sábado, 8 de março de 2014

1329 - A MÁSCARA - AUGUSTO GIL

1329

A   M Á S C A R A





Por acaso, parou na minha frente,
De loup e dominó de seda negra,
Uma mulher de olhar resplandecente
E mento breve de figura grega.


Tomei-lhe as mãos esguias entre as minhas ...


E os seus olhos doirados reluziram
Como os punhais ao sol, quando se tiram,
Aguçados e frios, das bainhas.


-- Máscara, quem és tu ?


                            -- E tu quem és ? ...


-- Um homem que te viu e te deseja ...


E um riso bago, de desdém talvez,
floriu na sua boca de cereja.


Ergui-lhe as mãos ascéticas. Beijei-as.


Em vibrações entrecortadas, secas,
Tiniam  taças irisadas, cheias.
E uma frase de amor, toda em colcheias,
Vibrava nas arcadas das rabecas.



Leveia para o vão duma janela.


-- Máscara, quem és tu ?



                                 -- Para que insistes ? ...



Outro riso subiu dos labios dela
Aos olhos enigmáticos e tristes.


E descobriu a face. No capuz
Emoldurou-se um rosto lindo e sério.



Que dif´rente porém do que eu supus !


A gente nunca deve entrar com luz
Nos divinos encantos do mistério ...


AUGUSTO GIL

Sem comentários:

Enviar um comentário