sábado, 8 de março de 2014

1330 - CARLOS DE OLIVEIRA - XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO

1330

XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO

1

Era outrora um conde
que fez um país.
com sangue de moiro,
com laranjas de oiro,
como a sorte quiz.


Há bruxas que dançam
quando a noite dança,

são unhas de nojo,
são bicos de tojo,
no tambor da esperança

Ventos sem destino
que dizeis às ramas ?
Desgraça bramindo
é a nós que chamas.

No país de outrora
um conde teceu,
as laranjas de oiro
são bruxas de agoiro
e fúrias do céu.

Anda o sol de costas
e as bruxas dançando
e os ventos do norte
sobre nós espalhando
as tranças de morte.

As estrelas mortas
apagam-se aos molhos:
vem, lume perdido,
florir-nos os olhos.

2

Ama, estarás ouvindo
a história que vou contando ?
Ó ama pátria dormindo
desde quando ?

Desde tempos e memórias,
desde lágrimas e histórias,
desde raivas e glórias,
agora te estou chorando
e tu dormindo
até quando ?


As bruxas andam lá fora
e eu chorando
versos do país de outrora.

Dançam bruxas a ganir
de mãos dadas com o vento.
Ama, acorda; sopra o lume;
e não me deixes dormir
na noite do pensamento.

XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO









3

Ó castelos moiros,
armas e tesoiros,
quem vos escondeu ?
Ó laranjas de oiro,
que ventos de agoiro
vos apodreceu ?

Há choros, ganidos,
à luz da caverna
onde as bruxas moram,
onde as bruxas dançam
quandravelaso os mochos amam
e as pedras choram.

Caravelas, caravelas,
mortas sobre as estrelas
como candeias sem luz.
E os padres da inquisição
fazendo dos vossos mastros
os braços da nossa cruz.

As bruxas dançam de roda
entre o visco dos morcegos,
dançam de roda raspando
as unhas podres de tojo
na noite morta do povo
como um tambor de rojo

4

E o tempo murchando
à luz de idos loiros.
Ama, até quando
estaremos chorando
os castelos moiros ?

Lá vão naus da Índia,
lá se vão tesoiros.
E as bruxas dançando
e os ventos secando
as laranjas de oiro.

Ama, até quando ?

Na noite das bruxas
olume no fim
e o vento ganindo.

Ama, estarás ouvindo ?

O lume no fim
e os homens dispersos
Ama, tens frio,
cinge-te a mim
e aquece-te ao lume
queimando os meus versos.

CARLOS DE OLIVEIRA




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