segunda-feira, 29 de setembro de 2014

1503 -- «REMORSO INÚTIL» FERNANDA BOTELHO

1503

REMORSO INÚTIL

Foi (ou não foi) uma estranha glória
essa de ter ficado sem remorso?
Cobarde como um insecto, mas segura
da minha cobardia sem história,
da minha glória sentida, que não posso 
renegar ou esquecer. Porque é mais pura
que brancura enevoada do luar.
E secreta, bem secreta. Quem repara
na eternidade secreta que se há-de
em mãos pequenas e vagas estreitar?
Mas não é preciso dum remorso para
soluçar uma alegre eternidade:
viver assim-assim, como um insecto
cobarde e correcto.
                              -- Mas que sabe voar.

FERNANDA BOTELHO


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