279-O Socorro Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não consegiu. levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbracejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, a noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora e cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «o que é que há?»
O coveiro então gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!» «Mas coitado!» - Condoeu-se o bêbado. - «Tem toda a razão de estar com frio.
Aguém tirou a terra toda de cima de voçê, meu pobre mortinho!» E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves verificar muito bem para quem se apela.
Millôr Fernandes, in´Pif-Paf´
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