307-No dia 31 de Dezembro do ano 406, os Vândalos cruzaram o Reno para invadir a Gália.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
306-SAFO
306-"Safo" foi uma poetisa grega que viveu em Lesbos*, cuja capital era Mitilene activo centro cultural no século VII a.C., nascida algures entre 630 e 612 a.C. Foi muito respeitada e apreciada durante a Antiguidade, sendo considerada "a décima musa". No entanto, sua poesia, devido ao seu conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copista, e o que restou de sua obra foram escassos fragmentos.
* Foi de Lesbos que teve origem a palavra "Lésbica"
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ha, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
- Rosas, violetas, açafrão -
Trançamos juntas! Multiflores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Atis; os perfumes
Nos cabelos , os óleos raros
Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" ([...}
Cai a lua, caem as pleiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
- Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
- Não volto mais para você,
Para você volto mais não.
* Foi de Lesbos que teve origem a palavra "Lésbica"
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ha, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
- Rosas, violetas, açafrão -
Trançamos juntas! Multiflores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Atis; os perfumes
Nos cabelos , os óleos raros
Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" ([...}
Cai a lua, caem as pleiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
- Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
- Não volto mais para você,
Para você volto mais não.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
305-RENNÉE FLEMING*
305-Nascida em Indiana, Pensilvânia, EUA, em 14 de Fevereiro de 1959, Renée Fleming, é uma famosa soprano americana. Dona de uma flexivel voz de soprano lírico dotada de um timbre aveludado, rico e
de grande facilidade e amplidão no registo agudo.
A partir da Ópera Turandot, de Puccini, at the
Waldbühne concerto 2010
de grande facilidade e amplidão no registo agudo.
A partir da Ópera Turandot, de Puccini, at the
Waldbühne concerto 2010
304-Agostinho da Silva
304-Encarar a Morte É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre formas.
Agostinho da Silva, in "Diário de Alcestes"
sábado, 24 de dezembro de 2011
303-TORNA A SORRIENTO*
303- Telefonou o Tó Manuel e fez alterações no Blog
Sitio do Vale
Torna a Sorriento, esta canção é muito antiga, é da minha
juventude e é muito bonita..
Sitio do Vale
Torna a Sorriento, esta canção é muito antiga, é da minha
juventude e é muito bonita..
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
302-Friedrich Nietzsche
302-A Comédia do Ambicioso
A Comédia do Ambicioso
Um homem que aspira a coisas grandes considera todo aquele que encontra no seu caminho, ou como meio, ou como ratardamento e impedimento - ou como um leito de repouso passageiro. A sua bondade para com os outros, que o caracteriza que é superior, só é possivel quando atinge o seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciencia de, até aqui, estar sempre condenado à comédia pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre, como qualquer meio encobre o fim -, estraga-lhe todo o convívio, esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem demais venenoso.
Friedrich Nietzsche, in "Para Além de Bem e Mal"
Os Fortes Aspiram a Separar-se e os Fracos a Unir-se
Os Fortes Aspiram a Separar-se e os Fracos a Unir-se
O crescimento da comunidade frutifica no indivído um interesse novo que o aparta da sua pena pessoal, da sua aversão à sua própria pessoa. Todos os doentes aspiram institivamente a organizar-se em rebanhos, o sacerdote ascético adivinha este instinto e alenta-os onde quer que haja rebanhos, o instinto de fraqueza forma-os, a habilidade do sacerdote organiza-os. Não nos enganemos: os fortes aspiram a separar-se e os fracos a unir-se; se os primeiros se reunem, é para uma acção agressiva comum, que repugna muito à consciência de cada qual; pelo contrário, os últimos unem-se pelo prazer que acham em unir-se, porque isto satisfaz o seu instinto, assim como irrita o instinto dos fortes. Toda a oligarquia envolve o desejo da tirania: treme continuamente por causa do esforço que cada um dos indivíduos tem que fazer para dominar este desejo.
Friedrich Nietzsche, in "Genealogia da Moral"
Friedrich Nietzsche, in "Genealogia da Moral"
Aprender a Ver
Aprender a Ver
Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao-deixar-que-as coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo , a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preleminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que pôem obstáculos , que isolam.Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder de deferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo - tem que se ragir - seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ser que é a doença, decadêndia , sintoma de esgotamento - quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade filosófica de não reagir. Uma aplicação prática do-ver-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-há a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-há aproximar-se com uma tranquilidade hostil-. - afasta-se dele a mão o ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo facto pequeno, o estar disposto a manter-se, o saltar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa »objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.
Aprender a Ver
Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao-deixar-que-as coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo , a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preleminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que pôem obstáculos , que isolam.Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder de deferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo - tem que se ragir - seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ser que é a doença, decadêndia , sintoma de esgotamento - quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade filosófica de não reagir. Uma aplicação prática do-ver-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-há a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-há aproximar-se com uma tranquilidade hostil-. - afasta-se dele a mão o ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo facto pequeno, o estar disposto a manter-se, o saltar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa »objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.
Friedrich Nietzsche, in "O Crepúsculo dos Ídolos"
domingo, 11 de dezembro de 2011
301-Andre Rieu*
301-Agora vamos ouvir uma menina
com 5 anos de idade a tocar no
piano um minuet de BACH o que
fica bem provado que as mulheres
não se medem aos palmos.
sábado, 10 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
299-JAMES LAST, Katherin Jenkins*
299-James Last "La Isla Bonita"
Katherine Jenkins "L´Amore Sei Tu"
Katherine Jenkins "L´Amore Sei Tu"
(I Will Always Love You)
298-Fransz Kafka, Saint-Exupéry, Steve Jobs
298-NOSSA VERDADE
Nossa Verdade A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extrai-la sempre nova no seu próprio íntimo, caso contrário ele arruina-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.
Nossa Verdade A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extrai-la sempre nova no seu próprio íntimo, caso contrário ele arruina-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.
Franz Kafka, in ´Conversas co´m Kafk´
FELICIDADE COM POUCOS BENS
Felicidade com Poucos Bens Embora a experiência me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse à natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibidades de se enganarem quanto à natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal império ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada, sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a própria fonte do seu fervor.
Felicidade com Poucos Bens Embora a experiência me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse à natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibidades de se enganarem quanto à natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal império ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada, sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a própria fonte do seu fervor.
Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"
SE QUISERMOS VIVER A VIDA DE FORMA CRIATIVA
Se Quisermos Viver a Vida de Forma Criativa. É raro ver-se um artista na casa dos 30 ou dos 40 anos contribuir com alguma coisa realmente extraordinária. É claro que existem algumas pessoas com uma curiosidade inata, que são eternas crianças na maneira como se maravilham com a vida, mas são raras. Os nossos pensamentos constroem padrões semelhantes a dobras na nossa mente. Nós estamos efectivamente a esboçar padrões químicos. Na maioria dos casos, as pessoas ficam presas nesses padrões. como nos sulcos de um disco, e nunca saem deles.
Se Quisermos Viver a Vida de Forma Criativa. É raro ver-se um artista na casa dos 30 ou dos 40 anos contribuir com alguma coisa realmente extraordinária. É claro que existem algumas pessoas com uma curiosidade inata, que são eternas crianças na maneira como se maravilham com a vida, mas são raras. Os nossos pensamentos constroem padrões semelhantes a dobras na nossa mente. Nós estamos efectivamente a esboçar padrões químicos. Na maioria dos casos, as pessoas ficam presas nesses padrões. como nos sulcos de um disco, e nunca saem deles.
Se quisermos viver a vida de forma criativa, como um artista, não podemos olhar muito para trás. Temos de estar dispostos a agarrar naquilo que fizemos, na pessoa que fomos, e deitá-lo fora.
Quanto mais o mundo exterior tenta impor-nos uma imagem nossa, mais difícil é continuarmos a ser um artista, e é por isso que muitas vezes os artistas têm de dizer: «Adeus. Tenho de ir. Estou a ficar maluco e vou sair daqui.» E depois ir hibernar para qualquer lado. Talvez mais tarde, voltemos a emergir de uma maneira um pouco diferente.
Steve Jobs
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
296-SISSEL*
296-A voz da encantadora Sissel na
famosa canção "Over the Rainbow"Judy Garland na mesma canção
quando era ainda muito jovem.
domingo, 4 de dezembro de 2011
295-ZÉ CACILHEIRO*
295-Recordando aquele que foi o grande artista do
teatro ligeiro e que se chamou JOSÉ VIANA
acompanado pelo também actor Carlos Dias
teatro ligeiro e que se chamou JOSÉ VIANA
acompanado pelo também actor Carlos Dias
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
294-O CAVALO DE CALÍGULA
294-Sabedoria de Calígula
Mandei-o descascar batatas,
respondei-me que os astros auguravam bom tempo.
Decididamente era verdade
que o imperador fizera o seu cavalo cônsul.
Jorge de Sena, Peregritatio ad loca infecta (1969)
Mandei-o descascar batatas,
respondei-me que os astros auguravam bom tempo.
Decididamente era verdade
que o imperador fizera o seu cavalo cônsul.
Jorge de Sena, Peregritatio ad loca infecta (1969)
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
293-Millôr Fernandes
293-A AMBIÇÃO SUPERADA
A Ambição Superada Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna. Era, porém, tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou levou para casa.
A Ambição Superada Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna. Era, porém, tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou levou para casa.
A cadeira era tão bonita que os outros móveis, antes tão lindos, começaram a parecer insuportáveis à simpática senhora. (era simpática).
Ela então resolveu vender todos móveis e comprar outros que pudessem se equiparar à maravilhosa cadeira. E vendeu-os e comprou outros.
Mas, então a casa que antes parecia tão bonita, ficou tão bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrantre entre casa e móveis. E a senhora começou a achar a casa horrivel.
E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.
Mas dentro daquela casa magnifica, mobilada de maneira esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E trocou de marido.
Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa magnífica com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo o mundo começou a achá-la extremamente vulgar.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
Mas, então a casa que antes parecia tão bonita, ficou tão bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrantre entre casa e móveis. E a senhora começou a achar a casa horrivel.
E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.
Mas dentro daquela casa magnifica, mobilada de maneira esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E trocou de marido.
Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa magnífica com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo o mundo começou a achá-la extremamente vulgar.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
292-JOSÉ RÉGIO*
292-FADO PORTUGUÊS
o Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
que beija o ar, e mais nada,
Mãe, adeus, Adeus, maria.
guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinhero
que, estanta triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
poema de josé régio
mísica de alain oulman
o Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijosque beija o ar, e mais nada,
Mãe, adeus, Adeus, maria.
guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinhero
que, estanta triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
poema de josé régio
mísica de alain oulman
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
291-EFEMÉRIDES EM 30 DE NOVEMBRO DE 2011
- 291-Em 30 de Novembro de 1939 - Segunda Guerra Mundial: a URSS invade a Finlândia.
- Em 30 de Novembro de 1835 nascia MarkTwain (1835-1910)
- Em 30 de Novembro de 1874 nascia Winston Churchill (1874-1965).
- Em 30 de Novembro de 1900 morreu Oscar Wilde, escritor irlandês (1854-1900).
- Em 30 de Novembro de 1935 morria Fernando Pessoa (1888-1935).
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
290-VERGÍLIO FERREIRA
290-PENSAR O MEU PAÍS
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"
289-ALEXANDRE O´NEILL*
289-GAIVOTA
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
se um portugês marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um andar de novo brilho
no meu coração se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar qe era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Alexandre O´Neill
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
288-Guerra do Ultrmar - Guiné - 11 Nov. 1969*
288- Guiné - imagens que foram
ocultadas aos portugueses.
ocultadas aos portugueses.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
287-AUGUSTO GIL*
287-BALADA DA NEVE
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Que mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Dos pinheiros do caminho ...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha levezaQue mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
terça-feira, 22 de novembro de 2011
286-THOMAS MANN
286-A Beleza Maior é a que não se Vê - Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, senhor Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr.Kloterjhan sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulhers bonitas, senhor Spinell?
- Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...
Thomas Mann, in "Tristão"
285-JOSE CARRERAS E SISSEL KYRKJEBO*
285-Dois a cantar muito bem: ele o famoso tenor Catalão Jose Carreras, e ela, com uma voz muito bonita, a Norueguesa, Sissel Kyrkjebo.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
283-MIGUEL TORGA
283-É Impossível que o Tempo Actual não Seja o Amanhecer doutra Era É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprotera no início dela. Além disso heróica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colónia de bichos que sentem a humidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave.
Miguel Torga, in "Diário (1942)"
282-NATÁLIA CORREIA*
282-A Defesa do Poeta
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armezenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armezenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei
Senhores professores que puseste
a prémio a minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incência da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
NATÁLIA CORREIA
sábado, 19 de novembro de 2011
281-ÁLVARO DE CAMPOS*
281-LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) -
Das ciências, das artes, da civilizão moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu é azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos (1923)
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) -
Das ciências, das artes, da civilizão moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu é azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos (1923)
280-ANTÓNIO RAMOS ROSA*
280-Poema dum funcinário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casa engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só nun quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quinta em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcinário cansado dum dia exemplar
por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flôr rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casa engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só nun quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quinta em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcinário cansado dum dia exemplar
por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flôr rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
279-Millôr Fernandes
279-O Socorro Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não consegiu. levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbracejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, a noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora e cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «o que é que há?»
O coveiro então gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!» «Mas coitado!» - Condoeu-se o bêbado. - «Tem toda a razão de estar com frio.
Aguém tirou a terra toda de cima de voçê, meu pobre mortinho!» E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves verificar muito bem para quem se apela.
Millôr Fernandes, in´Pif-Paf´
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
278-DAVID MOURÃO-FERREIRA*
278-Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
nun presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos.
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
nun presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos.
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal
277-OUTONO
277-Aguarela de Outono
Âmbar, dourado
E fulvo também!
Matiz de Castanho
Lá vem o Outono
Que encanto tamanho...
Na brisa do ar
As folhas ao vento
Quais estrelas cadentes
Aguarela e desejo
São carícias de beijo
No rosto do chão
São húmus, são seiva
Da Mãe Natureza
Em renovação! ...
Âmbar, dourado
E fulvo também!
Matiz de Castanho
Lá vem o Outono
Que encanto tamanho...
Na brisa do ar
As folhas ao vento
Quais estrelas cadentes
Aguarela e desejo
São carícias de beijo
No rosto do chão
São húmus, são seiva
Da Mãe Natureza
Em renovação! ...
276-MARIA ANA BOBONE E RODRIGO COSTA FÉLIX*
276-Hortelã Mourisca: música e letra, Arlindo de Carvalho
Maria Ana Bobone e Rodrigo Costa Félix
As novas gerações de fadistas
a cantar muito em bem o Fado Amália na mesma canção
Maria Ana Bobone "Fadinho Serrano"
terça-feira, 15 de novembro de 2011
275-RALPH WALDO EMERSON
275-O Homem de Carácter
O homem de carácter. Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. O homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opinões, nos acontecimentos e das pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção o pólo sul. O carácer pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
O homem de carácter. Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. O homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opinões, nos acontecimentos e das pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção o pólo sul. O carácer pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
Não podem vislumbrar um princípio, a não ser que este se abrigue noutra pessoa. Não desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas; adoram os acontecimentos; vinculam a este facto, uma conexão, uma certa cadeia de circunstâncias e daí não passam. O grande homem sabe que os eventos são seus servos: estes devem segui-lo.
Uma dada ordem de acontecimentos não tem poder para lhes garantir a satisfação proporcional ou grau de imaginação de que são dotados. O espírito da bondade qualquer série de circunstâncias, ao passo que a prosperidade pertence a um determinado espírito e introduz a força e a vitória, seus frutos naturais, em qualquer ordem de acontecimentos.
(...) Se tremo à opinião pública, como chamamos, ou à ameaça de assalto, ou maus vizinhos, ou à pobreza , ou à mutilação, ou a boatos de revolução, ou de homicídio? Se tremo, que importa a causa? Os nossos próprios vícios tomam formas diversas, de acordo com o sexo, idade, ou temperamento, e, se temente, prontamente nos alarmamos. A cobiça, ou a malícia que me entristecem, quando as atribuo à sociedade, pertencem-me. Estou sempre cercado de mim mesmo. Por outro lado, a rectidão é uma vitória perpétua, celebrada não por gritos de alegria mas com serenidade, que é a alegria permanente ou habiual.
É uma desgraça recorrermos a factos para confirmação da nossa palavra e dignidade. O capitalista não procura o seu corrector a cada instante para tomar conta dos seus lucros, em moeda corrente. Contenta-se em ler nas cotações da Bolsa que as suas acções subiram. O mesmo transporte que a ocorrência melhores acontecimentos me proporcionaria, devo aprender a experimentar, ainda mais puro, na verificação de que a minha posição melhora a cada passo e já comanda os acontecimentos que desejo.Tal exultação só se deteria diante da previsão de uma ordem de coisas tão sinsular que viesse a atirar nas sombras mais profundas todas as nossas conquistas.
Ralph Waldo Emerson, in ´O Carácter´
Ralph Waldo Emerson, in ´O Carácter´
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
274-ARHUR SCHNITZLER
274-Apenas Conhecemos Fragmentos dos Outros Quando te encontras na base de um importante maciço montanhoso, estás longe de conhecer toda a sua diversidade, não tens nenhuma ideia das alturas que se ergueram por trás do seu cimo ou por trás daquele que te parece ser o cimo, não suspeitas nem o perigo dos abismos nem os confortáveis assentos ocultos entre os rochedos. É apenas se sobes e se persegues o teu caminho que se revelam pouco a pouco a teus olhos os segredos da montanha, alguns que esperavas, outros que te surpreendem, uns essenciais, outos insignificantes, tudo isso sempre e unicamente em função da direcção que tomares: e nunca te reverão todas.
O mesmo acontece quando te encontras diante de uma alma humana.
Aquilo que se te oferece ao primeiro olhar, por mais perto que estejas, está longe de ser a verdade e certamente nunca é toda a verdade. É apenas no decurso do caminho, quando os teus olhos se tornam mais penetrantes e nenhuma bruma perturba o teu olhar, que a natureza íntima dessa alma se revela a pouco a pouco e sempre por fragmentos. Aqui é a mesma coisa: à medida que te afastas da zona explorada, toda a diversidade que encontraste no caminho se esbate como um sonho, e quando te voltas uma última vez antes de te afastares, vês apenas de novo um maciço que te surgia falsamente como muito simples, e esse cimo que não era o único que existia.
Apenas a direcção é a realidade: o objectivo é sempre ficção, mesmo quando alcançado - sobretudo neste caso.
Arthur Schnitzler, in ´Observação do Homem´
domingo, 13 de novembro de 2011
273-LINA RODRIGUES*
273-LINA RODRIGUES nasceu na Alemanha a 18 de Abril de 1984. Começou a cantar no Porto, no círculo Portuense de Ópera. Na infância de Lina Rodrigues as suas capacidades vocais e interpretativas assumiram grande destaque quando, com apenas 10 anos foi protagonista da ópera de Gian Carlo Menotti "Amahal e os Visitantes da Noite". Posteriormente e ainda no Círculo Portuense de Ópera, Lina Rodrigues participou também nas óperas "Carmen", "L´Elixir d´Amore" e "La Bohéme". Aos 15 anos iniciou o Curso de Canto no Conservatório de Música do Porto.
Participou naquele programa da RTP 1, que eu próprio
gravei em DVD, quando dos 5 anos da morte de Amália, no Panteão Nacional.
Participou naquele programa da RTP 1, que eu próprio
gravei em DVD, quando dos 5 anos da morte de Amália, no Panteão Nacional.
272-ORTEGA & GASSET
272-O Intelectual e o Político A missão do chamado «intelectual» é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político sói, pelo contrário, consistir em cunfundi-las mais que já estavam. Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um embecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral.
Ortega & Gasset, in ´A Rebelião das Massas´
271-HANNA ARENDT
271-A Realidade da Vida e a Realidade do Mundo A nossa crença da relidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da itensidade com que a vida é experimentada, do impacte com ela se faz sentir.
Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra outra realidade mundana. Já se observou que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as «boas coisas» da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo. O facto é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ónus, as fadigas e as penas da vida.
Hanna Arendt, in ´A Condição Humana´
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