290-PENSAR O MEU PAÍS
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"
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