- 291-Em 30 de Novembro de 1939 - Segunda Guerra Mundial: a URSS invade a Finlândia.
- Em 30 de Novembro de 1835 nascia MarkTwain (1835-1910)
- Em 30 de Novembro de 1874 nascia Winston Churchill (1874-1965).
- Em 30 de Novembro de 1900 morreu Oscar Wilde, escritor irlandês (1854-1900).
- Em 30 de Novembro de 1935 morria Fernando Pessoa (1888-1935).
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
291-EFEMÉRIDES EM 30 DE NOVEMBRO DE 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
290-VERGÍLIO FERREIRA
290-PENSAR O MEU PAÍS
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Pensar o Meu País Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tinham pensado, pensáramos apena os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de ser grosseiro, sem ao menos se ter rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave do coco, mas que assume a gravidade e o ridículo de viver nela. Nós somo sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguísta, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco - e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"
289-ALEXANDRE O´NEILL*
289-GAIVOTA
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
se um portugês marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um andar de novo brilho
no meu coração se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar qe era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Alexandre O´Neill
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
288-Guerra do Ultrmar - Guiné - 11 Nov. 1969*
288- Guiné - imagens que foram
ocultadas aos portugueses.
ocultadas aos portugueses.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
287-AUGUSTO GIL*
287-BALADA DA NEVE
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Que mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
Batem leve, levement,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancilia
Dos pinheiros do caminho ...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha levezaQue mal se houve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por enttr os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem é já pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?! ...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto Gil,in "Luar de Janeiro"
terça-feira, 22 de novembro de 2011
286-THOMAS MANN
286-A Beleza Maior é a que não se Vê - Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, senhor Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr.Kloterjhan sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulhers bonitas, senhor Spinell?
- Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...
Thomas Mann, in "Tristão"
285-JOSE CARRERAS E SISSEL KYRKJEBO*
285-Dois a cantar muito bem: ele o famoso tenor Catalão Jose Carreras, e ela, com uma voz muito bonita, a Norueguesa, Sissel Kyrkjebo.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
283-MIGUEL TORGA
283-É Impossível que o Tempo Actual não Seja o Amanhecer doutra Era É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprotera no início dela. Além disso heróica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colónia de bichos que sentem a humidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave.
Miguel Torga, in "Diário (1942)"
282-NATÁLIA CORREIA*
282-A Defesa do Poeta
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armezenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armezenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei
Senhores professores que puseste
a prémio a minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incência da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
NATÁLIA CORREIA
sábado, 19 de novembro de 2011
281-ÁLVARO DE CAMPOS*
281-LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) -
Das ciências, das artes, da civilizão moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu é azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos (1923)
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) -
Das ciências, das artes, da civilizão moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu é azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos (1923)
280-ANTÓNIO RAMOS ROSA*
280-Poema dum funcinário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casa engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só nun quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quinta em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcinário cansado dum dia exemplar
por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flôr rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casa engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só nun quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quinta em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcinário cansado dum dia exemplar
por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flôr rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
279-Millôr Fernandes
279-O Socorro Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não consegiu. levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbracejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, a noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora e cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «o que é que há?»
O coveiro então gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!» «Mas coitado!» - Condoeu-se o bêbado. - «Tem toda a razão de estar com frio.
Aguém tirou a terra toda de cima de voçê, meu pobre mortinho!» E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves verificar muito bem para quem se apela.
Millôr Fernandes, in´Pif-Paf´
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
278-DAVID MOURÃO-FERREIRA*
278-Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
nun presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos.
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
nun presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos.
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal
277-OUTONO
277-Aguarela de Outono
Âmbar, dourado
E fulvo também!
Matiz de Castanho
Lá vem o Outono
Que encanto tamanho...
Na brisa do ar
As folhas ao vento
Quais estrelas cadentes
Aguarela e desejo
São carícias de beijo
No rosto do chão
São húmus, são seiva
Da Mãe Natureza
Em renovação! ...
Âmbar, dourado
E fulvo também!
Matiz de Castanho
Lá vem o Outono
Que encanto tamanho...
Na brisa do ar
As folhas ao vento
Quais estrelas cadentes
Aguarela e desejo
São carícias de beijo
No rosto do chão
São húmus, são seiva
Da Mãe Natureza
Em renovação! ...
276-MARIA ANA BOBONE E RODRIGO COSTA FÉLIX*
276-Hortelã Mourisca: música e letra, Arlindo de Carvalho
Maria Ana Bobone e Rodrigo Costa Félix
As novas gerações de fadistas
a cantar muito em bem o Fado Amália na mesma canção
Maria Ana Bobone "Fadinho Serrano"
terça-feira, 15 de novembro de 2011
275-RALPH WALDO EMERSON
275-O Homem de Carácter
O homem de carácter. Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. O homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opinões, nos acontecimentos e das pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção o pólo sul. O carácer pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
O homem de carácter. Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. O homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opinões, nos acontecimentos e das pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção o pólo sul. O carácer pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
Não podem vislumbrar um princípio, a não ser que este se abrigue noutra pessoa. Não desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas; adoram os acontecimentos; vinculam a este facto, uma conexão, uma certa cadeia de circunstâncias e daí não passam. O grande homem sabe que os eventos são seus servos: estes devem segui-lo.
Uma dada ordem de acontecimentos não tem poder para lhes garantir a satisfação proporcional ou grau de imaginação de que são dotados. O espírito da bondade qualquer série de circunstâncias, ao passo que a prosperidade pertence a um determinado espírito e introduz a força e a vitória, seus frutos naturais, em qualquer ordem de acontecimentos.
(...) Se tremo à opinião pública, como chamamos, ou à ameaça de assalto, ou maus vizinhos, ou à pobreza , ou à mutilação, ou a boatos de revolução, ou de homicídio? Se tremo, que importa a causa? Os nossos próprios vícios tomam formas diversas, de acordo com o sexo, idade, ou temperamento, e, se temente, prontamente nos alarmamos. A cobiça, ou a malícia que me entristecem, quando as atribuo à sociedade, pertencem-me. Estou sempre cercado de mim mesmo. Por outro lado, a rectidão é uma vitória perpétua, celebrada não por gritos de alegria mas com serenidade, que é a alegria permanente ou habiual.
É uma desgraça recorrermos a factos para confirmação da nossa palavra e dignidade. O capitalista não procura o seu corrector a cada instante para tomar conta dos seus lucros, em moeda corrente. Contenta-se em ler nas cotações da Bolsa que as suas acções subiram. O mesmo transporte que a ocorrência melhores acontecimentos me proporcionaria, devo aprender a experimentar, ainda mais puro, na verificação de que a minha posição melhora a cada passo e já comanda os acontecimentos que desejo.Tal exultação só se deteria diante da previsão de uma ordem de coisas tão sinsular que viesse a atirar nas sombras mais profundas todas as nossas conquistas.
Ralph Waldo Emerson, in ´O Carácter´
Ralph Waldo Emerson, in ´O Carácter´
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
274-ARHUR SCHNITZLER
274-Apenas Conhecemos Fragmentos dos Outros Quando te encontras na base de um importante maciço montanhoso, estás longe de conhecer toda a sua diversidade, não tens nenhuma ideia das alturas que se ergueram por trás do seu cimo ou por trás daquele que te parece ser o cimo, não suspeitas nem o perigo dos abismos nem os confortáveis assentos ocultos entre os rochedos. É apenas se sobes e se persegues o teu caminho que se revelam pouco a pouco a teus olhos os segredos da montanha, alguns que esperavas, outros que te surpreendem, uns essenciais, outos insignificantes, tudo isso sempre e unicamente em função da direcção que tomares: e nunca te reverão todas.
O mesmo acontece quando te encontras diante de uma alma humana.
Aquilo que se te oferece ao primeiro olhar, por mais perto que estejas, está longe de ser a verdade e certamente nunca é toda a verdade. É apenas no decurso do caminho, quando os teus olhos se tornam mais penetrantes e nenhuma bruma perturba o teu olhar, que a natureza íntima dessa alma se revela a pouco a pouco e sempre por fragmentos. Aqui é a mesma coisa: à medida que te afastas da zona explorada, toda a diversidade que encontraste no caminho se esbate como um sonho, e quando te voltas uma última vez antes de te afastares, vês apenas de novo um maciço que te surgia falsamente como muito simples, e esse cimo que não era o único que existia.
Apenas a direcção é a realidade: o objectivo é sempre ficção, mesmo quando alcançado - sobretudo neste caso.
Arthur Schnitzler, in ´Observação do Homem´
domingo, 13 de novembro de 2011
273-LINA RODRIGUES*
273-LINA RODRIGUES nasceu na Alemanha a 18 de Abril de 1984. Começou a cantar no Porto, no círculo Portuense de Ópera. Na infância de Lina Rodrigues as suas capacidades vocais e interpretativas assumiram grande destaque quando, com apenas 10 anos foi protagonista da ópera de Gian Carlo Menotti "Amahal e os Visitantes da Noite". Posteriormente e ainda no Círculo Portuense de Ópera, Lina Rodrigues participou também nas óperas "Carmen", "L´Elixir d´Amore" e "La Bohéme". Aos 15 anos iniciou o Curso de Canto no Conservatório de Música do Porto.
Participou naquele programa da RTP 1, que eu próprio
gravei em DVD, quando dos 5 anos da morte de Amália, no Panteão Nacional.
Participou naquele programa da RTP 1, que eu próprio
gravei em DVD, quando dos 5 anos da morte de Amália, no Panteão Nacional.
272-ORTEGA & GASSET
272-O Intelectual e o Político A missão do chamado «intelectual» é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político sói, pelo contrário, consistir em cunfundi-las mais que já estavam. Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um embecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral.
Ortega & Gasset, in ´A Rebelião das Massas´
271-HANNA ARENDT
271-A Realidade da Vida e a Realidade do Mundo A nossa crença da relidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da itensidade com que a vida é experimentada, do impacte com ela se faz sentir.
Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra outra realidade mundana. Já se observou que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as «boas coisas» da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo. O facto é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ónus, as fadigas e as penas da vida.
Hanna Arendt, in ´A Condição Humana´
sábado, 12 de novembro de 2011
270-RAQUEL PETERS*
270-Alguns dados biográficos: Raquel Peters nasceu em Albufeira em 14 de Junho de 1984. Pode considerar-se que os primeiros passos como cantora foram dados com 12 anos, tendo por essa época participado e vencido concursos de fado de Albufeira, Lagos, Portimão, vila do Bispo e Loulé.
No seu currículo estão cerca de 10 anos de estudos musicais nas disciplinas de canto, piano e formação musical, nos conservatórios de Música de Faro e de Albufeira, tendo chegado a gravar um álbum como integrante do Grupo Coral de Música Tradicional Portuguesa do Conservatório de Albufeira, editado em 2002 pela InforArte, onde interpretou como solista os temas "Amália (com letra de José Galhardo e Frederico Valério) e "Mãe Petra" (letra de Piratini).
As actuações levaram-na para além fronteiras, visitando Brasil, Cabo Verde, França e Espanha.
O primeiro brilho a nível nacional surge em Outubro de 2004, dia em, convidada pelo fadista João Braga, partecipou no especial televisivo "Amália...É impossível Esquecê-la", programa com transmissão do Canal 1 da RTP, a partir do Panteão Nacional, na data em que assinalavam cinco anos desde a morte de Amália. (GRAVEI ESTE PROGRAMA EM DVD)
269-VERGÍLIO FERREIRA
269-Um país de canalhas
Pensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-se de insultos e de escárnio , como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o vazio. O segredo da nossa história está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas qando ele existe pelos outros, é o caos e o serrabulho. Não há por aí um original para servir?
Vergílio Ferreira, in ´A Conta-Corrente 2´
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
268-Jules Mazarim
268-A um Amigo não se Empresta nem se Compra Nada peças emprestado a um amigo: pode ser que não possua aquilo que faz crer a toda a gente que tem e, assim desmascarado, odiar-te-ia. De igual modo, se consentir contra a sua vontade ou se não recuperar o que lhe pertence em perfeito estado, guardar-te-á rancor. Tão-pouco compres a um amigo o que quer que seja: se pedir um preço demasiado elevado, serás defraudado, se o preço for demasiado baixo, ficará ele e perder. Em ambos os casos, a vossa amizade ressentir-se-á.
Jules Mazarim, in "Breviário dos Políticos"
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
266-DAVID HUME
266-O Todo não Representa Nada Olhem em redor deste universo. Que enorme profusão de seres, animados e organizados, sensíveis e activos! Vocês admiram esta extraordinária variedade e fecundidade. Mas inspeccionen mais atentamente estas existências vivas, os únicos seres que merecem ser observados. Como são hostis e destrutivos uns para os outros! Como todos são insuficientes para a sua própria felicidade! Como são desprezíveis ou abomináveis para o espectador! O todo não representa nada a não ser a ideia de uma natureza cega. impregnada de um grande princípio estimulante, e vertendo do regaço, sem descernimento nem cuidado paternal, os seus filhos mutilados e abortivos.
David Hume, in ´Diálogos Sobre a Religião Natural´
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
265-A COLIGAÇÃO QUE METEU PORTUGAL NO LIXO*
265-OS MEUS CUMPRIMENTOS À COLIGAÇÃO GOVERNAMENTAL, FORAM OS PRIMEIROS 900 ANOS DE HISTÓRIA QUE METERAM PORTUGAL NO LIXO.
ASSIM FICARÃO NA HISTÓRIA
Amália Rodrigues - "Cantiga da Boa Gente"
ASSIM FICARÃO NA HISTÓRIA
Amália Rodrigues - "Cantiga da Boa Gente"
264-FIODOR DOSTOIEVSKI
264-Os Verdadeiros Burros e os Falsos Loucos O mais esperto dos homens é aquele que, pelo menos no meu parecer, espontaneamente, uma vez por mês, no mínimo, se chama a si de asno... coisa que hoje em dia constitui uma raridade inaudita. Outrora dizia-se do burro, pelo menos uma vez por ano, que ele o era, de facto; mas hoje... nada disso. E a tal ponto tudo hoje está mudado que, valha-me Deus!; não há maneira certa de destinguirmos o homem de talento do inbecil. Coisa que, naturalmente, obedece a um propósito.
Acabo de me lembrar, a propósito, de uma anedota espanhola. Coisa de dois séculos e meio passados dizia-se em Espanha, quando franceses construiram o primeiro manicómio: «Fecharam num lugar parte de todos os seus doidos para nos fazerem acreditar que têm juízo». Os espanhóis têm razão: quando fechamos os outros num manicómio, pretendemos demonstrar que estamos em nosso prefeito juízo. «X endoideceu ...; portanto nós temos o nosso juízo no seu lugar». Não: há tempos já que a conclusão não é lícita.
Fiodor Dostoievski, in "Diário de um Escritor"
terça-feira, 8 de novembro de 2011
262-ALBERT EINSTEIN
262-Vencer o Mundo da Vida Banal De início creio, como Schopenhauer, que um dos motivos mais fortes conduzindo à arte e à ciência é o desejo de evasão da existência terra terra com a sua aspereza dolorosa e o seu desolado vazio, da libertação das peias dos próprios desejos eternamente volúveis. É uma força impelindo os que a ela são sensíveis a sair da existência pessoal para o mundo da contemplação e da compreensão objectiva; esso motivo é semelhante à atracção, que leva o habitante da cidade irresistinvelmente a saír do seu ambiente barulhento e cunfuso e procurar a paisagem calma dos montes,onde o olhar se espraia pelo ar tranquilo e puro e acaricia as linhas calmas, que parecem ter sido criadas pela eternidade. A esse motivo negativo, porém, alia-se outro positivo. O homem procura formar para si, de qualquer modo adequado, uma imagem simples e clara do mundo e vencer assim o mundo da vida banal tentando substituí-lo, até certo grau, por essa imagem. É o que faz o pintor, o poeta, o filósofo especulativo e o cientista da natureza, cada um à sua maneira. É desta imagem e da sua conformação que ele faz o centro da sua vida afectiva, para procurar tranquilidade e segurança que não consegue encontrar no turbilhão demasiado estreito da experiência pessoal.
Albert Einstein in ´Como Vejo o Mundo´
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
261-ALEXIS CARREL
261-O Homem Deveria ser a Medida de Tudo O homem deveria ser a medida de tudo. De facto, ele é um estranho do mundo que criou. Não soube organizar este mundo para ele, porque não possuia um conhecimento da sua própria natureza. O enorme avanço das ciências das coisas inanimadas em relação às dos seres vivos, é, portanto, um dos acontecimentos mais trágicos da história da humanidade. O meio construido pela nossa inteligência e pelas nossas intenções não se ajusta às nossas dimensões nem à nossa forma. Não nos serve. Sentimo-nos infelizes. Degeneramos moralmente e mentalmente.
São precisamente os grupos e as nações em que a civilização industrial atingiu o apogeu que mais enfraquecem. Neles, o retorno à barbárie é mais rápido. Permanecem sem defesa perante o meio adverso que a ciência lhes formeceu. Na verdade, a nossa civilização, tal como as que a antederam, criou condições em que, por razões que não conhecemos exactamente, a própria vida se torna impossivel. A inquietação e a infelicidade dos habitantes da nova cidade, têm origem nas instituições políticas, económicas e sociais, mas sobretudo na sua própria degradação. São vítimas do atraso das ciências da vida em relação às da matéria.
Alexis Carrel in ´O Homem esse Desconhecido´
São precisamente os grupos e as nações em que a civilização industrial atingiu o apogeu que mais enfraquecem. Neles, o retorno à barbárie é mais rápido. Permanecem sem defesa perante o meio adverso que a ciência lhes formeceu. Na verdade, a nossa civilização, tal como as que a antederam, criou condições em que, por razões que não conhecemos exactamente, a própria vida se torna impossivel. A inquietação e a infelicidade dos habitantes da nova cidade, têm origem nas instituições políticas, económicas e sociais, mas sobretudo na sua própria degradação. São vítimas do atraso das ciências da vida em relação às da matéria.
Alexis Carrel in ´O Homem esse Desconhecido´
domingo, 6 de novembro de 2011
259-Mohandas Gandhi
259-Sempre que Tiveres Dúvidas Sempre que tiveres dúvidas ou quando o teu eu te pesar em excesso, experimenta o seguinte o recurso: lembra-te do rosto do homem mais podre e mais desamparado que alguma vez tenhas visto e pergunta-te o passo que pretendes dar lhe vai servir de alguma utilidade. Poderá ganhar alguma coisa com isso? Fará com que recupere da sua vida e o seu destino? Por outras palavras conduzirá à autonomia espiritual e física dos milhões de pessoas que morrem de fome? Verás. então, como as tuas dúvidas e o teu eu se desvanecem.
Mohanda Ghandi in´The Words of Gandlu´
258-SIMONE WEIL
258-Conta só contigo Encontrarmo-nos diante das coisas liverta o espírito. Encontrarmo-nos diante dos homens e de, dependermos deles, avilta, e tal acontece, quer esta dependência tenha a forma da submissão, quer da autoridade.
Porquê estes homens entre mim e a natureza?
Nunca ter de contar com um pensamento desconhecido...(porque, nesse caso, somos abandonados ao acaso).
Remédio: fora dos laços fraternos, tratar os homens como um espectáculo e nunca provocar a amizade. Viver no meio dos homens como vagão Saint- Etienne a Pay... Sobretudo nunca permitir-se desejar a amizade. Tudo se paga. Conta só contigo.
Simone Weil in´A Gravidade e a Graça´
sábado, 5 de novembro de 2011
257-FRASES QUE FAZEM PENSAR
- 257-Amar consisto em fazer a felicidade dos outros. (Leibniz)
- Fazer sobrer é a única maneira de errar. (Albert Camus)
- Quem não duvida não pode conhecer a verdade. (Saavedra Fajardo)
- A felicidade é como o sol, mas até o sol tem manchas. (Phil Bosnans)
- Viver para os outros é não só a lei do dever mas também a lei da felicidade. (A.Comte)
- A astúcia tem muitos vestidos; a verdade gosta de andar nua. (Thomas Fuller)
- É preciso saber olhar para os olhos de uma criança para saber o que vai na alma.(Torrente Ballastere)
- O melhor investimento que um país pode fazer é nas suas crianças. (Carol Bellamy)
255-FERNANDO PESSOA
255-EGOÍSMO RELATIVO Por mim, o meu egoísmo é a superfície da minha dedicação. O meu espírito vive constantemente no estudo e no cuidado da minha Verdade no escrúpulo de deixar, quando eu despir a veste que me liga a este mundo, uma obra que sirva o progresso e o bem da Humanidade. Reconheço que o sentido intelectual que esse Serviço da Humanidade toma em mim, em virtude do meu temperamento, me afasta, muitas vezes, das pequenas manifestações que em geral reveram o espírito humanitário. Os actos de caridade, a dedicação por assim dizer quotidiana são cousas que raras vezes aparecem em mim, embora nada haja em mim que represente a negação delas.
Em todo caso reconheço, em justiça para comigo próprio, que não sou mais egoísta que a maioria dos indivíduos e muito sou o que a maioria dos meus colegas das artes e das letras. Pareço egoísta àqueles que por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo.
Fernando Pessoa in ´Notas Autobiográficas e de Autognose´
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
253-SÉNECA
253-A Justiça em Estado Puro Quero que me ensinem também o valor sagrado da justiça - Da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para a mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática. A justiça nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos próprios olhos. Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal. Não há que pensar qual virá a ser o prémio de um acto justo; o maior prémio está no facto de ele ser praticado. Mas também na tua ideia aquilo que há pouco te dizia: não intessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça. Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si. Não queres ser justo sem gozares da fama de o seres? Pois fica sabenbo: muitas vezes não poderás ser justo sem que façam mau juízo de ti! Em tal circunstância, se te comportares como sábio, até sentirás prazer em ser mal julgado por uma causa nobre!
Séneca in `Cartas a Lucílio`
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
252-JOHANN WOLFGANG VON GOETHE
252-Todos Pensam de Forma Difente e Muitas Vezes Efêmera Cada indivíduo vê o mundo - e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito - como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado às suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem e hesitações e procuram na medida do possível comportar-se de acordo com ele. Há outros que não se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E há ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existência do mundo.
Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, que as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidede pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também o propósito de assuntos que nos são totalmente indefentes.
Johann Wolfgang von Goehte in ´Máximas e Reflexões`
Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, que as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidede pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também o propósito de assuntos que nos são totalmente indefentes.
Johann Wolfgang von Goehte in ´Máximas e Reflexões`
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
250-FERNANDO NAMORA
250-Todo Mal Provém não da Privação mas do Supérfluo Ser feliz é, afinal, não esperar muito da felicidade, ser feliz é ser simples, desambicioso, é saber dosear as aspirações até aquela medida que põe o que deseja ao nosso alcance. Pego do novo em Tolstoi, que vem sendo em mim um padrão tutelar, lembremos de novo um dos seus heróis, o príncipe Pedro Bezoukhov (do romance (Guerra e Paz´). As circunstâncias fizeram-nos conviver no cativeiro com um símbolo da sabedoria popular, um tal karataiev. Pois esse companheirismo desinteressado e genuimo, o encontro com a vida crua mas desmistificadora, não só modificaram o príncipe Pedro como lhe revelaram o que ele precisava de saber para atingir o que nós, pobres humanos, debalde perseguimos: a coerência, a pacificação, interior que são correlativos da desventura.
Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero, isto, aliás, nos é transmitido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelarnos com esta síntese desoladora «Todos lutam, todos sofrem e se amgustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugases».
Fernando Namora, in ´Sentados na Relva´
terça-feira, 1 de novembro de 2011
249-VERGÍLIO FERREIRA
249-No Fundo Somos Bons Mas Abusam de Nós O comum das gentes (de Portugal) que eu não chamo povo porque o nome foi estragado, o seu fundo comum é bom. Mas é exactamente porque é bom, que abusam dele. Os próprios vícios vêm da sua ingenuidade, que é onde a bondade também mergulha. Só que precisa sempre de lhe dizerem onde aplicá-la. Nós somos por instinto, com intermitências de consciência, com uma generosidade e delicadeza incontroláveis até ao ridiculo, astutos, comunicáveis até ao dislate, corajosos até à temeridade, orgulhosos até à petulância, humildes até à subserviência e ao complexo de inferidade. As nossas virtudes têm assim o seu lado negativo, ou seja, o seu vício. É normalmente se explora para o pitoresco, o ruralismo edificante, o sorriso superior. Toda a nossa literatura popular é disso que vive.
Mas, no fim de contas, que é que significa cultivarmos a nossa singularidade
na «civilzação planetária»? Que significa o regionalismo da rádio e da TV? O rasoiro que nivela a província é o que igualiza as nações. A anulação do indivíduo de facto é o nosso imediato horizonte. Estrutaralismo, linguística, freudismo, comunismo, tecnocracia são faces da mesma relidade. Como no Egipto, na Grécia, na Idade Média, o indivíduo submerge-se no colectivo. A diferença é que esse colectivo é hoje o puro vazio.
Vergílo Ferreira, in `Conta-Corrente 2`
248-MIGUEL TORGA
248-Uma discussão nesta Santa Terra Portuguesa Acaba sempre aos Berros Não há maneira. Por maior boa vontade que tenham todos, uma discussão nesta santa terra portuguesa acaba sempre aos berros e aos insultos. Ninguém é capaz de expor as suas razões sem a convicção de que diz a última palavra. E a desgraça é a que a esta presunção do espírito se junta ainda a nossa tendência apostólica, que onde sente um náufrago tem de o salvar. O resultado é tornar-se impossível qualquer colaboração das ideias, o alargamento de cultura e de gosto, e dar-se uma trágica concentração de tudo na mesquinhez do individual.
Miguel Torga, in "Diário (1940)"
Miguel Torga, in "Diário (1940)"
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