sexta-feira, 2 de maio de 2014

1372 - SONETO DA CHUVA - CARLOS DE OLIVEIRA

1372

SONETO DA CHUVA

Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?
Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinsa como a lua.
Se a terra bebe as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.
Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.

           (Terra de Harmonia, in Poesias, 2ª.ed. revista)

Carlos de Oliveira

Sem comentários:

Enviar um comentário