terça-feira, 15 de novembro de 2011

275-RALPH WALDO EMERSON

275-O Homem de Carácter

O homem de carácter. Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. O homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opinões, nos acontecimentos e das pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção o pólo sul. O carácer pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.

Não podem vislumbrar um princípio, a não ser que este se abrigue noutra pessoa. Não desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas; adoram os acontecimentos; vinculam a este facto, uma conexão, uma certa cadeia de circunstâncias e daí não passam. O grande homem sabe que os eventos são seus servos: estes devem segui-lo.

Uma dada ordem de acontecimentos não tem poder para lhes garantir a satisfação proporcional ou grau de imaginação de que são dotados. O espírito da bondade qualquer série de circunstâncias, ao passo que a prosperidade  pertence a um determinado espírito e introduz a força e a vitória, seus frutos naturais, em qualquer ordem de acontecimentos.

(...) Se tremo à opinião pública, como chamamos, ou à ameaça de assalto, ou maus vizinhos, ou à pobreza , ou à mutilação, ou a boatos de revolução, ou de homicídio? Se tremo, que importa a causa? Os nossos próprios vícios tomam formas diversas, de acordo com o sexo, idade, ou temperamento, e, se temente, prontamente nos alarmamos. A cobiça, ou a malícia que me entristecem, quando as atribuo à sociedade, pertencem-me.  Estou sempre cercado de mim mesmo. Por outro lado, a rectidão é uma vitória perpétua, celebrada não por gritos de alegria mas com serenidade, que é a alegria permanente ou habiual.

É uma desgraça recorrermos a factos para confirmação da nossa palavra e dignidade. O capitalista não procura o seu corrector  a cada instante para tomar conta dos seus lucros, em moeda corrente. Contenta-se em ler nas cotações da Bolsa que as suas acções subiram. O mesmo transporte que a ocorrência melhores acontecimentos  me proporcionaria, devo aprender  a experimentar, ainda mais puro, na verificação de que a minha posição melhora a cada passo e já comanda os acontecimentos que desejo.Tal exultação só se deteria diante da previsão de uma ordem de coisas tão sinsular que viesse a atirar nas sombras mais profundas todas as nossas conquistas.

Ralph Waldo Emerson, in ´O Carácter´

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