quarta-feira, 9 de novembro de 2011

264-FIODOR DOSTOIEVSKI

264-Os Verdadeiros Burros e os Falsos Loucos O mais esperto dos homens é aquele que, pelo menos no meu  parecer, espontaneamente, uma vez por mês, no mínimo, se chama a si de asno... coisa que hoje em dia constitui uma raridade inaudita. Outrora dizia-se do burro, pelo menos uma vez por ano, que ele o era, de facto; mas hoje... nada disso. E a tal ponto tudo hoje está mudado que, valha-me Deus!; não há maneira certa de destinguirmos o homem de talento do inbecil. Coisa que, naturalmente, obedece a um propósito.
Acabo de me lembrar, a propósito, de uma anedota espanhola. Coisa de dois séculos e meio passados dizia-se em Espanha, quando franceses construiram o primeiro manicómio: «Fecharam  num lugar parte de todos os seus doidos para nos fazerem acreditar que têm juízo». Os espanhóis têm razão: quando fechamos os outros num manicómio, pretendemos demonstrar que estamos em nosso prefeito juízo. «X endoideceu ...; portanto nós temos o nosso juízo no seu lugar». Não: há tempos já que a conclusão não é lícita.

Fiodor Dostoievski, in "Diário de um Escritor"

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