sábado, 28 de agosto de 2010

8-TIMOR-AMOR

8-Ruy Cinatti nasceu em Londres e veio ainda criança para Lisboa. Licenciou-se em Agronomia e viveu vários anos pelas várias províncias ultramarinas. Esteve várias vezes em Timor, como secretário do Governo e como engenheiro silvicultor. Escreveu muito sobre Timor, a sua cultura e etnografia. Apaixonou-se por Timor e amava os timorenses a ponto de fazer um pacto de sangue com um Chefe timorense. Um "pacto de sangue" é um hábito timorennse. Consiste em picar um dedo e juntar os dois sangues. Agora somos da mesma família, somos compadres.
    Ruy Cinatti ocupa um lugar muito original na poesia portuguesa.

Como sabemos Timor foi abandonado pelo PREC  e pelo poder a seguir ao 25 de Abril. Os poemas que se seguem são um grito de revolta e de amargura de Ruy Cinatti.

PROGRAMAÇÃO

Depois do vinte e cinco de Abril
nada mudou
porque os homens não mudam de um dia para o outro.
e assim assisto
- exemplo, o de Timor no qual me sinto -
à mesma económica postura
de que Timor
de nada vale
e que portanto qualquer tipo serve
p´ra Timor governar por mais uns anos.
Eu digo não!
porque era outro antes e depois
do vinte e cinco de Abril
e conhecendo os Timorenses melhor que ninguém
(modéstia, rua!)
exijo um homem bom,
viril,
previdente,
que faça de Timor orgulho meu
ouvindo os outros
que melhor conhecem.
E quanto a mim
não vejo que Timor me possa honrar
com os que julgam poder para lá mandar
depois do vinte e cinco de Abril.
Este meu dito e tão lucidamente amargurado
como oque foi antes e depois do dito
Vinte e Cinco de Abril.
 - Governar Timor por mais uns anos!
Viver com os Timorenses até ao não tempo
da Eternidade!
                        29/6/74
PROTESTO

Não é o dinheiro que lá gasto,
mal gasto,
que magoa.

O que magoa é ouvir um responsável
dizer que Timor é um luxo
e portanto (por outras palavras)
que vão pró diabo
ou para a Indonédia os Timorenses.

O que magoa é o desdém
que há pela minha honra
meu sentimento
de português que a Timor deve tudo
do melhor que tem.

E para terminar, snr. responsável,
eu não lhe agradeço
nem consigo acordo
que se os timorenses nos quiserem
outro remédio não teremos
senão dar o dinheiro
como quem dá esmola
a uns velhos tontos que nos amam tanto!
                                             29/6/74

ACUSAÇÃO

Paranóia!
Presunção!

 - Oh porque não morro de desgosto
como estou morrendo de miséria
... física?!

 - Se a miséria física é já desgosto
porque não morro
de vergonha?!

Quem me traíu, a Nação atraiçoa.
 - O governo de entâo
e o de agora!

Paranóia!
Presunção!

Que Timor morra comigo não quero
porque o amo
como detesto os que o destruiram e destroem
antes no corpo
na alma, sempre

Quem me traiu, a Nação atraiçoa.
 - Miséria física
Desgosto  d`alma.

Paranóia!
Presunção!
Vergonha nenhuma!
                               29/6/74
PROVAÇÃO

Se não fosse português matava-me
e acabava de vez com a raça

- Portugal,
túmulo igual.

Assim crucifico-me com Cristo
em Portugal

e ressuscito
sem saber onde ...

ou em Timor
que me responde
.
 - Mas quanto custa
enquanto espero!
                            29/6/74
Hoje, pela primeira vez, naveguei no Google Earth com uma certa profundidade. Aproximo-me da ilha de Timor e com um zoom bastante grande, andei por locais que conheço muito bem. Maubisse, onde estive
dois anos. A praia da Areia Branca, a alguns kilómetros de Díli. Esta praia de águas mansas e quentes (35º ) está protegida dos tubarões por uma barreira de corais.
    Foi com espanto e saudade, ainda que de  uma maneira virtual, voltei a passear por aqueles sítios e ver os vários vídeos das novas gerações de timorenses. Obrigado Google Earth.
ASB-29 de Agosto de 2010

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