1416
domingo, 29 de junho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
1415 - "SIGAMOS O CHERNE" - ALEXANDRE O´NEIL
1415
SIGAMOS O CHERNE
(Depois de ver o filme «O Mundo do Silêncio»
de Jacques Yves Cousteau)
Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Se não já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...
ALEXANDRE O´NEIL
SIGAMOS O CHERNE
(Depois de ver o filme «O Mundo do Silêncio»
de Jacques Yves Cousteau)
Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Se não já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...
ALEXANDRE O´NEIL
quinta-feira, 26 de junho de 2014
1414 - "POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO" - ALEXANDRE O´NEIIL
1414
POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no mercúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim a assim)
escriturários
( muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitissimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
(Tempo de Fantasmas)
ALEXANDRE O´NEILL
POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no mercúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim a assim)
escriturários
( muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitissimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
(Tempo de Fantasmas)
ALEXANDRE O´NEILL
quarta-feira, 25 de junho de 2014
1413 - FOTOS WEB
1413
Mimos e Carinhos♥♥
Compartilhada publicamente - Ontem à(s) 01:55
Mimos e Carinhos♥♥
Tem gente que aparece pra te devolver o riso. Gente que faz você se sentir viva outra vez. Tem gente que mal chega e já consegue espaço na sua vida, no seu coração e em todos os seus dias...
terça-feira, 24 de junho de 2014
1412 - "O TEMPO E OS OLHOS" - ANTÓNIO NORTON
1412
O TEMPO E OS OLHOS
Há um minuto quebrado
-- Um instante que estava prometido --
Num busto de gesso mutilado,
Com pó acumulado
Aonde o coração tinha batido.
Não quero ser estátua nem esboço.
Antes a aranha que lhe tece a teia
Do que o voluma imóvel duma veia
Que sobressai dum músculo sem osso.
Não quero ser a forma repartida
Por quantos copiam e separam
Da sua íntima luz adormecida.
Quero é um corpo que tenha cheiro, e vida.
Quero na estátua as mãos que a modelaram.
Quero os teus olhos húmidos e graves
E tristes de pensar,
Postos no tempo sem o copiar
E suspensos dele, como o das aves
ANTÓNIO NORTON
O TEMPO E OS OLHOS
Há um minuto quebrado
-- Um instante que estava prometido --
Num busto de gesso mutilado,
Com pó acumulado
Aonde o coração tinha batido.
Não quero ser estátua nem esboço.
Antes a aranha que lhe tece a teia
Do que o voluma imóvel duma veia
Que sobressai dum músculo sem osso.
Não quero ser a forma repartida
Por quantos copiam e separam
Da sua íntima luz adormecida.
Quero é um corpo que tenha cheiro, e vida.
Quero na estátua as mãos que a modelaram.
Quero os teus olhos húmidos e graves
E tristes de pensar,
Postos no tempo sem o copiar
E suspensos dele, como o das aves
ANTÓNIO NORTON
segunda-feira, 23 de junho de 2014
1419 - "ESPELHO" - ANTÓNIO NORTON
1410
ESPELHO
Espelho do quarto, pregado à parede.
Só húmido tempo nas machas da cal,
E as bocas da fome, do riso, e da sede.
Retrato de vidro da cor natural.
As nítidas rugas, a forma do sexo,
A idade dos mortos que vem no jornal.
Se canto é o sonho que está no reflexo
Por dentro das coisas que estão no real.
Se vejo é teu corpo, na sombra, no ar,
No fundo dos olhos que estão distraídos
Com o cheiro da vida que está a passar.
Se entendo é a voz que está nos ouvidos
Por dentro da voz que está a falar
Tão fora das coisas que estão nos sentidos.
Se olho, é uma concha. Se canto, é o mar.
ANTÓNIO NORTON
ESPELHO
Espelho do quarto, pregado à parede.
Só húmido tempo nas machas da cal,
E as bocas da fome, do riso, e da sede.
Retrato de vidro da cor natural.
As nítidas rugas, a forma do sexo,
A idade dos mortos que vem no jornal.
Se canto é o sonho que está no reflexo
Por dentro das coisas que estão no real.
Se vejo é teu corpo, na sombra, no ar,
No fundo dos olhos que estão distraídos
Com o cheiro da vida que está a passar.
Se entendo é a voz que está nos ouvidos
Por dentro da voz que está a falar
Tão fora das coisas que estão nos sentidos.
Se olho, é uma concha. Se canto, é o mar.
ANTÓNIO NORTON
quinta-feira, 19 de junho de 2014
1409 - "MEU PAÍS DESGRAÇASO" - SEBASTIÃO DA GAMA
1409
MEU PAÍS DESGRAÇADO
Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado
Nem´há céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas...
Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
-- busca dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
-- Olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!
(Cabo de Boa Esperança)
SEBASTIÃO DA GAMA
MEU PAÍS DESGRAÇADO
Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado
Nem´há céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas...
Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
-- busca dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
-- Olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!
(Cabo de Boa Esperança)
SEBASTIÃO DA GAMA
segunda-feira, 16 de junho de 2014
1408 - FAJÃ DOS CUBRES E DA CALDEIRA DE SANTO CRISTO - ILHA DE SÃO JORGE, AÇORES (PORTUGAL)
1408
Portugal+
Compartilhada publicamente - Ontem à(s) 17:47Fajã dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo - Ilha de São Jorge, Açores (Portugal).Fajã dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo - Ilha de São Jorge, Açores (Portugal).
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
Fajã dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo - Ilha de São Jorge, Açores (Portugal).
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
Foto de Guillaume Baviere.
[http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Açores_2010-07-20_(5081868308).jpg]
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Portugal+
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
Fajã dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo - Ilha de São Jorge, Açores (Portugal).
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
A Fajã dos Cubres, à semelhança da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, constitui uma área plana que resultou de movimentos de massa de vertente, depositados na base de arribas abruptas, aquando do sismo de 1757 e, cuja morfologia foi moldada pela morfodinâmica costeira, e pelo Homem. A abundância de uma planta de pequenas flores amarelas, o Cubre (Solidago sempervirens L.), deu origem ao nome desta fajã, situada na costa Norte da ilha, cerca de 3 Km a oeste da Fajã de Santo Cristo.
[Fonte: Rui Sequeira - Parque Natural de São Jorge].
Foto de Guillaume Baviere.
[http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Açores_2010-07-20_(5081868308).jpg]
1407 - "O QUE UMA CRIÂNÇA TEM DE GRAMAR" - - BERTOLT BRECHT
1407
O QUE UMA CRIANÇA TEM DE GRAMAR
Os olhos de Deus vêem todas as vias
Faz as tuas economias para o pior dos dias
O mandrião nada de bom deixa em herança
Muito ler os olhos cansa
Carregar carvâo desenvolve a musculatura
O belo tempo da infância que tão pouco dura
Não te rias dos enfermos
Com os adultos não se discute e têm-se termos
Quando à mesa te fores sentar nunca te sirvas em primeiro lugar
Passear ao domingo é muito salutar
Um velho respeito merece
Não é com bombons que um menino cresce
Mais sâo do que as batatas não há nada
Criança educada deve saber estar calada.
BERTOLT BRECHT
O QUE UMA CRIANÇA TEM DE GRAMAR
Os olhos de Deus vêem todas as vias
Faz as tuas economias para o pior dos dias
O mandrião nada de bom deixa em herança
Muito ler os olhos cansa
Carregar carvâo desenvolve a musculatura
O belo tempo da infância que tão pouco dura
Não te rias dos enfermos
Com os adultos não se discute e têm-se termos
Quando à mesa te fores sentar nunca te sirvas em primeiro lugar
Passear ao domingo é muito salutar
Um velho respeito merece
Não é com bombons que um menino cresce
Mais sâo do que as batatas não há nada
Criança educada deve saber estar calada.
BERTOLT BRECHT
domingo, 15 de junho de 2014
1406 - "VEM COMPANHEIRA - JOÃO APOLINÁRIO
1406
«VEM COMPANHEIRA...»
Vem companheira há tanto desejada
nas fundas noites deste cativeiro
A vida é brasa e o mundo inteiro
é ave de asa calcinada
Vem que te espera em cada prisioneiro
a sequiosa força concentrada
Séculos de dor e sede recalcada
-- um estigma falso de outro verdadeiro
Haverá festa quando tu chegares
amor músicas danças e cantares
o voo largo pleno descoberto
Por cada gota de água que trouxeres
os jovens te darão se tu vieres
o sangue do seu braço enfim liberto
JOÃO APOLINÁRIO
«VEM COMPANHEIRA...»
Vem companheira há tanto desejada
nas fundas noites deste cativeiro
A vida é brasa e o mundo inteiro
é ave de asa calcinada
Vem que te espera em cada prisioneiro
a sequiosa força concentrada
Séculos de dor e sede recalcada
-- um estigma falso de outro verdadeiro
Haverá festa quando tu chegares
amor músicas danças e cantares
o voo largo pleno descoberto
Por cada gota de água que trouxeres
os jovens te darão se tu vieres
o sangue do seu braço enfim liberto
JOÃO APOLINÁRIO
sexta-feira, 13 de junho de 2014
1404 - "SORTELHA" - PORTUGAL
1404
Portugal+
Compartilhada publicamente - Ontem à(s) 19:26
Castelo e Pelourinho de Sortelha – Sortelha, Sabugal, Guarda (Portugal).
Sortelha é uma freguesia portuguesa do concelho do Sabugal, com 25,27 km² de área e 444 habitantes (2011). Densidade: 17,6 hab/km².
Foi vila e sede de concelho entre 1288 e 1855. Era constituída pelas freguesias de Águas Belas, Urgueira, Bendada, Casteleiro, Malcata, Moita, Pena Lobo, Santo Estêvão, Sortelha e Valverdinho. Tinha, em 1801, 4 096 habitantes em 237 km². Após as reformas administrativas do início do liberalismo foram-lhe anexadas as freguesias de Lomba e Pousafoles do Bispo. Tinha, em 1849, 6 022 habitantes em 261 km².
É hoje uma das aldeias históricas de Portugal.
+Foto de autor não identificado+
Sortelha é uma freguesia portuguesa do concelho do Sabugal, com 25,27 km² de área e 444 habitantes (2011). Densidade: 17,6 hab/km².
Foi vila e sede de concelho entre 1288 e 1855. Era constituída pelas freguesias de Águas Belas, Urgueira, Bendada, Casteleiro, Malcata, Moita, Pena Lobo, Santo Estêvão, Sortelha e Valverdinho. Tinha, em 1801, 4 096 habitantes em 237 km². Após as reformas administrativas do início do liberalismo foram-lhe anexadas as freguesias de Lomba e Pousafoles do Bispo. Tinha, em 1849, 6 022 habitantes em 261 km².
É hoje uma das aldeias históricas de Portugal.
+Foto de autor não identificado+
quinta-feira, 12 de junho de 2014
1403 - "É PRECISO AVISAR" - JOÃO APOLINÁRIO
1403
«É PRECISO AVISAR...»
É preciso toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
o que os apontam em frente
o caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
(Morse de Sangue)
JOÃO APOLINÁRIO
«É PRECISO AVISAR...»
É preciso toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
o que os apontam em frente
o caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
(Morse de Sangue)
JOÃO APOLINÁRIO
quarta-feira, 11 de junho de 2014
terça-feira, 10 de junho de 2014
1401 - "SE A DOR" FERNANDO DE PAÇOS
1401
»SE A DOR...»
Se a dor nos purifica,
o céu, como tu vez,
é um cofre bem guardado.
Quão poucos a conhecem
ou a conservam já,
a chave dessa Paz
por todos procurada.
Mas tu, que ma ensinaste
sem nunca a conhecer,
que o destino azulíneo
outrora me apontavas,
tu feliz permanece
-- refúgio na incerteza
de quantos, como eu,
ainda não chegaram.
FERNANDO DE PAÇOS
é um cofre bem guardado.
Quão poucos a conhecem
ou a conservam já,
a chave dessa Paz
por todos procurada.
Mas tu, que ma ensinaste
sem nunca a conhecer,
que o destino azulíneo
outrora me apontavas,
tu feliz permanece
-- refúgio na incerteza
de quantos, como eu,
ainda não chegaram.
FERNANDO DE PAÇOS
segunda-feira, 9 de junho de 2014
1400 "QUE BOM ERA" - FERNANDO DE PAÇOS
1400
«QUE BOM ERA...»
Que bom era exprimi-la
mas só posso sonhá-la!
Como era bom levá-la,
como era bom! -- Tranqui-la...
Como era bom despi-la
ao poder encontrá-la!
-- Já não sorri. Não fala...
Da carne separá-la,
como era bom despi-la!
.
Acordá-la e despi-la,
(do seu corpo despi-la!)
mas a alma, que é a sua,
que bom era levá-la
(para longe levá-la!)
para bebê-la, nua.
-- Já não respira... Estua.
-- Já não responde... Cala.
FERNANDO DE PAÇOS
«QUE BOM ERA...»
Que bom era exprimi-la
mas só posso sonhá-la!
Como era bom levá-la,
como era bom! -- Tranqui-la...
Como era bom despi-la
ao poder encontrá-la!
-- Já não sorri. Não fala...
Da carne separá-la,
como era bom despi-la!
.
Acordá-la e despi-la,
(do seu corpo despi-la!)
mas a alma, que é a sua,
que bom era levá-la
(para longe levá-la!)
para bebê-la, nua.
-- Já não respira... Estua.
-- Já não responde... Cala.
FERNANDO DE PAÇOS
domingo, 8 de junho de 2014
1399 - "POBRE DE MIM..." - FERNANDO DE PAÇOS
1399
«POBRE DE MIM...»
Pobre de mim.
Não sei por onde vim.
Ainda estou isolado e sem flores
no denso jardim.
Às vezes tenho sede
e nem a chuva cai
do céu inesperado.
Ai,
a memória! Pede
E fico mais anos, petrificado.
Continuarei assim,
decerto,
Sob os orvalhos da memória fátua:
do meu jardim
deserto
a penetrante estátua.
(O Fértil Jardim)
FERNANDO DE PAÇOS
«POBRE DE MIM...»
Pobre de mim.
Não sei por onde vim.
Ainda estou isolado e sem flores
no denso jardim.
Às vezes tenho sede
e nem a chuva cai
do céu inesperado.
Ai,
a memória! Pede
E fico mais anos, petrificado.
Continuarei assim,
decerto,
Sob os orvalhos da memória fátua:
do meu jardim
deserto
a penetrante estátua.
(O Fértil Jardim)
FERNANDO DE PAÇOS
sábado, 7 de junho de 2014
1398 "A SOLUÇÃO" - BERTOLT BRECHT
1398
A SOLUÇÃO
Após a insurreição de 17 de junho
O secretário da União dos Escritores
Fez distribuir panfletos na Alameda Estaline
Em que se lia que, por culpa sua,
O povo perdeu a confiança do governo
E só à custa de esforços redobrados
Poderá recuperá-la. Mas não seria
Mais simples para o governo
Dissolver o povo
E eleger outro?
BERTOLT BRECHT
A SOLUÇÃO
Após a insurreição de 17 de junho
O secretário da União dos Escritores
Fez distribuir panfletos na Alameda Estaline
Em que se lia que, por culpa sua,
O povo perdeu a confiança do governo
E só à custa de esforços redobrados
Poderá recuperá-la. Mas não seria
Mais simples para o governo
Dissolver o povo
E eleger outro?
BERTOLT BRECHT
quinta-feira, 5 de junho de 2014
1397 - "LÁZARO" ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
1397
LÁZARO
Quando ressurgiste, a Vida e o Sol te odiaram.
Trazias no rosto, torturado e atónito,
as rugas que Cristo e o amor não apagaram,
e, na boca, a espuma musguenta dum vótimo.
Caíras, já podre, na morte discreta,
roubado ao egoísmo seco em que viveras,
odiando, deitado, as vitórias do Poeta,
seu gosto fraterno que nunca quiseras.
Um grito chamou-te das trevas e cactos
que lentos corroíam teu corpo burguês,
grito restituindo esquecidos contactos,
consciente surpresa de seres outra vez.
Mas tua volta era inútil e risível
(barco naufragado ao conforto do porto):
já teu corpo em vida fora corruptível
e alma, sem asas, pássaro morto.
ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
LÁZARO
Quando ressurgiste, a Vida e o Sol te odiaram.
Trazias no rosto, torturado e atónito,
as rugas que Cristo e o amor não apagaram,
e, na boca, a espuma musguenta dum vótimo.
Caíras, já podre, na morte discreta,
roubado ao egoísmo seco em que viveras,
odiando, deitado, as vitórias do Poeta,
seu gosto fraterno que nunca quiseras.
Um grito chamou-te das trevas e cactos
que lentos corroíam teu corpo burguês,
grito restituindo esquecidos contactos,
consciente surpresa de seres outra vez.
Mas tua volta era inútil e risível
(barco naufragado ao conforto do porto):
já teu corpo em vida fora corruptível
e alma, sem asas, pássaro morto.
ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
quarta-feira, 4 de junho de 2014
1396 - "HOMENAGEM A TITUS LUCRECIO CARUS" - NATÁLIA CORREIA
1396
HOMENAGEM A TITUS LUCRÉCIO CARUS
Acha-se a terra cheia de fome.
Bate num ventre. Pede comida.
Parte-se um ovo. Sai-nos um nome
E sete rosas como medida.
Dão-nos um dentro como uma opala
(Só o pretexto dum cofre-forte)
Não vá a gente encher a mala
Com mais tesouros que ela suporte.
E carregamos a travessia
Com o deus-trovão que a demora;
Pois é da nossa pedra fria
Que o paraíso se evapora.
E se a torneira dum cotovelo
Dá mais do que uma couve,
E porque a morte no nosso pêlo
Toca uma arpa que não se houve.
NATÁLIA CORREIA
HOMENAGEM A TITUS LUCRÉCIO CARUS
Acha-se a terra cheia de fome.
Bate num ventre. Pede comida.
Parte-se um ovo. Sai-nos um nome
E sete rosas como medida.
Dão-nos um dentro como uma opala
(Só o pretexto dum cofre-forte)
Não vá a gente encher a mala
Com mais tesouros que ela suporte.
E carregamos a travessia
Com o deus-trovão que a demora;
Pois é da nossa pedra fria
Que o paraíso se evapora.
E se a torneira dum cotovelo
Dá mais do que uma couve,
E porque a morte no nosso pêlo
Toca uma arpa que não se houve.
NATÁLIA CORREIA
terça-feira, 3 de junho de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
1394 - "MAUS TEMPOS PARA O LIRISMO" BERTOLT BRECHT
1394
MAUS TEMPOS PARA O LIRISMO
Bem o sei: só o homem feliz
É amado. Dá gosto ouvir
A sua voz. E o seu rosto é belo.
A árvore estiolada do pátio
Denuncia a terra má mas
Os passam só aborto vêem
-- E têm razão.
As verdes barcas e as bela velas dos estreitos
Não as vejo -- vejo apenas
A rota rede dos que pescam.
Porque será que só falo
Da já caquética quarentona desta casa?
Os seios das raparigas
Têm o calor de sempre.
Uma rima no meu poema
Seria quase uma insolência.
Dentro de mim se enfrentam
A exaltação da beleza da macieira em flor
E a náusea dos discursos. (*)
Mas só a náusea
Me faz escrever.
(*) - O texto alemão -- nesta e noutras passagens -- diz «pintor»
com ironia, isto é, «pintor de paredes».Como se sabe, antes
até de se dedicar a outras artes e aí com o sucesso que
conhecemos. Hittler quis fazer carreira na pintura (N.doT.)
BERTOLT BRECHT
MAUS TEMPOS PARA O LIRISMO
Bem o sei: só o homem feliz
É amado. Dá gosto ouvir
A sua voz. E o seu rosto é belo.
A árvore estiolada do pátio
Denuncia a terra má mas
Os passam só aborto vêem
-- E têm razão.
As verdes barcas e as bela velas dos estreitos
Não as vejo -- vejo apenas
A rota rede dos que pescam.
Porque será que só falo
Da já caquética quarentona desta casa?
Os seios das raparigas
Têm o calor de sempre.
Uma rima no meu poema
Seria quase uma insolência.
Dentro de mim se enfrentam
A exaltação da beleza da macieira em flor
E a náusea dos discursos. (*)
Mas só a náusea
Me faz escrever.
(*) - O texto alemão -- nesta e noutras passagens -- diz «pintor»
com ironia, isto é, «pintor de paredes».Como se sabe, antes
até de se dedicar a outras artes e aí com o sucesso que
conhecemos. Hittler quis fazer carreira na pintura (N.doT.)
BERTOLT BRECHT
1393 - "PASTELARIA" - MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS
1393
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo r gatante
-- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipicio
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã à bola
antes de haver cinema madame blanche e parala
Que afinal o que não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente;
Gerente este leite está azedo!
Que afinal o que importa é põr ao alto a gola do peludo
á saida da pastelaria e, lá fora -- ah, lá fora! -- rir de tudo
No riso admirável de quem sabe o gosta
ter labados e muitos dentes brancos à mostra
MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo r gatante
-- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipicio
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã à bola
antes de haver cinema madame blanche e parala
Que afinal o que não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente;
Gerente este leite está azedo!
Que afinal o que importa é põr ao alto a gola do peludo
á saida da pastelaria e, lá fora -- ah, lá fora! -- rir de tudo
No riso admirável de quem sabe o gosta
ter labados e muitos dentes brancos à mostra
MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS
domingo, 1 de junho de 2014
1392 - "ÚNICAMENTE POR CAUSA DA DESORDEM CRESCENTE - BERTOLT BRECHT
1392
ÚNICAMENTE POR CAUSA DA DESORDEM CRESCENTE
Únicamente por causa da desordem crescente
Nas nossas cidades com suas lutas de classes
Alguns de nós nestes anos decidimos
Não mais falar dos grandes portos, da neve nos telhados, das mulheres,
Do perfume das maçãs maduras da despensa, das impressões da carne,
De tudo o que faz o homem redondo e humano, mas
Falar só da desordem
E portanto ser parciais, secos, enfronhados nos negócios
Da política, e no árido e «indigno» vocabolário
Da economia dialética ,
Para que esta terrível pesada promiscuidade
Das quedas da neve (elas não só frias, nós também o sabemos),
Da exploração, da tentação da carne e da justiça de classes,
Não nos leve à aceitação deste mundo tão diverso
Nem ao prazer das contradições de uma vida tão sangrenta.
Vocês entendem.
BERTOLT BRECHT
ÚNICAMENTE POR CAUSA DA DESORDEM CRESCENTE
Únicamente por causa da desordem crescente
Nas nossas cidades com suas lutas de classes
Alguns de nós nestes anos decidimos
Não mais falar dos grandes portos, da neve nos telhados, das mulheres,
Do perfume das maçãs maduras da despensa, das impressões da carne,
De tudo o que faz o homem redondo e humano, mas
Falar só da desordem
E portanto ser parciais, secos, enfronhados nos negócios
Da política, e no árido e «indigno» vocabolário
Da economia dialética ,
Para que esta terrível pesada promiscuidade
Das quedas da neve (elas não só frias, nós também o sabemos),
Da exploração, da tentação da carne e da justiça de classes,
Não nos leve à aceitação deste mundo tão diverso
Nem ao prazer das contradições de uma vida tão sangrenta.
Vocês entendem.
BERTOLT BRECHT
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