quinta-feira, 8 de maio de 2014

1375 - REINALDO FERREIRA - A FERNANDO PESSOA (ELE MESMO)

1375

A FERNANDO PESSOA (ELE MESMO)

Cada verso é uma esfinge ter falado.
Mas quanto mais explícito ela o diz,
Mais tudo permanece inexplicado
É menos se apreende o que ele quis.

Erra um sussuro, tão estéreo e alado
Que nem mesmo silêncio o contradiz.
E o ouví-lo, ou ávido ou irado
Na busca  dum segredo sem raiz,

É como se em pensar -- um descampado --
Passasse fugitiva e intensamente
O tempo todo inteiro projectado

È a sombra ali marcasse, na corrente
Do nada para o nada, inda passado
E já é futuro, a ficção do presente.

Reinaldo Ferreira


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