domingo, 20 de novembro de 2011

282-NATÁLIA CORREIA*

282-A Defesa do Poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo  uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo  do impossível um lápis

de armezenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código  o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei
Senhores professores que puseste
a prémio a minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incência da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

NATÁLIA CORREIA

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