1602
AS DISSONÂNCIAS
A minha vida é esta esperança acessória,
esta dor que embala e não promete,
é este estar contente como quem parece
descrer doutra ventura e não se cala.
É este saber eternamente
assentar em cheio minhas seteiras
e estar eternamente calmo (ou estar escondido),
calando sempre as minhas três maneiras.
A minha vida é este erguer de bruma
e -- sempre que é preciso -- recordar alguém,
já morto, à noite, à cabeceira,
até cair de novo, ao sono e ao sol-posto,
no tempo vão, inerme e obstruído
de sonhar de novo e de qualquer maneira.
JOÃO RUI DE SOUSA
AS DISSONÂNCIAS
A minha vida é esta esperança acessória,
esta dor que embala e não promete,
é este estar contente como quem parece
descrer doutra ventura e não se cala.
É este saber eternamente
assentar em cheio minhas seteiras
e estar eternamente calmo (ou estar escondido),
calando sempre as minhas três maneiras.
A minha vida é este erguer de bruma
e -- sempre que é preciso -- recordar alguém,
já morto, à noite, à cabeceira,
até cair de novo, ao sono e ao sol-posto,
no tempo vão, inerme e obstruído
de sonhar de novo e de qualquer maneira.
JOÃO RUI DE SOUSA
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