sexta-feira, 14 de março de 2014

1340 - BERTOLT BRECHT

1340
(Nº. 10 dos
POEMAS RELACIONADOS COM O
«MANUAL PARA HABITANTES DE CIDADES»)

Sente-se.
Está sentado ?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraido.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem ?
Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.

Você é um idiota.
Está  realmente a escutar-me ?
Não há pois dúvida alguma de que me houve
                                         com clareza edistinção ?
Então 
Repito: você é um idiota.
Um idiota.
I como Isabel, D como Dinis, outro I como Irene,
O  como Orlando, T como Teodoro, A como Ana.


Idiota.

Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada. Não venha com evasivas.
Você é um idiota.
Ponto final.

Aliás não sou o único a dize-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes
Se você não é um I.
E no entanto  não é desinteressante para você
                                             saber o que é
E no entanto é uma desvantagem para você                            não saber o que toda a gente sabe.

Ah sim, acha você que tem exactamente as
                                mesmas ideias do seu parceiro.

Mas também ele é um idiota.
Faça favor, não se condole a dizer
Que há outros I.
Você é um I.

De resto isso não é grave.
É a assim  que você poderá chegar aos 80 anos.
Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.
E então na política !
Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de I você não precisa de se 
                                     preocupar com mais nada.
E você é I.
(formidável, não acha ?)

Você ainda não está ao corrente ?
Quem há-de então dizer-lho ?
O própio  Brecht acha que você é um I.
Por favor, Brecht, você que é um perito
                               na matéria, dê a sua opinião.

Este homem é um I.
Nada mais

Não basta tocar o disco uma só vez.

BERTOLT BRECHT

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