domingo, 13 de novembro de 2011

271-HANNA ARENDT

271-A Realidade da Vida e a Realidade do Mundo A nossa crença da relidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência  e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da itensidade com que a vida é experimentada, do impacte com ela se faz sentir.

Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra outra realidade mundana. Já se observou que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as «boas coisas» da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo. O facto é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade  de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ónus, as fadigas e as penas da vida.

Hanna Arendt, in ´A Condição Humana´

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