287-BALADA DA NEVE
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Que mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Dos pinheiros do caminho ...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha levezaQue mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
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