terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

13-EINSTEIN

                                                         
                                           13Como vejo o mundo

     Como é estranha a nossa situação de seres humanos na Terra! Cada un nós aqui veio fazer uma breve visita. Ninguém sabe para quê, mas às vezes julga senti-lo. Do ponto de vista da vida quotidiana, sem reflexão mais profunda,  sabe-se porém que cada um existe para os outrros seres humanos - em primeiro lugar para aqueles de cujo sorriso e bem-estar depende plenamente a própria felicidade, en seguida também para os inúmeros desconhecidos, ao destino dos quais nos prende um laço de simpatia. Todos os dias penso imensas vezes que a minha vida exterior e interior assenta sobre o labor dos seres humanos presentes e dos que já faleceram, de modo que tenho de me esforçar por dar na mesma medida em que recebi e continuo a receber. Tenho ânsia de sobriedade e, frequentemente, uma ânsia premente de exigir do trabalho do meu semelhante mais do que é necessário. As diferenças sociais de classe não se justificam e, em última análise, são baseadas na violência. Creio também que uma vida exterior simples e modesta só pode fazer bem, tanto ao corpo como ao espírito.
    Não creio de modo algum na liberdade do ser humano, no sentido filosófico. Cada um age não só sobre pressão exterior como também de acordo com a sua necessidade interior. O pensamento de Schopenhauer: »O homem pode, na verdade, fazer o que quizer, mas não pode querer o que quer», impressionou-me vivamente desde a juventude e tem sido para mim um consolo constante e uma fonte inesgotável de tolerância. Esse conhecimento suaviza benèficamente o sentimento de responsabilidade levemente inibitório e faz com que  não tomemos demasiado a sério, para nós e para os outros, uma concepção de vida que justifica de modo especial a existência do humor.
    Do ponto de vista objectivo, pareceu-me  desprovido de senso querer-se indagar sobre o sentido ou a finalidade da própria existência da criação. E, no entanto, cada homem tem certos ideais, que o orientam nos seus esforços e juízos. Neste sentido o bem-estar e a felicidade nunca me pareceram  um fim em si (chamo a esta base ética o ideal da vara de porcos). Os ideais que me iluminavam e me encheram incessantemente de alegre coragem de viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade. Sem o sentimento de harmonia com aquele que têm as mesmas convicções, sem a indagação daquilo que é objectivo e eternamente inatingível no campo da arte e da investigação científica, a vida ter-me-ia parecido vazia. Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem.
    O meu sentido ardente de justiça social e de dever social estiveram sempre em estranho desacordo com uma marcada carência de necessidade directa de ligação com os homens e com as comunidades humanas. Sou um verdadeiro solitário («Einspanner», que nunca pertenceu inteiramente e de todo o coração ao Estado, à Pátria, ao círculo dos amigos ou até mesmo à família mais chegada, mas antes pelo contrário experimentou sempre, em relação a todas essas ligações, um sentimento indomável de estranheza e de ânsia de isolamento, um sentimento que com a idade mais se intensifica. Apercebemo-nos nìtidamente, mas sem o lamentarmos, que nos é limitada a convivência em sociedade com outros seres humanos. Um homem desta natureza perde, de certo modo, uma parte da sua maneira de ser inocente e despreocupada mas ganha em se sentir largamente independente das opiniões, dos hábitos e juízos dos homens, e não cai na tentação de estabecer o seu equilíbrio numa base tão pouco sólida.
    O meu ideal político é o democrático. Cada um deve ser respeitado como pessoa e ninguém deve ser idolatrado. É uma ironia do destino, que os outros homens me tenham testemunhado tanta admiração e estima, sem culpa minha ou merecimento pessoal. Tal facto deve provir do desejo, para muitos irrealizável, de compreenderem as pouca ideias que encontrei com fracas forças, numa luta incessante. Sei perfeitamente que, para se alcançar  qualquer finalidade organizadora, é necessário haver quem pense, coordene e, no total, assuma a responsabilidade. Porém, os conduzidos não devem ser constrangidos, mas antes poderem  eleger o seu chefe. Um sistema autocrático de coacção degenera, a meu ver, dentro de pouco tempo, pois a violência atrai aqueles que são moralmente inferiores e, em regra, no meu entender, aos tiranos de génio sucedem-se geralmente patifes. Por esse motivo fui sempre afincado  adversário dos sistemas como os de hoje encontramos na Itália e na Rússia. O que fez caír em descrédito a forma democrática dominante na Europa actual, não se deve atribuír à idéia democrática fundamental, mas sim à falta de estabilidade dos chefes de governo e ao carácter impessoal do modo de eleição. Creio, porém, que os Estados Unidos da América do Norte, nesse sentido, encontraram o verdadeiro caminho: têm um presidente responsável, eleito por  um prazo suficiente longo e com poderes bastantes para poder ser realmente sustentáculo da responsabilidade. Por outo lado, aprecio no nosso sistema político a assistência progressiva ao indivíduo, no caso de doença ou necessidade. Aquilo que considero verdadeiramente valioso na engrenagem da humanidade não é o Estado, mas sim o indivíduo criador e emotivo, a personalidade: só ela é capaz de criar aquilo que é nobre e sublime, enquanto o povo em si permanece embotado no pensar  e frígido no sentir.
    E vem a propósito referir-me ao mais equívoco produto do espírito gregário dos últimos cento e cinquenta anos - o militarismo. É uma espécie de nódoa nas grandes realizações da civilização moderna. Heroísmo encomendado, violência regulamentada, patriotismo arrogante tornam vil e abominável qualquer guerra de agressão. Por minha parte preferia ser fuzilado a tomar parte numa luta desse tipo.
    Apesar de tudo penso ainda tão bem da Humanidade que sinceramente creio que um dia o bom-senso dos povos o eliminará da lista dos flagelos inevitáveis - e não são poucos - de que a própria Natureza os traz sempre ameaçados.
    O que há de mais belo na nossa vida é o sentimento de mistério. É este o sentimento fundamental que se detém junto ao berço da verdadeira arte e da ciência. Quem nunca o experimentou nem sabe já admirar-se ou espantar-se. Pode considerar-se como morto, sem luz, totalmente cego! A vivência do mistério - embora com laivos de temor - criou também a religião. A consciência , da existência de tudo quanto para nós é impenetrável, de tudo quanto é manifestação da mais profunda razão e mais deslumbrante beleza e, que  só é acessível à nossa razão nas suas formas mais primitivas, essa consciência, esse sentimento, constituem a verdadeira religiosidade. Nesse sentido, e em mais nenhum, pertenço à classe dos homens profundamente religiosos. Não posso conceber um Deus que recompense e castigue os objectos da sua criação, ou que tenha vontade própria, de puro arbítrio no género da que nós sentimos dentro de nós. Nem tão-pouco consigo imaginar um indivíduo que sobreviva à sua morte corporal; as almas fracas que alimentam tais pensamentos fazem-no por medo ou por egoísmo ridículo. A mim basta-me o mistério da eternidade  da vida, a consciência e o pressentimento da admirável elaboração do ser, assim como o humilde esforço para compreender uma partícula, por mais pequena que seja, da razão que se manifesta na natureza.

                                  Do sentido da vida

    Qual é o sentido da nossa vida em especial, e qual o sentido da vida de todos os seres em geral? Saber responder a esta pergunta equivale a ser-se religioso. Hão-de perguntar: Fará sentido pôr-.se esta questão? Respondo: Quem considere a sua própria vida e a dos semelhantes como desprovida de sentido, não é sòmente infeliz, como ainda incapaz de viver.

                     O verdadeiro valor do homem

    Determina-se o verdadeiro valor do homem, observando, em primeiro lugar, até que ponto e em que sentido conseguiu libertar-se do seu Eu.

                                  Da riqueza

    Estou firmemente convencido de que nem todas as riquezas do Mundo poderiam fazer progredir a Humanidade, mesmo que se encontrassem na mão de um homem tão dedicado quanto possível à causa do  progresso. Só o exemplo dos grandes e dos puros pode conduzir a concepções e feitos nobres. O dinheiro atrai o egoísmo e arrasta consigo o desejo irresistível de dar-lhe mau uso.
    Alguém poderá imaginar Moisés, Jesus ou Gandhi equipados com o saco de dinheiro de Carnagie ?






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