quinta-feira, 31 de julho de 2014

1443 - «NÃO ESQUEÇO OS MORTOS» ANTÓNIO REIS

1443

«NÃO ESQUEÇO OS MORTOS...»

Não esqueço o mortos

Não esqueço os heróis

Não esqueço 
o luto
das famílias

todos silenciosos

Denuncio
publicamente
a nossa cobardia

e quem mente

ANTÓNIO REIS

sexta-feira, 25 de julho de 2014

1441 «CASTELO DE LOULÉ» - LOULÉ, ALGARVE (PORTUGAL)

1441



Castelo de Loulé - Loulé, Algarve (Portugal).

O castelo de origem árabe, reconstruído no séc. XIII, possuía um grande perímetro amuralhado, parte do qual ainda é visível.

Voltada para a Rua da Barbacã destaca-se uma torre albarrã, de alvenaria, datada da Baixa Idade Média. Outra das torres visíveis é a denominada Torre de Vela, também esta uma torre albarrã, de taipa, localizada na antiga Rua da Corredoura, actual Rua Engenheiro Duarte Pacheco, e perto desta destaca-se a Porta de Faro, que ainda conserva traços da primitiva construção almóada. No arrabalde sul, ou Mouraria, à saída da Porta de Faro, após a reconquista, foi destinada uma área aos mouros forros que receberam foral de D. Afonso III, em 1269. Era nestas ruas que estariam localizadas as instalações artesanais, a comprovar pelos topónimos outrora ou ainda hoje existentes.
Não existem vestígios da primitiva alcáçova, no entanto pressupõe-se que estaria situada no mesmo local onde hoje se encontra a alcaidaria que alberga vários espaços culturais (Museu Municipal; Cozinha Tradicional; Centro de Documentação com hemeroteca, fototeca, bibliografia e estudos variados sobre a história local e regional, personalidades, acontecimentos e outros).
Conservam-se, pela cidade, as muralhas almóadas de taipa, construídas, ou pelo menos, reforçadas no século XII, as quais são visíveis em pequenos tramos, camuflados por casas que foram sendo construídas adossadas à mesma, e outros panos de muralha que foram sendo descobertos em recentes intervenções efectuadas pela autarquia.
[Fonte: CM de Loulé].

+Foto de autor não identificado+

Castelo de Loulé - Loulé, Algarve (Portugal).

O castelo de origem árabe, reconstruído no séc. XIII, possuía um grande perímetro amuralhado, parte do qual ainda é visível.
Voltada para a Rua da Barbacã destaca-se uma torre albarrã, de alvenaria, datada da Baixa Idade Média. Outra das torres visíveis é a denominada Torre de Vela, também esta uma torre albarrã, de taipa, localizada na antiga Rua da Corredoura, actual Rua Engenheiro Duarte Pacheco, e perto desta destaca-se a Porta de Faro, que ainda conserva traços da primitiva construção almóada. No arrabalde sul, ou Mouraria, à saída da Porta de Faro, após a reconquista, foi destinada uma área aos mouros forros que receberam foral de D. Afonso III, em 1269. Era nestas ruas que estariam localizadas as instalações artesanais, a comprovar pelos topónimos outrora ou ainda hoje existentes.
Não existem vestígios da primitiva alcáçova, no entanto pressupõe-se que estaria situada no mesmo local onde hoje se encontra a alcaidaria que alberga vários espaços culturais (Museu Municipal; Cozinha Tradicional; Centro de Documentação com hemeroteca, fototeca, bibliografia e estudos variados sobre a história local e regional, personalidades, acontecimentos e outros).
Conservam-se, pela cidade, as muralhas almóadas de taipa, construídas, ou pelo menos, reforçadas no século XII, as quais são visíveis em pequenos tramos, camuflados por casas que foram sendo construídas adossadas à mesma, e outros panos de muralha que foram sendo descobertos em recentes intervenções efectuadas pela autarquia.
[Fonte: CM de Loulé].


26 linhas)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

1440 - «CANÇÃO» - ANTÓNIO NORTON

1440

CANÇÃO

Canto o que apetece cantar.
Semente na lama, semente nas landes,
Espuma nas ondas,
Lagarta no fruto ou búzio no mar.

O cavalo com olhos de sono que anda à volta da nora,
E o peixe com olhos de vidro que anda à volta do aquário

O rodar constante e vário
Que anda à voltra duma hora.

Canto os teus olhos de água transparente,
E as medusas, que não precisam de olhar.

E o corpo da moça que estava na eira,
E a estrela da areia que estava no mar.

Ergo-me na ponta dos pés e canto
Na tua boca um beijo,
Alga e árvore que és.

ANTÓNIO NORTON


quarta-feira, 23 de julho de 2014

1439 - «OCUPAÇÃO DO ESPAÇO» - ANTÓNIO RAMOS ROSA

1439

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO

Assim te insurges, leal, frente ao silencio.


O mesmo espaço visível , ocupa-o.
Conjugações, nexos, ampo vazio,
um campo côncavo em arco
ocupa-o.

Amanhã seraá sempre hoje este momento.

Outro, pleno e vão.
Fronte aberta,
olhando lentamente,
clara, dispersa união.

Em ti mesmo dá lugar ao espaço.


Do sono calmo emerge,

branco surto da sombra em movimento,
à procura de si, de um ombro
em que pouse, contorne
e demorando-se
se propague e desvaneça na brancura.

Um olhar único pousando

dá tempo ao espaço que se curva,
bacia ou anca aberta,
precisa inundação límpida e vasta,
precipitadas, ondulantes linhas,
fulguração branca
-- praia que se prolonga.

ANTÓNIO RAMOS ROSA





1438 -« FREGUESIA DE SÃO MATEUS ILHA TERCEIRA AÇORES»

1438

FREGUESIA DE SÃO MATEUS
ILHA TERCEIRA AÇORES

segunda-feira, 21 de julho de 2014

1437 - «FOI EM CRETA« - NATÁLIA CORREIA

1437

«FOI EM CRETA...»

Foi em Creta     No azul fêmea do Egeu

as naves embalavas ó sopro de Anaíta!
Tua pele esticada era o tambor da noite
cada homem era o dom de ouvir a tua cítara

Comovidas pulseiras tangias nos teus braços

piedosas avelâs escorriam dos teua cílios
aravam tua terra mamíferos afagos
cada homem era um príncipe no teu campo de lírios

Teu levantar de saias ó resplendor de púbis!

o joelho agressivo das espadas flectia
e na face dos homens deixavas e penugem
das nuvens aniladas que nas ancas movias

Eras mansa eras dança e génio de balança 

que as estações pesava   Fazias sol chovias
cada homem enchia com frutos o teu crânio
e  na alma caíam as roupas que despias

Eras mãe eras virgem eras cabra na cama

o vento que as mulheres menstruadas faziam 
eras tanta eras santa e a catedral de açúcar
que as pernas das amadas naturalmente abriam

Foi em Creta que as têmporas da Europa

premeditou no húmus do ventre dançante
Cada homem era a cauda torrencial do filho
bebida pela boca dourada do amante.

                                                        (Mátria)

NATÁLIA CORREIA

domingo, 20 de julho de 2014

1436 - «ELEVADOR DA GLÓRIA« - LISBOA PORTUGAL

1436

Elevador da Glória - Lisboa - Portugal

O Ascensor da Glória, popularmente referido como Elevador da Glória, localiza-se na cidade de Lisboa, em Portugal. É um dos funiculares operados pela Carris, e liga a Baixa (Praça dos Restauradores) ao Bairro Alto (Jardim de São Pedro de Alcântara).1 Destes é o mais movimentado , chegando a transportar anualmente mais de 3 milhões de passageiros.
Construído pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard , foi inaugurado em 24 de outubro de 1885, constituindo-se no segundo do género implantado na cidade por iniciativa da Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa. O sistema de tração original era de cremalheira e cabo equilibrado por contrapeso de água, passando mais tarde a ser a vapor. Em setembro de 1915 passou a ser movido por eletricidade.

Até finais do século XIX, durante as viagens noturnas a iluminação dentro da cabine era feita com velas.
Desde fevereiro de 2002 encontra-se classificado como Monumento Nacional.
Wikipédia.


sábado, 19 de julho de 2014

1435 - «HOJE LEVANTO A GUERRA» ANTÓNIO ARAGÃO

1435

«'HOJE LEVANTO A GUERRA...»

Hoje levanto a guerra no teu palpite
e jogo o teu perfil no totobola.

é da (tr)eva
o sangue que de ti se me inclina.

então encosto-me ao (ru)ído do teu corpo
e mais exactamente
entre ti e a gramática disso (gu)ardo
um jogo (conde)nado.

e hoje pago um pássaro sem voo nem
alimento
ah, mas a verdade de tudo isto é que
em janeiro tocarei telefonia.

ANTÓNIO ARAGÃO

quinta-feira, 17 de julho de 2014

1434 - QUEM SOMOS NÓS FILME COMPLETO DUBLADO

1434
QUEM SOMOS NÓS FILME COMPLETO
DUBLADO


1433 - «REGRESSO À MONTANHA» SEBASTIÃO DA GAMA

1433

REGRESSO À MONTANHA

Regresso
-- nem triste nem alegre: receoso....

E o marulhar das ondas é o mesmo...
A mesma, a cor do Mar... A maresia
tem sobre mim o mesmo sortilégio...
E o mato cheira como dantes...Fala
comigo como dantes, reza, escuta...
E o perfil da Montanha, como dantes.
adoça-se no escuro...
E a canto da Noite, recolhido,
mudo de tão feliz, o Adolescente...

SEBASTIÃO DA GAMA

terça-feira, 15 de julho de 2014

1432 - «ANUNCIAÇÃO» SEBASTIÃO DA GAMA

1432

ANUNCIAÇÃO

-- Quem bateu? Ouviste?
Tão de manso..., tão...
-- Meu Amor,, é gente,
meu Amor, ou não?

-- Se será o Anjo

para anunciar!'
-- Fosse a noite calma,
fosse o vento brando,

viria..., viria...

Mas assim, Amor?
Oh!  a alma frágil
nesta ventania?

-- Meu Amor, vais ver?...

-- Meu Amor, pois vou...
-- Que perfume é este?
Esta luz que entrou,

esta paz que veio

p´lo postigo dentro?
-- Meu Amor não vês?!
Meu Amor não sentes?!

SEBASTIÃO DA GAMA


1431 - CASTELO DOS MOUROS - SINTRA PORTUGAL

1431
CASTELO DOS MOUROS
SINTRA PORTUGAL

domingo, 13 de julho de 2014

1429 - «MEU PAÍS DESGRAÇADO» - SEBASTIÃO DA GAMA

1429

MEU PAÍS DESGRAÇADO

Meu país desgraçado!...
E no entanto há sol a cada canto
e não há Mar tão indo noutro lado
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas...

Meu país desgraçado!..
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos em fé
-- busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos 
que te deram a terra, o Sol, o Mar
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah! visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
-- olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!

                            (Cabo da Boa Esperança)

SEBASTIÃO DA GAMA



sábado, 12 de julho de 2014

1428 - COPA DO MUNDO ENTRE CACHORROS

1428



Humor do Cão

Compartilhada publicamente  -  Ontem à(s) 13:12
Nós, os cães, também fizemos uma Copa do Mundo de Futebol.

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1427 - «OS POBRES TRABALHAM CEDO...» JOÃO APOLINÁRIO

1427

«OS POBRES TRABALHAM CEDO...»

Os pobres trabalham cedo

Cedo começam a vida
Tudo neles é sempre cedo
Até a fome e a desgraça
uma estrela concebida
com duas chagas de medo
Abertas esponjosas fundas
no corpo magro e doido
do homem desde criança
condenado a ser vendido
(pesado numa balança)
por qualquer preço colhido
na engrenagem ou na teia
duma arenha gigantesca
que em ventres de lua cheia
(ainda no sangue) os pesca
os domina suga enreda
em meandros duma trama
que cobre a cidade toda

Esta cidade que acorda

na marmita dum rapaz
com doze anos apenas
e poucas horas de sono
caminhando para a luta
dos olhos do capataz
que faz as vezes de dono
Esta cidade que acordada)
molhada triste dormente
e que em vez algum bombom
no ventre daquele menino
(com doze anos  apenas
e poucas horas de sono)
lhe amassa o pão numa açorda
que a própria fome da mãe
(a insónia do pão duro)
dá ao filho porque o dono
lhe marca bem o futuro

São quatro escudos que ganha

esta vítima da aranha.

                  (O Guardador de Automóveis)


JOÃO APOLINÁRIO

quinta-feira, 10 de julho de 2014

1426 «É PRECISO AVISAR» FRANCISCO FANHAIS

1426

«É PRECISO AVISAR...»

É preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir

É preciso avisar toda a gente 
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha





canta Padre
Fanhais




É preciso avisar toda gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta

É preciso avisar toda gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores

JOÃO APOLINÁRIO

terça-feira, 8 de julho de 2014

1424 - «CAÍRAM AS FLORES» - FERNANDO DE PAÇOS

1424

«CAÍRAM AS FLORES...»

Caíram as flores das árvores
no lago...
E azuis que foram, vermelhas,
violácias,
no verde caíram,
ficaram intactas...

E delas coroada,
senhora da luz,
surgiu a donzela
chamada por nós,
por todos os outros
e também por nós
chamada de longe,
do início dos tempos.
do cerne dos dias
e dos horizontes,
primeiro chamada,
hoje aparecida,
da porta da morte
enfim

´             separada...

                      (O Segundo Dilúvio)

FERNANDO DE PAÇOS



segunda-feira, 7 de julho de 2014

1423 - "FADO" - ALEXANDRE PINHEIRO TORRES

1423

          F  A  D  O

Quem passeia de negro meu cansaço
sob árvores queimadas de um incêndio?
Decerto quem cantou ao meu ouvido
os versos cuja rima era o silêncio.

Quem agora me arrasta pelas cinzas
foi quem  já me embalou na mão das águas
e, sobre a lua gasta, pôs o archote
que consumia em lágrimas as mágoas.

Minha fadiga veste-se de luto
e canta para si mesma em voz de choro,
e a terra esquece esquece as culpas que lhe cabem,
e arranca dos punhais fulgências de ouro.

Dormem os troncos nus salvos do fogo.
As folhas raras  olham a noite imensa.;
(Pupilas da floresta vigilantes!...)
Passeia o meu cançaso quem não pensa;

passeia o meu cansaço um braço inerte,
e arrasta-o  pelas cinzas , velho arado.
Porém toda a semente foi perdida,
secou a seara; e, agora, há um novo fado!:::

ALEXANDRE PINHEIRO TORRES

domingo, 6 de julho de 2014

1422 - "EPÍSTOLA SOBRE O SUICÍDIO" -. BERTOLT BRECHT

1422

EPÍSTOLA SOBRE O SUICÍDIO

Suicidar-se

É coisa corriqueira

Pode-se falar nisso à mulher a dias

Discutir com um amigo os prós e os contras.
Há que evitar um
Certo pathos simpático.
Mas nâo é preciso fazer disto um dogma.
No entanto, parece-me preferível
O pequeno bluff do costume:
Estar farto de mudar a roupa, ou melhor:
A mulher pôr-los
(O que faz um certo efeito aos que se impressionam com essas                                                                                                        coisas
E não é demasiado bombástico).
De qualquer modo
Não se deve dar a impressão
De que se dava
Muita importância a si mesmo.

BERTOLT BRECHT


sábado, 5 de julho de 2014

1421 - "POESIA-CÃO" - ALEXANDRE O´NEIL

1421

POESIA-CÃO

Com que então, coração,
poesia-aflição!
Antes poesia-cão
que é melhor posição.

Já que não és capaz
dos efes e dos erres
dessa solerte mão
que é a que preferes,

meu tolo desidério,
talvez seja mais sério:
reduz-te ao impropério.

ALEXANDRE O´NEIL

sexta-feira, 4 de julho de 2014

1420- "OS SUJA-CHAMINÉS" - ALEXANDRE O´NEIL

1420

OS SUJA-CHAMINÉS

Da gaiola de vidro, à prova de bala,
o suja-chaminés observava a sala.

Reforçara-se muito, nos últimos meses,
a sua fé em Deus.
Não desse que desce pela chaminé
e entretém, cândidamente, a nossa fé.
Mas num Deus mais volátil,
de iconografia mais industrial,
sempre a subir ao céu por toda a eternidade.

Na gaiola de vidro, à prova de bala,
o suja-chaminés era visto da sala.

Diz-se que, afinal,
matou menos judeus do que julgava.
   
                     (De Ombro na Ombreira)

ALEXANDRE O´NEIL

quarta-feira, 2 de julho de 2014

1419 - FoTOS WEB

1419

1418 - "AOS VINDOUROS SE OS HOUVER ..." - ALEXANDRE O´NEIL

1418

AOS VINDOUROS SE OS HOUVER....

Vós que trabalhais só duas horas

a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula

e vos engalfinhais livres do medo,
sem pessários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha

sem perfurar de mais  vossa memória,
que nós fomos pràquí uma gentalha
a fazer passamanes  com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)

quadrúmanos da nossa humanidade.


ALEXANDRE O´NEIL



terça-feira, 1 de julho de 2014

1417- "PORTUGAL- ALEXANDRE O´NEIL

1417

      P  O  R  T  U G A L

Ó Portugal se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho, 
moinho a braços com um  vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
´se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,,
o manso boi coloquial,
a rachinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestaníticos,
se fosses só  a cega-rega do estilo, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três silabas
de plástico, que era mais barato!,


                                   *

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegâ,
não há «papo de anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa
meu remorço,
meu remorço de todos nós...

                 (Feira Cabisbaixa)


ALEXANDRE   O´NEIL