quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

1602 - «AS DISSONÂNCIAS» - JOÃO RUI DE SOUSA

1602

AS DISSONÂNCIAS

A minha vida é esta esperança acessória,
esta dor que embala e não promete,
é este estar contente como quem parece
descrer doutra ventura e não se cala.

É este saber eternamente
assentar em cheio minhas seteiras
e estar eternamente calmo (ou estar escondido),
calando sempre as minhas três maneiras.

A minha vida é este erguer de bruma
e  -- sempre que é preciso  -- recordar alguém,
já morto, à noite, à cabeceira,

até cair de novo, ao sono e ao sol-posto,
no tempo vão, inerme e obstruído
de sonhar de novo e de qualquer maneira.

JOÃO RUI DE SOUSA

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