quarta-feira, 2 de novembro de 2011

250-FERNANDO NAMORA

250-Todo Mal Provém não da Privação mas do Supérfluo  Ser feliz é, afinal, não esperar muito da felicidade, ser feliz é ser simples, desambicioso, é saber dosear as aspirações até aquela medida que põe o que deseja ao nosso alcance. Pego do novo em Tolstoi, que vem sendo em mim um padrão tutelar, lembremos de novo um dos seus heróis, o príncipe Pedro Bezoukhov (do romance  (Guerra e Paz´)As circunstâncias fizeram-nos conviver no cativeiro com um símbolo da sabedoria popular, um tal karataiev. Pois esse companheirismo desinteressado e genuimo, o encontro com a vida crua mas desmistificadora, não só modificaram o príncipe Pedro como lhe revelaram o que ele precisava de saber para atingir o que nós, pobres humanos, debalde perseguimos: a coerência, a pacificação, interior que são correlativos da desventura.

Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero, isto, aliás, nos é transmitido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelarnos com esta síntese desoladora «Todos lutam, todos sofrem e se amgustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugases».

Fernando Namora, in ´Sentados na Relva´

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