quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

1712 - »AFOGADO NO RIO LEÇA« EGITO GONÇALVES

1712

AFOGADO NO RIO  LEÇA

Vogavas entre duas águas com o corpo torcido
e a corrente impedita-te, vagarosamente, para a foz.
O coração batia mas já não respiravas;
a morte instalava-se no teu corpo\ molhado.
Devagar montava a máquina dos sonhos...
devagar armava-te as futuras asas.

No mar afundavam-se os símbolos da tarde;
enevelado, sem poesia, asfixiavas,
descendo  o rio em direcção à noite,
descendo o rio em direcção  à liberdade. sentou-se 

As unhas violácias, os cabelos flutuando, 
o sangue estrangulado, a fome liquifeita...
Então, como a um menino, alguém te conduziu para a
                                                          (margem relvada.
A Morte sentou-se a ver os  trabalhos da respiraração
                                                                  [artificial,
depois disse-te «Adeus», acenou-te «Até breve»,
e aproveitou a ambulância que te levava ao hospital
para ir mais depressa à sua vida.

EGITO GONÇALVES



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