiros rascas e mal intencionados, de que a corrupção política tem sabido tirar tanto proveito quanto tem podido. Sane-se em toda a Europa e só os portuguses o têm ignorado pela mesma simples razão: tem-lhes sido escondido, têm sido enganados como mamões.

Clamam agora, os políticos e os jornaleiros, de que não há solidariedade na UE dar a Portugal o dinheiro intencionalmente estoirado e roubado pela corrupção política e quererem viver acima das suas possibilidades e nada produzirem. Francamente, se outro país tivesse feito o que Portugal fez, quereriam os portugueses pagar-lhes para sairem do buraco em que se meteram conscientemente? Porque foi conscientemente que chegámos onde nos encontramos: permitimos que os políticos o fizessem.

Enganados pelos jornaleiros ou não, tinhamos obrigação e responsabilidade de corrigirmos aqueles a quem pagamos para serem nossos mandatários e não nossos mandantes. Eles não representam a vontade daqueles que os elegeram e a maioria dos escolhidos nem eleitos foram. Idem quanto à justiça que também não foi metida na ordem, duramente criticada por toda a Europa devido à sua incapacidade mândria e colaboração dos juízes com a corrupção política que se recusam a investigar.

Por todos estes factos tampouco nos reconhecem como democracia - o que evidentemente não somos e devemos compreender e admitir que os corruptos nos atiram com a palavra à cara para se aproveitarem dela convencendo-nos a deixa-los roubar-nos -, sobretudo agora, com mais uma prova dada, cada partido em conversação (a que chamam impropriamente negociação) com a delegação do FMI e da UE.

Os portugueses ainda não aprenderam a não acreditar, muito menos confiar em políticos. Continuam convencidos de que devem votar no seu partido ou noutro para uma mudança. Que irrealismo! Até o compreenderem eles continuarão a trata-los como objectos a espoliar. Continuam a ler-se opiniões de lorpas sobre em que partido votar para mudar. como se votar nos mesmos ou noutros, mudando máfia no poder, lhes pudesse resolver os problemas, tal a inconsciência e a ignorância. Sem por rédeas e cabrestos nesses animais nada continuará, só as aparências.


sexta-feira, 6 de maio de 2011

117-TOADA DE PORTALEGRE, de José Régio*

117-José Régio nasceu em Vila do Conde mas viveu a maior parte da sua vida em Portalegre, onde foi, durante muitos anos, professor do liceu de Portalegre. A casa onde viveu, e que eu já visitei, está hoje transformada em museu, mesmo em frente ao cemitério junto de grandes ciprestes. O poema "Toada de Portalegre" foi escrito nesta casa. A Casa-Museu José Régio.
   
     TOADA DE PORTALEGRE

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveira e sobreiros,
Morei numa casa velha,
Velha, grande, tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...

Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia de ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
--Quis-lhe bem, como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como ao do meu aconchego.
.....................................
.....................................
COM A INESQUECÍVEL
VOZ DE JOÃO VILLARET

quinta-feira, 5 de maio de 2011

116-JOSÉ RÉGIO

116-CÂNTICO NEGRO, de José Régio, interpretado por João Villaret

Não, não por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "Vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre nas vosas veias sangue velho dos avós.
E vós amais o mais fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

115-RECADO A LISBOA

115-Talvez que o grande poeta Teixeira de Pascoais tivesse razão ao defender acérrimamente a saudade e saudosismo como um atributo da alma portuguesa.
     Comigo acontece esta coisa enigmática: moro no Fundão, fisicamente estou no Fundão, mas não vivo no Fundão. O meu pensamento, o meu espírito, a minha alma vagueia pelo sítios da minha juventude: estou na Graça, na Estrela, no Bairro Alto, na Rua da Palma, estou em Campo de Ourique, em Alfama, estou na Madragoa. Por isso gosto muito de ouvir este belo poema de João Villaret:

   RECADO A LISBOA

Lisboa, querida mãezinha
Com o teu xaile traçado
Recebe esta carta minha
Que te leva o meu recado

Que Deus te ajude Lisboa
A cumprir esta mensagem
De um português que está longe
E anda sempre em viagem
Vai dizer adeus à Graça
Que é tão bela, que é tão boa  
Vai por mim beijar a Estrela        
E abraçar a Madragoa

E mesmo que esteja frio
E os barcos fiquem no rio
parados sem navegar
Passa por mim no Rossio
E leva-lhe o meu olhar
Feira da Ladra - Lisboa
(a voz de Hermínia Silva)

  *************************************                                             

CONTINUANDO COM JOÃO VILLARET, QUE TAL
          "O Fado Falado"   
    Quadro de José Malhoa: "A Severa"

***********************************

FERNANDO PESSOA /  JOÃO VILLARET


LIBERDADE


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.


O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


O mais de isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

114-MAS MUDEMOS UM POUCO DE TEMA*

114-E se fossemos ouvir um pouco de música por dois artistas a sério, em dueto.  Ele catalão e é o famoso tenor José Carreras. Ela portuguesa, com uma bonita voz, e é Dulce Pontes.

domingo, 1 de maio de 2011

113- CRISE PORTUGUESA

113-Jaques Amaury, sociólogo e filósofo, professor na Universidade de Estrasburgo
                                                           ______________________          

Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.

Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da União.

Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais que poderiam hoje ser um sustentáculo.

Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximo deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.

A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que, com as alterações governativas, permaneçam transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Pública, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.


Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido  Socialista) que está no Governo e o PSD (Partiso Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado.
Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro, na linguagem popular, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido Comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta e portanto longe das relidades actuais.


Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré fabricada não encontra novos instrumentos.


Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é ofericida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à indústria e comércio, à banca e com infiltrações acionistas de vários paízes.


Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o"chefe" recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.


A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A seleção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho, enquanto o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes foi notória.


Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e po isso, "non gratas" pelo establishment, onde possam dar luz as novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfeno que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.


Só uma comunicação, não vendida e alienante, pode ajudar a população a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, e exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.


112-MAIO MADURO MAIO*

112-Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem que quebrou o encanto
nunca te amou
Raiava o sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul

Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar
Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre no mês do trigo
se cantará
Qu´importa a fúria do mar
Que a voz não te esmorteça
Vamos lutar

Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu