quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

18-PORTUGAL

18-PÁTRIA

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

 - Pedra  rio  vento  casa
Pranto  dia  canto  alento
Espaço  raiz  e  água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo

EXÍLIO

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e po renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Ás vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lemvra reis

Faz renascer  meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o migafre

Pois a gente que tem
O rosto desanhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto a renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
                        (Geografia)

Sem comentários:

Enviar um comentário