terça-feira, 31 de agosto de 2010

9-PORTUGAL

                            9-PORTUGAL NÃO DEVIA EXISTIR

Viajar por Portugal é uma atividade perigosa para os meus nervos. E, reparem, eu não sou um tipo enervadiço. Aliás, gosto muito de ostentar a minha calma subalentejana. Mas, então, qual é a coisa que consegue transformar um pacífico subalentejano num praguejador napolitano? A resposta é sempre a mesma, meus amigos: o desprezo que os portugueses têm por Portugal
Ao andar pelas estradas do país, vemos esta espécie de masoquismo colectivo por todo o lado: as bermas estão sempre cheias de entulho; as florestas e baldios estão sempre decorados com plásticos e papéis. No Verão, a coisa fica ainda mais enervante, porque é visível que ninguém limpa o perímetro de segurança ( 50 metros) em redor de casas e povoações. Nesta época dos incêndios, o masoquismo colectivo passa a ser masoquismo puro e duro: ali estão vilas inteiras rodeadas por amazónias sequíssimas. E ninguem limpa aquele mato assassino.
Peço desculpa pela franqueza, mas as pessoas que sujam as florestas e que não cortam as matas são as mesmas que depois aparecem, coitadinhas, na TV a perguntar: "Onde estão os bombeiros?" Se estivesse viva, a minha querida avó diria, com aquele laconismo alentejano, que esta gente só se lembra de Santa Bárbara quando troveja.
Mas sabem o que é ainda mais desconcertante? Esta imundíce pública não condiz com o asseio privado dos portugueses. Sim, é isso mesmo. Todas as grandes raças são feitas de contradições que desorientam a lógica. E esta é umas das nossas contradições: o português que não limpa o baldio perigoso é o mesmo português que tranforma a sua casa num museu imaculado; o português que suja a rua  é o mesmo português que toma banho três vezes por dia.
Sim é verdade, o ´bife´ civilizado fica incomodado com as nossas ruas sujas, mas também é verdade que esse mesmo ´bife`fica surpreendido com asseio doméstico dos portugueses (uma namorada francesa indagava-me sempre  com um lacónico "ó Henri, porquê tanto banho?)."
No interior das quatro paredes, o português é o ser mais asseado da OCDE. Dentro de casa, o ´tuga`dá lições de ordenung a qualquer governanta alemã. Mas, claro, o problema é que esta ordenung donéstica nunca se estende  ao espaçp público. Uma vez, na Baviera, vi uma mulher limpar a sua rua (o tal perímetro de 50 metros com uma daquelas vassourinhas . Ou seja, aquele mulherão teutónico estava de joelhos a limpar a via pública, porque sentia (e sente) a via pública como algo ´seu.´
Ora, em Portugal, esta cena é uma impossibilidade ontológica. Os portugueses guardam o seu asseio apenas para a sala de estar. Os ´tugas´ são, ao mesmo tempo, gatos asseados (dentro de casa) e hienas imundas (fora dse casa). São óptimos pais e maridos, mas são péssimos cidadãos e vizinhos ausentes. Os ´tugas´têm cinismo, mas só dentro de casa.
Quando inventou o Quinto Império, António Vieira esqueceu-se de dizer que Portugal está a mais na portugalidade. Portugal não devia de existir, meus amigos. Os portugueses são uma grande raça, sim senhor, mas essa grandeza só se vê dentro de quatro paredes. Portugal acaba por ser  um empecilho público para a grandeza privada dos portugueses. Este povo só devia existir enquanto diáspora. Aliás o verdadeiro Quinto Império devia ser uma diáspora portuguesa num mundo sem Portugal. A julgar pela forma como o sujam, os portugueses não precisam mesmo do seu Israel.

Henrique Raposo



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