9-A hipocrisia dos cotas que se comovem com a música dos Deolinda
Gente lixada pela vida há em todas as gerações. Mas, verdadeiramente lixado é a hipocrisia, a desonestidade e a trafulhice intelectual. E disso, todas as gerações estão bem servidas.
Gente lixada pela vida há em todas as gerações. Mas, verdadeiramente lixado é a hipocrisia, a desonestidade e a trafulhice intelectual. E disso, todas as gerações estão bem servidas.
Por estes dias não há colunista, comentador, analista, calista, ou industrial da panaficação que não cite copiosamente a música dos Deolinda, que faz o retrato amargo da geração
Nem Nem, dos 500 euros ou, se quisermos, a geração lixada.
Em geral, todos estes cronistas pop-de-sociedade são da geração açambarcadora, a que alegadamente espoliou as oportunidades dos jovens e os remeteu ao beco sem esperança, mas todos morarizam e escrevem como se não tivessem o bedelho no calduço.
Estes novos e improváveis ouvintes do Deolinda comovem-se até ao carpido do crocodilo com esta singela letra "Sou da geração sem remuneração/e não me incomoda esta condição./Que parva que eu sou/Porque isto está mal e vai continuar,/já é uma sorte eu poder estagiar./Que parva que eu sou/E fico a pensar,/que mundo tão parvo/onde para ser escravo é preciso estudar". Ora, se esta é a música de intervenção desta geração, acho que se calhar esta geração tem o que merece (felizmente não é),
Esta é a música que tempera o sentimento de culpa das gerações bem instaladas na gamela dos direitos adquiridos. Os mesmos que, quando eram novos, escutaram e conspiraram por um mundo melhor ao som do José Mário Branco e do Zeca Afonso, e que passaram o resto da vida a trair as canções da sua juventude.
A pueril letra dos Deolinda é o pouco que eles conhecem da geração sobre quem escrevem com aquela sabichice insuportável da senilidade precoce. Eles não sabem nada, mas mesmo nada sobre a geração que agora lamentam nos seus editoriais lamechas,
Quando muito conhecem os filhos e os amigos dos filhos, e como falamos de uma casta relativamente privilegiada e bem relacionada, o mais provável é os seus filhos até se estarem a safar, graças a um empurrãozinho, uma palavrinha ao amigo, um favorzinho inocente.
Se há uma geração lixada, a maior parte destes articulistas chorosos contribuiu para a lixar. Perguntem lá ao José Manuel Fernandes, se quando era director do "Público" alguma vez se preocupou com a distribuição equitativa da massa salarial? Se alguma vez se opôs a estágios não remunerados, ou a inacreditáveis fossos salariais na redacção? E, quando falo do José Manuel Fernandes, falo de todos os outros directores, directores adjuntos, editores ou políticos de lágrima fácil que por estes dias andam a lamentar o destino trágico da geração lixada. Alguma vez algum deles abdicou dos seus direitos adquiridos? Dos seus salários principescos (quando comparados com a base da pirâmide salarial)? E mais. Quantas vezes vêm anúncios e processos de recrutamento para meios de comunicação social?
É que os "lugares" que vai havendo, vão sendo traficados, negociados entre amigos, "afilhados" ou mesmo filhos. Se fizerem a árvore genealógica do jornalismo português vão perceber o que o nepotismo e a consanguinidade não são fenómenos só impotáveis ao PS e ao caciquismo das empresas públicas e das autarquias. A maior parte do que se escreve nos jornais sobre ética, mérito e justiça no mercado do trabalho é apenas simples e crua hipocresia.
É natural que este tipo de hipocrisia (ainda cega, acredito) se identifique com a letra dos Deolinda, porque nunca na vida vão entender que esta letra também está a falar deles. Por isso espero que a geração lixada saiba escolher os seus arautos e fazer o seu caminho e a sua luta sem se deixar enganar pelas lágrimas de crocodilo.
A voz da geração lixada não é a dos José Manuéis Fernandes, dos inacreditáveis Cavacos (o coveiro a falar aos mortos) e nem sequer dos Deolinda do mundo. É sua própria. O melhor e mais cru retrato que li da geração lixada é o livro "Operador de Call Center" de um jovem autor chamado Hugo Pereira uma viagem bukowskiana ao quotidiano de um operador de call center que mantém a ácida lucidez do sonho com a relização de curtas metragens.
Ironicamente, o mais poderoso retrato que eu vi desta geração enjaulada não encontou editora capaz e minamente atenta. Teve de imprimir o livro em Espanha e vendeu algumas dezenas a amigos e familiares. É trágico destino do génio. Talvez se fosse jornalista ou médium tivesse melhor sorte...
É que reduzir esta geração à dialética meterialista que nos move ou à cultura programada, oficial e comercial é desconhecer o imenso mundo de criatividade e energia que pulsa na geração lixada. É simplesmente não os conhecer.
Eu pertenço à geração rasca do Vicente Jorge Silva, e cá nos vamos desenrascando com um quinhão dos "direitos adquiridos" também não dou para o peditório do coitadinho da geração lixada.
Compreendo que a crise económica, o desemprego, os recibos verdes, a falta de protecção social e a eternização na casa dos pais são a dura realidade. Mas essa realidade não admite o conformismo ou a histeria, por exemplo, dessa eminência parava de serviço ao liberalismo betucho chamado Henrique Raposo e os seus queixumes
dondocas de bem instalado na coluna normalmente bem remunerada do "Expresso".
Esse rapaz está longe de ser um bom arauto para vocês, caros camarados da geração lixada. É mais um intrujão. Porque se entramos na lógica do confronto de gerações, de espoliados e espoliadores, estamos bem mal. Esses jovens liberais de pacotilha acreditam que o problema está nos "direitos adquiridos" pelos trabalhadores, que se alapam aos postos de trabalho que deviam estar destinados por direito divino aos jovens que saem da faculdade. Portanto, a solução seria desalojar os "velhos" dos seus dos seus trabalhos e regalias, para os poder passar a uma geração mais preparada e bem formada, e disponível para ser remunerada de forma mais cmpetitiva... para as empresas.
Ora a formação univertária pode conferir legítimas expectativas, mas não dá um direito divino ao emprego, pelo menos aos bons empregos, sobretudo quando não os há, ou há poucos. Alguém se parece esqucer que o mercado de trabalho português não é proprtiamente o alemão, e que os empregos que geração lixada pretende ter acesso por decreto não são propriamente de cantoneiro, padeiro ou portageiro.
O que a histeria dos raposões do mundo defende é uma permanente competição pelos "bons empregos",\como se fosse líquido que um qualquer recem-licenciado fizesse melhor o meu trabalho. Uma fotógrafa amiga um dia disse-me que um cliente ficou espantado com a rapidez com que ela fez uma\ sessão. - Só demorou um hora?, perguntou ele - Não, demorei vinte anos e uma hora - respondeu ela.
Se entrarmos numa lógica de confronto geracional no mercado de trabalho vamos todos sair a perder a curto prazo e as empresas tabém (a médio prazo). Desproteger o trabalho não é um bom negócio para ninguém, porque daqui a algum tempo não estariamos a discutir os problemas dois recém-licenciados, mas sim a falência e a miséria dos velhos licenciados. Se encararmos este grave problema social com preconceitos de classe, casta, ideológicos ou mesmo de geração, estaremos a atear o rastilho de um barril de pólvora.
Temos todos encontrrar a melhor forma de sermos uma sociedade solidária e mobilizada para o bem comum, uma sociedade de valores, de mérito, de cooperação (melhor que competição), e se para isso for preciso abdicar de alguns "direitos adquiridos", que aliás pago ao Estado (e não é pouco) seja. Eu estou disposto a fazê-lo. Mas só se esses "direitos adqueridos" (um ordenado, seguro de saúde e direito de indemnização caso seja despedido, a troco da inovação, da iniciativa e da solidariedade social. Não os dou de barato a um jovem recém-licenciado que acomoda a peidola ao sofá dos pais, ao carro em segunda mão, aos copos no Bairro Altro, às tertúlias da lamentação, ao conformismo e à espera eterna de um emprego compatível com a sua condição. Querem uma vida melhor? Lutar por ela também ajuda.
Pelo menos, ajuda mais do que aplaudir os artigos de José Manuel Fernandes ou as músicas dos Deolinda.
É que uma parte da geração lixada também é uma geração acomodada que vai azedando. E azaedar é acabar com o sonho, o deles, e o nosso, num país mais justo e feliz.
Rui Pelejão
É que os "lugares" que vai havendo, vão sendo traficados, negociados entre amigos, "afilhados" ou mesmo filhos. Se fizerem a árvore genealógica do jornalismo português vão perceber o que o nepotismo e a consanguinidade não são fenómenos só impotáveis ao PS e ao caciquismo das empresas públicas e das autarquias. A maior parte do que se escreve nos jornais sobre ética, mérito e justiça no mercado do trabalho é apenas simples e crua hipocresia.
É natural que este tipo de hipocrisia (ainda cega, acredito) se identifique com a letra dos Deolinda, porque nunca na vida vão entender que esta letra também está a falar deles. Por isso espero que a geração lixada saiba escolher os seus arautos e fazer o seu caminho e a sua luta sem se deixar enganar pelas lágrimas de crocodilo.
A voz da geração lixada não é a dos José Manuéis Fernandes, dos inacreditáveis Cavacos (o coveiro a falar aos mortos) e nem sequer dos Deolinda do mundo. É sua própria. O melhor e mais cru retrato que li da geração lixada é o livro "Operador de Call Center" de um jovem autor chamado Hugo Pereira uma viagem bukowskiana ao quotidiano de um operador de call center que mantém a ácida lucidez do sonho com a relização de curtas metragens.
Ironicamente, o mais poderoso retrato que eu vi desta geração enjaulada não encontou editora capaz e minamente atenta. Teve de imprimir o livro em Espanha e vendeu algumas dezenas a amigos e familiares. É trágico destino do génio. Talvez se fosse jornalista ou médium tivesse melhor sorte...
É que reduzir esta geração à dialética meterialista que nos move ou à cultura programada, oficial e comercial é desconhecer o imenso mundo de criatividade e energia que pulsa na geração lixada. É simplesmente não os conhecer.
Eu pertenço à geração rasca do Vicente Jorge Silva, e cá nos vamos desenrascando com um quinhão dos "direitos adquiridos" também não dou para o peditório do coitadinho da geração lixada.
Compreendo que a crise económica, o desemprego, os recibos verdes, a falta de protecção social e a eternização na casa dos pais são a dura realidade. Mas essa realidade não admite o conformismo ou a histeria, por exemplo, dessa eminência parava de serviço ao liberalismo betucho chamado Henrique Raposo e os seus queixumes
dondocas de bem instalado na coluna normalmente bem remunerada do "Expresso".
Esse rapaz está longe de ser um bom arauto para vocês, caros camarados da geração lixada. É mais um intrujão. Porque se entramos na lógica do confronto de gerações, de espoliados e espoliadores, estamos bem mal. Esses jovens liberais de pacotilha acreditam que o problema está nos "direitos adquiridos" pelos trabalhadores, que se alapam aos postos de trabalho que deviam estar destinados por direito divino aos jovens que saem da faculdade. Portanto, a solução seria desalojar os "velhos" dos seus dos seus trabalhos e regalias, para os poder passar a uma geração mais preparada e bem formada, e disponível para ser remunerada de forma mais cmpetitiva... para as empresas.
Ora a formação univertária pode conferir legítimas expectativas, mas não dá um direito divino ao emprego, pelo menos aos bons empregos, sobretudo quando não os há, ou há poucos. Alguém se parece esqucer que o mercado de trabalho português não é proprtiamente o alemão, e que os empregos que geração lixada pretende ter acesso por decreto não são propriamente de cantoneiro, padeiro ou portageiro.
O que a histeria dos raposões do mundo defende é uma permanente competição pelos "bons empregos",\como se fosse líquido que um qualquer recem-licenciado fizesse melhor o meu trabalho. Uma fotógrafa amiga um dia disse-me que um cliente ficou espantado com a rapidez com que ela fez uma\ sessão. - Só demorou um hora?, perguntou ele - Não, demorei vinte anos e uma hora - respondeu ela.
Se entrarmos numa lógica de confronto geracional no mercado de trabalho vamos todos sair a perder a curto prazo e as empresas tabém (a médio prazo). Desproteger o trabalho não é um bom negócio para ninguém, porque daqui a algum tempo não estariamos a discutir os problemas dois recém-licenciados, mas sim a falência e a miséria dos velhos licenciados. Se encararmos este grave problema social com preconceitos de classe, casta, ideológicos ou mesmo de geração, estaremos a atear o rastilho de um barril de pólvora.
Temos todos encontrrar a melhor forma de sermos uma sociedade solidária e mobilizada para o bem comum, uma sociedade de valores, de mérito, de cooperação (melhor que competição), e se para isso for preciso abdicar de alguns "direitos adquiridos", que aliás pago ao Estado (e não é pouco) seja. Eu estou disposto a fazê-lo. Mas só se esses "direitos adqueridos" (um ordenado, seguro de saúde e direito de indemnização caso seja despedido, a troco da inovação, da iniciativa e da solidariedade social. Não os dou de barato a um jovem recém-licenciado que acomoda a peidola ao sofá dos pais, ao carro em segunda mão, aos copos no Bairro Altro, às tertúlias da lamentação, ao conformismo e à espera eterna de um emprego compatível com a sua condição. Querem uma vida melhor? Lutar por ela também ajuda.
Pelo menos, ajuda mais do que aplaudir os artigos de José Manuel Fernandes ou as músicas dos Deolinda.
É que uma parte da geração lixada também é uma geração acomodada que vai azedando. E azaedar é acabar com o sonho, o deles, e o nosso, num país mais justo e feliz.
Rui Pelejão
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