domingo, 11 de maio de 2014

1377 - »QUANDO CHEGOU O TEMPO...» -- PEDRO DA SILVEIRA

1377

«QUANDO CHEGOU O TEMPO...»

Quando chegou o tempo de meu tio António tomar o

                                            [caminho da América
meu avô levou-o a bordo da barca Kennard:
ele tinha quinze anos, era o mais moço
dos qutro filhos de meu avô.
A mãe botara-lhe amor mais que a nenhum
e o pai, de estimação, dera-lhe o nome
do bisavô lendário dele.
o que tornou às Flores em secreto das justiças d´El-Rei,
frustrado matador, por se justar,
e construtor ali de igrejas
para vencer no céu os seus pecados.
-- Mas deixemos para outra vez a história do meu tetravô,
esse que os linhasgistas insulanos dão
por falecido em data incerta, em partealifórnia
desconhecida...
Esta, a história do embarque de meu tio António para
                                                              [a América,
começa em Santa Cruz das Flores
 meu avô no abrir de Junho de 1884.
Meu avô na d
espedida abraçou-o e as lágrimas
como chuva escorreram  pelas suas barbas cor de mel.
Ficava só, isto é, sem outro
filho macho à sua beira. E então
 volveu os olhos para os montes e as casas da vila,
ao depois  fitou o mar, a barca toda.
E disse: «Pequeno,
quanto dinheiro troiveste de casa?»
Tirante a passagem, meu tio respondeu ainda tinha
   [quarenta e sete pesos amaricanos parta o carro-de
                     [-fogo mais o bordo do hotel.
«Escuta pequeno: esse restante chega para ambos os dois
      [até passante do porto de Bastão; e lá, por terras
                                          [dentro Deus ajuda.»
Vinte e dois dias vencidos, em Boston, Mass, era domingo,
                                                    [ouviram missa
À tarde beberam como piedosos irlandeses em dia santo
                        [de São Patrício o que deu cabo das cobras,
e sendo noite meu avô levou o moço
a uma casa que tinha uma luz vermelha à porta.
De manhã abalaram, e foi
como se nada daquilo acontecera.
Até à Califórnia trabalharam nos farmes e onde adregava.
Às vezes viajaram escondidos 
nos carros-de-fogo que metiam medo a meu tio António.

Pedro da Silveira

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