sábado, 19 de novembro de 2011

280-ANTÓNIO RAMOS ROSA*

280-Poema dum funcinário cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casa engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só nun quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão














Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quinta em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcinário cansado  dum dia exemplar
por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flôr rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

António Ramos Rosa

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